Clarice Lispector tem entrevista inédita publicada por revista

A revista estadunidense "The New Yorker" divulgou uma entrevista inédita com Clarice Lispector gravada um ano antes de sua morte, em 1976

A escritora Clarice Lispector teve uma entrevista inédita divulgada pela revista estadunidense "The New Yorker" nesta segunda-feira, 13. Intitulada "A lost interview with Clarice Lispector", a reportagem traz uma entrevista gravada em áudio no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 20 de outubro de 1976, pouco mais de um ano antes de sua morte.

A conversa foi guiada pelos escritores Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna e João Salgueiro, que na época era diretor do Museu. Durante a entrevista, a autora deu detalhes sobre nascimento, dificuldades na infância e carreira.

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Por dentro da entrevista

Nascida na Ucrânia, Clarice contou que os pais estavam em fuga, devido a perseguição aos judeus na época, quando pararam em uma aldeia no país para que ela nascesse em 10 de dezembro de 1920. "Cheguei ao Brasil com dois meses de idade. Me chamar de estrangeira é bobagem", declarou na entrevista.

Sant'anna mencionou que as pessoas a confundiam com estrangeiros por conta do sotaque, mas Clarice rebateu, afirmando que não era sotaque e sim língua presa. "Podia cortar, mas, dizem, é um lugar muito úmido, dificilmente cicatriza", brincou.

A escritora também falou sobre a infância difícil que teve, por conta das limitações financeiras da família. Segundo Clarice, o almoço da família era laranjada com um pedaço de pão.

Durante a conversa, ela contou que após aprender a ler, passou a devorar livros. Ainda criança, enviou suas primeiras histórias para a seção infantil do jornal "Diário de Pernambuco", mas nunca foram publicadas. "Eu me cansei de enviar minhas histórias, mas elas nunca as publicaram, e eu sabia por quê. Porque os outros começavam assim: 'Era uma vez, etc, etc'. E os meus eram sensações", declarou.

Mesmo após se tornar uma autora publicada, Clarice tinha dificuldades em lidar com suas obras e falou sobre o assunto na entrevista. "Eu não releio. Isso me dá náuseas. Quando está publicado, é como um livro morto. Eu não quero mais ouvir falar dele", comentou. "Eu leio, eu acho estranho, eu acho ruim, e é por isso que eu não leio. Eu também não leio traduções que eles fazem dos meus livros para não me irritar", afirmou.

A reportagem foi escrita por Benjamin Moser, que não revelou como conseguiu acesso ao material, mas declarou que é a "mais longa e mais abrangente" entrevista dada pela escritora. O áudio possui quase 46 minutos e foi publicado no site da revista The New Yorker.

Leia no O POVO+ | Confira opiniões de estudiosos sobre a obra da escritora Clarice Lispector

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