Porto Iracema das Artes inicia ano letivo com programação gratuita
A Escola Porto Iracema das Artes celebra o início do ano letivo de 2023 e tem programação desta quarta-feira, 14, ao sábado, 17
17:27 | Jun. 14, 2023
Através da perspectiva de reflexão sobre as “Poéticas do Tempo Presente”, o ano letivo 2023 da Porto Iracema das Artes teve início nesta semana, na segunda, dia 12 de junho. Para receber os 185 novos alunos, a programação deste fim de semana é guiada pelo projeto “Navegações Estéticas”, que reúne artistas e convidados que ficarão à frente das oficinas. Dentre eles, está o dramaturgo indígena Juão Nÿn que aproveita para lançar o livro “Tybyra: uma tragédia indígena brasileira”, e a educadora Ana Cândida que realiza a leitura comentada do texto teatral "Plastic Doll".
"A ideia é fazer uma acolhida potente, inspiradora, promovendo o contato dos estudantes com artistas-formadores diversos, construindo conexões entre as experiências aqui na Cidade e a cena artística de outros estados, discutindo questões atuais que atravessam a criação artística e a educação", comenta Edilberto Mendes, coordenador de formação da Porto Iracema sobre as expectativas para o programa.
Nesta quarta-feira, 14, às 19 horas, em parceria com o Cinema do Dragão, haverá exibição dos filmes “Desterro Guarani” e “Nossos Espíritos seguem chegando - Nhe'e kuery jogueru teri”, realizados pelo cineasta indígena Kuaray Poty (Ariel Ortega). Em “Desterro Guarani”, o cineasta traz uma reflexão sobre o processo histórico do contato dos Mbya-Guarani com os colonizadores, e tenta entender como seu povo foi destituído de suas terras. Já “Nossos espíritos seguem chegando – Nhe’e kuery jogueru teri”, é um documentário sobre Pará Yxapy, indígena Mbya-Guarani, que se dedica aos primeiros cuidados a seu filho, ainda no ventre, e reflete, junto com seus parentes, acerca dos sentidos de uma gravidez em meio a pandemia de Covid-19 no Brasil.
Na quinta-feira, 15, às 19 horas, Juão Nÿn apresenta ao público, no pátio da Escola Porto Iracema, uma narrativa futurista que retrata um homem, Tybyra, que se propõe a descristalizar o imaginário brasileiro sobre os povos originários. Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, o dramaturgo relembra do seu processo de escrita destacando os desafios.
“Foi sonho e pesadelo. Sonho de pôr no mundo uma narrativa que era apenas contada por não-indígenas de forma superficial, mostrando outras cosmovisões, e pesadelo por ter sido no meio da pandemia e em um período que passei dois anos sem computador, fazendo tudo online pelo celular", conta o artista sobre os bastidores da do lançamento da obra.
Conheça Juão Nÿn
Formado em Licenciatura em Teatro pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e atuando como mestre na Escola Livre de Teatro de Santo André, coordenando o Terreiro “O Imaginário como Território”, Juão realiza há nove anos diversos trabalhos entre Rio Grande do Norte e São Paulo. Seu livro é uma ficção sobre o primeiro caso de LGBTfobia contra um corpo nativo no País. Ele conta que o principal desejo da obra é “denunciar a violência do Estado e da Igreja Católica sobre a liberdade dos corpos originários em 523 anos de um Brasil atravessado pelo racismo, homofobia, violências, roubo de territórios e etnocentrismo”.
Sendo um dos formadores do Programa de Formação Básica em Artes Cênicas da Porto Iracema em 2023, o dramaturgo ressalta seu orgulho e a alegria de estar vivendo um período no qual seu trabalho está sendo cada vez mais reconhecido. “Recebi a notícia com muito carinho, empolgação e felicidade. Sempre resisti em ser arte-educador e cada vez compreendo mais a importância dessa função em nossa sociedade carente de auto-formação coletiva. Sou parte, nem maior nem menor que nada. Sou meio, nada começa nem termina em mim. Ser componente de uma formação básica é de muita responsabilidade, relembrou meus começos, e estar apresentando outras perspectivas da nossa história através do teatro é tudo que sempre desejei quando era jovem e não tive acesso”, afirma.
Leitura com Ana Cândida
Encerrando o “Navegações Estéticas” terá o Ateliê Aberto de Escrita Dramática, espaço de estudos, partilhas e experimentações com foco na escrita dramática. Com atividades mensais, que incluem oficinas, leituras e partilhas de escritas em processo, o ateliê tem como objetivo contribuir para o debate em torno das especificidades e questões da escrita dramática no contexto contemporâneo.
O ateliê abre seu ciclo de atividades com a dramaturga paulista Ana Cândida Carneiro, que realiza na sexta-feira, 16, das 18h30min às 21h30min, a leitura comentada do texto teatral "Plastic Doll". A educadora vive há mais de 20 anos fora do Brasil, e esta oficina marca seu retorno ao País.
“Ainda que seja por um breve tempo, marca pra mim um processo de cura, de retorno às raízes, um pouco de recuperação das coisas perdidas”, afirma Ana.
A educadora coordena o programa de Mestrado em Dramaturgia da Universidade de Indiana, em Bloomington, Estados Unidos. É também fundadora do Babel Theater Project, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao cruzamento de linguagens, culturas e disciplinas. Em entrevista ao Vida&Arte, ela comenta sobre as expectativas da leitura de "Plastic Doll", escrito pela mesma, originalmente em italiano, em 2011.
“Vai ser bastante informal. Vamos ler e dividir as falas. Vou comentar por um duplo olhar, de quem escreveu o texto há anos, e de quem não é mais a mesma artista, por muitas razões. Estou curiosa para as críticas do público. É uma obra que parte das imagens dos brinquedos, bonecos Barbie e Ken, e pretende desconstruir, através das bonecas, estruturas como o patriarcado, e dos gêneros dentro do núcleo estrutural de uma família", afirma.
No sábado, 17, das 14 horas às 17 horas, Ana Carneiro ministra também a oficina de Dramaturgia Experimental. As atividades são voltadas para interessados em dramaturgia e acontecem na Sala de Teatro da Porto Iracema, com inscrição para 25 vagas, que se encerram nesta quarta-feira, 14.
Exibição dos filmes “Desterro Guarani” e “Nosso Espíritos Seguem Chegando”
- Quando: quarta-feira, 14, às 19 horas
- Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
- Gratuito e aberto ao público
Lançamento do livro “Tybyra: uma tragédia indígena brasileira”, de Juão Nÿn
- Quando: quinta-feira, 15, às 19 horas
- Onde: Pátio da Escola Porto Iracema das Artes (rua Dragão do Mar, 160 - Praia de Iracema)
- Gratuito e aberto ao público
Ateliê Aberto de Escrita Dramática, com Ana Cândida Carneiro
- Quando: sexta-feira, 16, das 18h30min às 21h30min; sábado, 17, das 14 às 17 horas
- Onde: Sala de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes
- Gratuito, com inscrições prévias Inscreva-se aqui
Leia mais
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui