Como os Beatles gravaram seu primeiro álbum em 13 horas

Lançado no Reino Unido há 60 anos, primeiro álbum dos Beatles nasceu depois do single "Please please me" ser o primeiro hit da banda no topo das paradas. A missão levou menos de um dia para ser cumprida
Autor DW Tipo Notícia

Paul McCartney brada no microfone: "One-two-three-four!". Começa então uma canção de rock áspera e veloz que coloca o corpo todo em movimento. I saw her standing there, expectorada por um Paul levemente resfriado e um John Lennon também gripado.

Este é o início fulminante de um álbum que catapultou definitivamente os quatro garotos de Liverpool para a primeira fileira do cenário musical pop da época.

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Lançado no Reino Unido em 22 de março de 1963, Please please me se posicionou imediatamente entre os dez primeiros álbuns das paradas britânicas. Em 8 de maio, chegou ao primeiro lugar e não saiu dali por 30 semanas seguidas, só sendo substituído pelo segundo álbum do grupo, With The Beatles.

O sucesso foi a recompensa por seis anos de trabalho árduo, fazendo contatos, adquirindo experiência e não desistindo. E, em última instância, também foi mérito de dois homens que acreditaram na banda: Brian Epstein, dono de uma loja de discos e empresário dos Beatles, e o produtor musical George Martin.

Beatles "dinâmicos", "sensacionais", "fabulosos"

Em retrospectiva, a banda formada por Lennon, McCartney, George Harrison e Ringo Starr estava num estágio peculiar em 1962. Por um lado, cada vez mais conhecida. por outro, tocava em pequenas boates para jovens ou abrindo o show de outros artistas.

Fosse onde fosse, há cerca de um ano os Beatles estavam se apresentando quase que ininterruptamente: em clubes na Inglaterra, com frequência em Hamburgo, onde já eram quase funcionários fixos do Star Club, em programas de TV. Chegavam a ter duas apresentações por dia.

O grupo era apresentado como "The dynamic Beatles", "The fabulous Beatles", "The sensational Beatles, "The North's no. 1 Rock Combo" (O conjunto de rock número 1 do Norte da Inglaterra), era a principal atração do renomado Cavern Club de Liverpool, e sua comunidade de fãs crescia cada vez mais.

Alusões sexuais fortes demais para os anos 1960

Entre todas essas apresentações, em novembro de 1962 George Martin chamou os meninos para irem ao estúdio. O primeiro single, Love me do, lançado em outubro daquele ano, só chegou ao 17º lugar das paradas, mas conseguiu tornar o grupo nacionalmente conhecido. Por isso, era importante gravar um novo hit.

Martin insistia que fosse o sucesso garantido How do you do it, escrito por Mitch Murray, compositor muito popular nos anos 1960 e 70. Mas os Beatles queriam lançar uma música própria: tinham convicção no próprio material.

Na gaveta estava Please please me (literalmente: Por favor, me satisfaça), de John Lennon, que gostava do jogo de palavras com o duplo "please". A música foi gravada em setembro de 1962, nas mesmas sessões em que surgiu Love me do.

Para os padrões da época, o texto, salpicado de alusões sexuais, era considerado indecente. George Martin não gostou do estilo da versão original, achando que era muito monótono e lento. Assim, os Beatles voltaram ao estúdio e gravaram o single que os catapultaria para o primeiro lugar das paradas.

Para o estúdio, rápido!

Ao finalizar o trabalho no estúdio, George Martin tinha uma certeza: "Vocês acabaram de gravar seu primeiro primeiro lugar". Em 11 de janeiro de 1963, o single foi lançado, e concretizou a profecia de Martin.

A partir desse momento, para além da atmosfera lúgubre e som alto dos clubes, todo mundo entendeu: a música do grupo era excitante, veloz, possante e cheia de alegria de viver. Assim como em Love me do, o riff da gaita no início da canção eletriza, seguido de um ritmo pulsante, harmonias geniais e letras ainda mais geniais.

Nesse meio-tempo, as apresentações ainda diárias dos Beatles eram promovidas com os dois singles. A então famosa cantora teenie Helen Shapiro os leva numa turnê. Brian Epstein, que levava o cargo de empresário muito a sério, cuidou para que o grupo levasse um instrumentário completo.

Quando voltaram a ser chamados a comparecer ao estúdio por George Martin, em 11 de fevereiro, Os músicos estavam exaustos. A tarefa era gravar seu primeiro LP do grupo – num só dia.

Maratona de gravação de 13 horas

Martin queria registrar o estilo rude e original dos rapazes. Com a rotina de apresentações, muitas das canções já estavam tão bem ensaiadas, que, de fato, conseguiram gravar dez canções ao vivo, acrescentando-as às quatro já realizadas.

Para a última música, Twist and shout, Lennon gastou a voz que lhe restava: ficou rouco depois dos dois primeiros takes, e o resultado áspero ficou incrustado para sempre nos ouvidos e na memória de milhões de beatlemaníacos.

Martin usou apenas um gravador de dois canais, apenas poucos instrumentos são superpostos. Por canção, John, Paul, George e Ringo precisaram de 15 a 90 minutos. Depois de quase 13 horas, litros de chá, leite, balas para a garganta e cigarros, as músicas estavam gravadas. Mais tarde, Martin adicionou um piano a algumas faixas.

Apesar da técnica de gravação bastante simples, os custos de produção resultaram bastante altos: 400 libras esterlinas, o equivalente a cerca de 8.500 euros atuais. Hoje, a produção de uma única faixa já começa nos 10 mil euros.

Dada a partida para a Beatlemania

Das 14 faixas de Please please me, apenas seis são versões cover. Na época, não era comum uma banda gravar tantas canções próprias em seu álbum de estreia

O fato de os Beatles terem imposto suas próprias músicas junto ao produtor tornou a dupla Lennon-McCartney rapidamente reconhecida como compositores. Paul e John fizeram um acordo segundo o qual para que ambos os nomes fossem sempre citados, mesmo que só um deles tivesse escrito a música.

Please please me tem um som fresco e novo, um testemunho dessa disciplina férrea, de perfeccionismo e da vontade de criar algo gigantesco. Ele não marcou apenas o início da Beatlemania que tomaria de assalto o mundo inteiro em seguida, mas também o nascimento de uma nova forma de música pop, e inspirou gerações subsequentes de músicos a fazerem o mesmo.

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

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