Orgulho LGBTQIAP+: conheça seis pessoas que marcam a luta por direitos

No mês do Orgulho LGBTQIAP+, O POVO apresenta seis pessoas que se tornaram símbolos para a comunidade; confira abaixo

11:35 | Jun. 20, 2023

Por: Iully Fernandes
Madame Satã (foto: Reprodução)

A orientação sexual e a expressão de gênero, desde muito tempo, existem para além dos papéis atribuídos à heteronormatividade como única forma de vivência. Ressignificar o que se pensa que é ser LGBTQIAP+ é lembrar e reviver a vida e a memória de pessoas que marcaram e marcam a história da comunidade.

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Seja desde o ano 390, na Grécia, quando a população protestou contra uma lei que proibia a “efeminação dos homens” na cidade de Tessalônica; seja em 1629, quando uma capitã transgênero de nome Alice comandou um motim em Essex, na Inglaterra.

Diante de tantas vivências ao redor do mundo, torna-se imprescindível potencializar o imaginário social sobre o que é ser queer

É nesse aspecto que O POVO apresenta seis pessoas importantes para a história da luta da comunidade LGBTQIAP+, confira abaixo:

Orgulho LGBTQIAP+: Marsha P. Johnson

Negra, travesti, ativista e prostituta, Marsha era de Nova Jersey (EUA) e nasceu em agosto de 1945. Quando terminou a escola, mudou-se para Nova Iorque, sozinha, com apenas US$ 15 e uma mala de roupas.

Passou a se vestir exclusivamente com roupas femininas e oficialmente adotou o nome Marsha P. Johnson. Teve dificuldade em encontrar trabalho, pois os direitos para pessoas da comunidade LGBTQIA+ eram extremamente limitados. O modo mais rápido de ganhar dinheiro era a prostituição, uma ocupação perigosa e arriscada.

Johnson fez parte da geração dos anos 1950-1960 que expandiu a comunidade LGBT em Nova Iorque. Ela enfrentou um sistema jurídico homofóbico e uma sociedade intolerante em relação a sua orientação sexual e, principalmente, a sua expressão de gênero.

Por ser ativista, participou de importantes momentos para a luta da comunidade, como a Rebelião de Stonewall. Johnson esteve na linha de frente da revolta.

Logo depois, fundou a Gay Liberation Front (Frente de Libertação Gay, em tradução livre), um dos grupos pioneiros na luta contra a perseguição aos integrantes da comunidade.

Johnson foi presa mais de 100 vezes, enfrentou pobreza e perigo, e contraiu Aids em 1990. Mais sobre o legado de Marsha foi documentado na produção da Netflix chamada “A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson”, lançado em 2017.

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Orgulho LGBTQIAP+: Roberta Close

Roberta Close, uma mulher transgênero, é uma socialite que abalou a televisão brasileira dos anos 1980. Na época, os programas de auditório eram conhecidos no país por entrevistas midiáticas que geravam polêmica e audiência.

Entre as décadas de 1980 e 1990, Roberta apareceu nos maiores programas de entrevista da mídia brasileira: Fantástico, Domingão do Faustão, Hebe, Gugu, nos programas do apresentador Goulart de Andrade, entre outros

Close, com muita graça, desviava-se de perguntas desconfortáveis e outros convidados que exibiam comportamentos transfóbicos. Veja Roberta Close no Show dos Calouros em 1988: 

O sobrenome artístico "Close" veio em função da extinta revista Close, para a qual Roberta posou em 1981, projetando-a nacionalmente e vendendo mais de dez milhões de cópias.

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Roberta Close: um Sex Symbol

Em 1984, Roberta Close foi a vedete do carnaval carioca. Foi a partir dessa época que se sucederam as inúmeras aparições na imprensa. Pode-se dizer que o auge do sucesso aconteceu quando a revista Playboy estampou-a na capa de sua edição de maio do mesmo ano.

Pela primeira vez na história do periódico, a principal atração era uma mulher transgênero. A chamada da capa da revista era: "Incrível. As fotos revelam porque Roberta Close confunde tanta gente".

Junto à fama e aos olhares curiosos da imprensa, Roberta enfrentou também um país que lidava de maneira ainda mais abertamente transfóbica com a não-conformidade de gênero. Hoje, ela mora na Suíça com a família.

Orgulho LGBTQIAP+: Judith Butler

Judith Butler é uma filósofa estadunidense, lésbica, mãe e autora de diversas obras que inquietam e questionam as teorias queer e feministas contemporâneas.

Em seu trabalho, Judith mostra raízes teóricas em Michel Foulcault, Jacques Derrida e Sigmund Freud. Além disso, suas visões políticas são feministas, antissionistas, antirracistas, anti-lgbtfóbicas e libertárias.

Publicado em 1990, um dos principais livros de Judith Butler é também um dos primeiros - “Problemas de gênero: feminismo e a subversão da identidade”. A obra vanguardista interroga os papéis de gênero habituais e o binarismo que baseiam a sociedade. 

Orgulho LGBTQIAP+: Simon Nkoli

Simon Tseko Nkoli foi um ativista anti-apartheid, dos direitos dos homossexuais e da AIDS na África do Sul. Em seu país, era visto por muitos como o herói central da luta por direitos de gays e lésbicas.

Em 1990, Simon foi o responsável por fundar a Gay and Lesbian Organisation of The Witwatersrand (GLOW). A partir disso, realizou a primeira marcha do orgulho em Joanesburgo.

Cinco anos depois, Nkoli anunciou ao mundo que era HIV positivo, iniciando sua luta para desestigmatizar a Aids.

Orgulho LGBTQIAP+: Marielle Franco

Nascida e crescida no complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, em 27 de julho de 1979, Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, tornou-se a quinta vereadora mais votada da cidade nas eleições de 2016.

Marielle foi mulher negra, mãe, feminista, bissexual, defensora das camadas populares e ativista contra abusos policiais e violações aos direitos humanos.

Ela ocupou cargos como o de presidente da Comissão de Defesa da Mulher e também de relatora da comissão responsável pelo monitoramento das ações das Forças Armadas que ocupavam as favelas cariocas. A socióloga se declarava contra tais ações que intimidavam os moradores, expondo abertamente suas opiniões sobre o assunto e enfrentando a hegemonia presente no meio político.

Entre denúncias de violências policiais e luta por direitos das minorias, em 14 de março de 2018, Marielle, junto à sua assessora e seu motorista Anderson Gomes, sofreram um atentado.
O carro em que estavam foi perseguido e foi alvo de diversos disparos de arma de fogo. Marielle, foi atingida por 3 tiros na cabeça e 1 no pescoço, e Anderson por 3 tiros nas costas. Sua assessora sobreviveu.

Seu assassinato rapidamente causou comoção nacional. A revolta de uma população que se sentia representada por Marielle cobra por respostas e justiça até hoje, em 2023, pois o inquérito ainda não foi solucionado.

Orgulho LGBTQIAP+: Madame Satã

João Francisco Filho dos Santos foi um transformista visto como herói da contracultura. Além de malandro, pai, lutador e exímio cozinheiro, Madame Satã foi também a primeira travesti artista do Brasil.

Tornou-se uma figura mitológica do Rio de Janeiro, que, diante de tantos outros malandros, viveu para contar sua história. Na descrição que consta em registro de 1932, encontrado em um dos 26 processos respondidos por ele durante sua vida, evidencia-se a ruptura que ele representava para aquela época:

“Desordeiro. Pederasta passivo. Usa suas sobrancelhas raspadas e adota atitudes femininas, alterando até a prória voz. Não tem religião alguma. Fuma, joga e é dado ao vício da embriaguez. Exprime-se com dificuldade e intercala, em sua conversa, palavras da gíria de seu ambiente. É de pouca inteligência. Não gosta do convívio da sociedade por ver que esta o repele, dados seus vícios. É visto sempre entre pederastas, prostitutas, proxenetas e outras pessoas do mais baixo nível social. Inteiramente nocivo à sociedade.”

Em todos os registros sobre Satã, há a clara ambiguidade entre o fato de ele ser um malandro temido e, ao mesmo tempo, um homossexual assumido. Diante de toda a simbologia que Madame Satã representa até os dias atuais, o mito da boêmia em corpos dissidentes perpassa a história da luta negra e LGBTQIAP+ no Brasil.