Painel artístico da Escola do Pirambu será da UFC após acordo
Produzido por artistas da Escola do Pirambu, painel "Homens Trabalhando (1977) será incorporado ao acervo da UFC e autores serão recompensados financeiramente
13:41 | Mai. 31, 2023
Após décadas de um impasse entre profissionais do meio artístico e a Universidade Federal do Ceará, o painel “Homens Trabalhando” — produzido por artistas da Escola do Pirambu em 1977, durante o XXVII Salão de Abril — será oficialmente incorporado ao acervo da instituição, com garantia de recompensas aos autores e herdeiros. O acordo, que será oficialmente assinado nesta quinta, 1º, foi concretizado a partir de iniciativa do Ministério Público Federal (MPF).
A obra foi produzida por Babá, Claudionor, Chica da Silva, Garcia e Ivan, artistas que aprenderam as técnicas na Escola do Pirambu, criada por Chico da Silva. Após ser finalizada, ela foi guardada temporariamente na biblioteca da faculdade de Medicina da UFC, mas acabou permanecendo na instituição.
Apesar de não ter sido cedida à Universidade, as tentativas de reaver a pintura, mesmo para exposição em mostras, foram frustradas ao longo das décadas. Conforme o Vida&Arte publicou em abril de 2021, a posição da UFC na época foi que se pronunciaria sobre o tema “caso seja instada por canais oficiais e por interessados que apresentem razões de fato e de direito sobre o painel”.
Acordo prevê "resgate" da Escola e pagamento
Mobilizações de remanescentes da Escola e herdeiros, além de curadores, pesquisadores e artistas contemporâneos, pediam a resolução do caso, propondo a aquisição formal do painel por parte da Universidade. O caso chegou ao Ministério Público Federal, que buscou construir um acordo entre as partes.
Nas duas reuniões promovidas recentemente no processo em busca de consenso, a UFC se comprometeu em “adotar medidas de valorização e resgate cultural” do painel e da Escola do Pirambu. A partir disso, a obra estará em exposição futura na Pinacoteca do Ceará que irá se debruçar em Chico da Silva. Além disso, Garcia, hoje único artista vivo do grupo, e herdeiros serão recompensados com pagamento.
A assinatura do acordo contará, além do artista e dos herdeiros, com representantes do MPF, da UFC, da Pinacoteca do Ceará, do Instituto Mirante, do Instituto Brasileiro de Direitos Autorais e da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, entre outros.
Histórico do impasse
O imbróglio envolvendo o painel surgiu em abril de 1977, quando o grupo de artistas produziu a obra em público de forma colaborativa durante o salão de artes visuais. A performance, proposta pelo pintor e desenhista Hélio Rôla, foi feita para confirmar as habilidades artísticas deles, que chegaram a ser tachados de “falsos artistas” por pares e mídia na época.
Apesar de Chico da Silva ser hoje reconhecido como um dos principais nomes da arte cearense, na época foi alvo de questionamentos sobre os métodos e a autoria das obras feitas no contexto formativo. As dúvidas pairavam, também, sobre os artistas da Escola
A obra foi provisoriamente guardada na biblioteca da Faculdade de Medicina porque Hélio, que também era médico, lecionava no local. Como ele explicou ao V&A em 2021, as tentativas de buscar a obra enfrentavam impedimentos da UFC. "Não houve doação, nenhum documento, simplesmente foi um lugar que foi colocado temporariamente", afirmou à reportagem.
Entre as movimentações em prol da resolução do caso, foi criada a petição on-line “Justiça para os pintores da Escola do Pirambu - Chico da Silva”, idealizada pela curadora Flávia Muluc e pelo artista cearense Rafael Limaverde.
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