'Oppenheimer' em 35mm: um acontecimento para os cinéfilos no Uruguai
A produção tem Cillian Murphy, ator de Peaky Blinders, como J. Robert Oppenheimer, criador da bomba atômica
16:00 | Ago. 12, 2023
"Temos uma notícia bombástica!", assim foi anunciada a estreia de "Oppenheimer" (2023) numa película de 35 milímetros na Cinemateca Uruguaya, um acontecimento para os cinéfilos do país, um dos quatro da América Latina em que o filme pode ser visto neste formato.
Em 20 de julho, quando o longa-metragem sobre o "pai" da bomba atômica, J. Robert Oppenheimer, estreou nas salas de cinema, o Uruguai não exibia um filme em fita tradicional há uma década, pois a indústria cinematográfica substituiu o formato pela tecnologia digital.
"Tudo decorre do fato de Christopher Nolan, que filma em celulóide e é um ativista da proteção dos arquivos cinematográficos, pede que em todos os países onde possa ser projetado em filme, em 70mm ou 35mm, seja feito assim", disse à AFP Lorena Pérez, coordenadora do Arquivo Cinematográfico da Cinemateca Uruguaya.
O cineasta britânico, que dirigiu "Amnésia" (2000), "Dunkirk" (2017) e a trilogia "Batman", filmou "Oppenheimer" em alta resolução para exibição ideal em 70mm, prática pouco comum.
No entanto, a Cinemateca Uruguaya, uma instituição privada que exibe regularmente seus filmes em fita, reúne condições de exibir a produção em 35mm, um formato que respeita muito mais a obra original do que o digital.
De acordo com Pérez, existe uma gama muito maior entre as cores, fazendo com que sobressaia ainda mais.
"No filme, os pretos são mais pretos e os brancos são mais brancos e entre eles há uma gama muito maior. E quando projetado, cada quadro é diferente. O digital é muito mais linear. Não é melhor nem pior, é diferente", explica, ressaltando que o diretor idealizou "Oppenheimer" para ser visto em uma tela grande como a do cinema.
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Oppenheimer: uma “espécie de DJ”
"São nove rolos, é um filme longo", diz o projecionista Martín Ramírez ao posicionar os dois primeiros no projetor, momentos antes de ser exibido na sessão.
Os dois projetores Kinoton permitem evitar a emenda das fitas. Quando o rolo de 20 minutos está prestes a terminar, uma marca indica quando iniciar o seguinte.
"Somos como uma espécie de DJ e as mudanças têm que sair da melhor forma. A ideia é que não seja notado", acrescenta Ramírez sobre o ofício que aprendeu na prática há 12 anos, embora atualmente o considere "em extinção". Para o projecionista de 47 anos, assistir filmes em 35mm tem um pouco do "charme de ouvir vinil".
"Quando acaba o primeiro rolo, ele é rebobinado para o dia seguinte e assim acontece com todos. Por isso o trabalho é um pouco mecânico, ainda requer muita atenção", continua, enquanto o som do filme se mistura com o zumbido do projetor.
Um desafio adicional de sua exibição é que a cópia requer legendas eletrônicas em espanhol. "Tem uma pessoa na sala com um computador, com as legendas já traduzidas e quando troco os rolos, elas têm que caber", diz ele.
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Oppenheimer: Argentina, Equador e México
O filme também está sendo exibido em 35mm em Argentina, Equador e México, de acordo com dados do escritório regional da Universal Studios. Cópias deste formato também foram enviadas a Hong Kong, Austrália e diversos países europeus, como Alemanha, Itália e Reino Unido.
No Uruguai, a recepção do público de "Oppenheimer" superou as expectativas.
Ao final da terceira semana de exibição, mais de 2.300 pessoas já haviam assistido ao longa em 35mm, com "quase 100% da ocupação em cada sessão", afirmou à AFP Carlos Parodi, gerente de vendas da RBS, distribuidora do filme no país.
"Trazer a cópia para o Uruguai custou 4.500 dólares (cerca de 22 mil reais), mas [o valor] já foi recuperado pela bilheteria da Cinemateca", disse, acrescentando que o Uruguai é um país "cinéfilo".
A Cinemateca Uruguaya surgiu em 1952 das mãos de membros de um cineclube que queriam ter acesso a mais cópias. Em 1972, se transformou em uma associação civil sem fins lucrativos e uma referência cultural.
Atualmente conta com mais de 15 mil obras em fita e três salas de exibição no moderno complexo inaugurado em 2018. "Sem dúvidas é muito impressionante. É uma das primeiras vezes que vejo um filme em 35mm, então foi uma experiência e tanto", diz Martina Grande, de 29 anos.
"Desde 1974, com 'Tubarão', não ia ao cinema com tanto entusiasmo!", exclama Víctor Reolón, um aposentado que comprou seu ingresso com uma semana de antecedência.
Alina Dieste, AFP
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