MC Millaray, a voz dos mapuches que lutam por terras no Chile

A rapper mapuche chilena MC Millaray, de 17 anos, divulga para o mundo a causa centenária de seu povo pelo direito à terra

Com tranças longas, seu nome tatuado na mão direita e fúria na voz, a rapper mapuche chilena MC Millaray, de 17 anos, divulga para o mundo a causa centenária de seu povo pelo direito à terra.

Suas letras misturam espanhol e mapudungun, a língua mapuche:

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"A los cuatro vientos yo le quiero gritar/ Que yo al mapuche voy a representar. Mis tierras ancestrales ya se deben levantar" (Aos quatro ventos eu quero gritar/que ao mapuche vou representar. Minhas terras ancestrais já devem se levantar).

Millaray Jara Collio grava em Santiago e Nova York seu primeiro disco profissional. Suas letras - "sempre fez música com conteúdo", destaca - abraçam a demanda da maioria etnia originária chilena.

Os mapuches representam 9% dos quase 20 milhões de chilenos. Assentados no sul do país, nas empobrecidas regiões de Araucânia e de Bío-Bío, exigem a devolução de territórios que consideram seus e que hoje estão em mãos de empresas florestais ou de produtores agrícolas.

Grupos radicais atiçaram o conflito tomando as ruas e incendiando casas e maquinários, forçando o envio de militares à região. Vinte pessoas morreram nos últimos 25 anos em meio às disputas.

"Aprendi com minha família. Três gerações de mulheres, que transformamos nossas dores em luta. Quando falo, não falo somente eu: mais vozes estão por trás e isso é o mais bonito", assegura MC Millaray em conversa com a AFP.

"Apartada de meu idioma"

Millaray, flor de ouro em mapudungun, entra no estúdio de gravação com um minissaia preta, botas brancas e um lenço na cabeça. Sua expressão fica séria assim que coloca os fones de ouvido.

Nascida e educada em Santiago, um dia procurou sua bisavó (hoje com 98 anos) em Araucânia, para que lhe ensinasse a língua dos ancestrais para, assim, incorporá-la em suas letras combativas. "Nasci apartada de meu idioma. Eu o fortaleci sozinha, minha identidade, minha língua", orgulha-se.

Seus pais, Claudia e Alexis, apresentaram-lhe o rap. Desde criança subia no palco com seu pai, que agora faz os coros para a filha.

Ela começou no rap aos cinco anos e aos sete fez sua primeira gravação. Na escola protestou contra a forma como os mapuches eram retratados nas aulas de História. "Sempre expressei minha opinião e isso fez com que fosse respeitada", recorda.

A jovem rapper cantou no encerramento da campanha do atual presidente Gabriel Boric, em setembro do ano passado, na qual promovia a aprovação de uma nova Constituição, alternativa que terminou sendo rejeitada pela maioria dos chilenos.

A rapper Millaray durante intervalo nas gravações em Santiago do Chile
A rapper Millaray durante intervalo nas gravações em Santiago do Chile (Foto: Martin BERNETTI / AFP)

MC Millaray: "Não vou me calar"

Sua carreira deu uma reviravolta com o apoio de uma de suas artistas favoritas, a rapper franco-chilena Ana Tijoux. Em 2020, gravaram juntas a música "Rebelión de octubre".

No disco que está preparando, MC Millaray recita a terra ferida e os que outrora foram seus guardiões antes de migrar para a cidade:

"Supe que aquel bosque nativo que tú, cuando eras joven, cuidabas, ahora es un monocultivo y tiene a nuestra Madre Tierra devastada. Que mientras no estabas, el río se secaba y estos días de sequía te tienen fuertemente atacada. Lo siento por mi silencio, pero desde hoy no callaré, no callaré, te lo prometo". (Soube que aquela mata nativa que você, quando jovem, cuidava, agora é uma monocultura e devastou nossa Mãe Terra. Sinto muito pelo meu silêncio, mas a partir de hoje não vou me calar, não vou me calar, eu prometo).

Com 33.000 seguidores no Instagram, alguns de seus vídeos no Youtube têm mais de 90.000 visualizações. "Estamos formando e fortalecendo a identidade, defendendo nossas raízes, nosso território, a proteção, o cuidado e a luta de nosso povo-nação mapuche", proclama.

Millaray, que já se apresentou na Argentina, Equador e Estados Unidos, prevê em breve visitar a Colômbia e terminar a gravação de seu disco em Nova York, em julho.

Entre seus planos também está o de estudar Direito, atuar nos palcos e nos tribunais pela causa mapuche: "Seria uma boa contribuição ao que tenho criado desde criança. Há sempre o desejo de fazer uma defesa. Que melhor ferramenta do que estudar algo que também me apoie no futuro?". (Pedro Schwarze/ AFP)

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

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