Teatro: 'O Deus Selvagem' tem sessão única no Teatro Universitário
Estreia do cineasta cearense Pedro Henrique na direção teatral, espetáculo "O Deus Selvagem" apresenta reflexões sobre sucesso e fracasso neste sábado, 29, no Teatro UniversitárioNa busca pelo almejado sucesso, a linha é tênue entre o esforço que dá resultado e as possíveis armadilhas da ambição em demasia. Tensionando o que é vencer e perder, o espetáculo teatral “O Deus Selvagem”, de Pedro Henrique, propõe um cenário que parte do universo do boxe para refletir sobre fracasso e liberdade. A peça tem apresentação única neste sábado, 29, às 19h30min, no Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno. Os ingressos custam R$20 (valor de inteira) e podem ser adquiridos antecipadamente.
Com texto e direção de Pedro Henrique — que estreia no comando de uma produção teatral, tendo trajetória no cinema com curtas como “Superdance” (2016) e “Kenzo ou O Triunfo da Auto-Desintegração” (2022) —, a obra é a “tentativa de escapar de um determinado conceito de sucesso e vitória que suga as energias e só leva à autodestruição", como explica o dramaturgo e diretor.
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A gênese do espetáculo, porém, foi suscitada a partir de outro tema e viés: a pandemia. “Estava investigando temas como depressão e suicídio a partir de livros. O primeiro texto saiu de forma muito espontânea e não foi intencionalmente teatral. Apenas escrevi e senti que a melhor linguagem para ele era o teatro”, rememora.
Influências, referências e pandemia
Entre referências que se somaram nesse período de investigação, estiveram os livros "O Deus Selvagem", de A. Alvarez, e "O Demônio do Meio Dia", de Andrew Solomon, textos da dramaturga britânica Sarah Kane e, em paralelo, pesquisas dos artistas argentinos de cinema e teatro Lola Arias e Emílio Garcia Whebi.
No processo, porém, o que era um olhar à pandemia foi se moldando para o que norteia, hoje, o espetáculo: uma investigação sobre liberdade e fracasso. “Desde o primeiro tratamento houve muita colaboração de amigos como Marcos Paulo, dramaturgo, e Bruna Pessoa, atriz do elenco. Em algum momento do processo, já na sala de ensaio, surgiu a leitura do livro ‘T.A.Z.’, de Hakim Bey, o que mudou drasticamente o caminho do espetáculo”, contextualiza.
A obra lançada em 1985 pelo autor, um pseudônimo do historiador, escritor e poeta Peter Lamborn Wilson, é ligada ao anarquismo e propõe uma tática denominada Zona Autônoma Temporária. Em termos básicos, ela possibilitaria a existência de um organização não-hierárquica de sociedade.
Dramaturgicamente, “O Deus Selvagem” propõe um contexto simbólico para dar vazão às reflexões que motivaram a criação. Para isso, parte de figuras que lutam boxe, o juiz Bey e o Deus Selvagem do título. “A ideia do boxeador surgiu por acaso. Mas como todo acaso, em algum momento acabamos dando sentido a ele. O boxeador é aquele esportista que leva socos, golpes e o seu objetivo é permanecer em pé. Não desistir”, inicia Pedro.
“Os boxeadores no espetáculo, na verdade, são pessoas comuns que vivem em uma angústia de querer fugir, querer desistir e não ter a pressão de vencer. Isso parece ser mais difícil do que lutar”, reflete. O elenco é formado por Bruna Pessoa, Kaye Djamiliá e Amon Aristides, com preparação corporal e coreografias de Gabrielle Dantas. “O elenco foi muito ativo também na criação, possibilitando meios e curvas, promovendo conversas e gerando discussões reveladoras”.
Financiamento coletivo
O espetáculo tem produção de Camilla Osório de Castro, da produtora Mar de Fogueirinha, sendo uma obra independente que foi concretizada a partir de financiamento coletivo. “De certa forma, essa saída é uma precarização do trabalho do artista pela falta de políticas públicas mais amplas, mas por outro lado traz pessoas para mais perto do processo de alguma forma. Assim, o trabalho acaba por encontrar soluções criativas para lidar com as dificuldades financeiras”, analisa Pedro.
O financiamento por crowdfunding não é uma experiência inédita para o artista, tendo sido o método utilizado para realizar o trabalho de conclusão de curso em Cinema, na Universidade Federal do Ceará, em 2016. Formado pela instituição, Pedro aproxima desde o início da trajetória as linguagens do audiovisual e do teatro.
“Desde a faculdade, venho trabalhando em funções técnicas (mas que não deixam de ser criativas) em espetáculos de teatro”, compartilha. “Acolhido” pelo campo teatral, o artista, participou em funções diversas em espetáculos como “Vagabundos”, “Bando de Pássaros Gordos” e “E.L.A.”. Neste último, da diretora e atriz Jéssica Teixeira, Pedro não só atuou como diretor de videomapping, mas dirigiu também o curta “Pudesse Ser Apenas Um Enigma”, que parte da obra.
Novas formas de construir histórias
A contaminação entre os campos, então, se tornou uma constante. “Na faculdade, fui criando amizade com alunos do teatro e fui descobrindo novas formas de construir histórias, que acabei levando para meus filmes. Eles sempre trabalharam com a criação em processo de sala de ensaio (que muitas vezes era mais no meio da rua que na própria sala), como ‘Fora da Onda’ (2013) e ‘Superdance’ (2016). Então, eu acreditava que era uma experiência natural experimentar a direção teatral, já que me via influenciado por outras linguagens”, aponta.
“Acabei por decidir montar o espetáculo mais por uma necessidade de buscar uma nova experiência e me experimentar em outras funções do teatro além da curiosidade de saber como é sentir na pele as diferenças de linguagem”, acrescenta o diretor.
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O Deus Selvagem
- Quando: sábado, 29, às 19h30min
- Onde: Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno (Av. da Universidade, 2210 - Benfica)
- Quanto: R$10 (meia) e R$20 (inteira)
Limitado a 50 lugares. Para compra de ingressos antecipados, fazer Pix para a chave mardefogueirinha@gmail.com e mandar o comprovante com nome para o mesmo e-mail ou (85) 99646.7772 - Mais informações: @mardefogueirinha
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