Coluna Vanessa Passos: Escrever mesmo quando não estou escrevendo
Meus olhos escrevem, meus pelos, meus cabelos, meus ouvidos. É como se tudo em mim tivesse uma caneta a postos pronta para registrar a vidaNunca tive muito tempo para escrever. Mesmo agora, que vivo apenas de literatura há três anos, meu tempo se divide na Vanessa escritora, professora de escrita, consultora literária, produtora de conteúdo, empreendedora e, não posso esquecer, mãe. Então, desenvolvi o método do que chamo de escrever mesmo quando não estou escrevendo.
Escrever com o corpo. Meus olhos escrevem, meus pelos, meus cabelos, meus ouvidos. É como se tudo em mim tivesse uma caneta a postos pronta para registrar a vida, a humanidade, o detalhe invisível - aquilo que o cotidiano e a correria impedem que as pessoas observem.
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Meu corpo tem memória, e talvez seja por isso que meus personagens falam tanto através do gesto. Ou talvez porque durante muitos anos minha voz se projetava por meio da dança. Fui bailarina por mais de 10 anos e isso não se apaga de uma vida, deixa rastros, deixa memória.
Uma amiga roteirista, Carolina Lobo, me perguntou como funciona a questão da alteridade no momento de criação dos personagens, se eu vejo e convivo com os personagens. E só naquele momento me dei conta de que o meu processo não é externo, mas interno. Eu empresto meu corpo e a minha voz para viver as personagens. Eu sou o outro. E é uma experiência que talvez eu nunca consiga explicar exatamente, mesmo sendo escritora, mesmo trabalhando com as palavras. Porque, pode ser clichê, mas eu acredito que algumas coisas não se explicam, se sentem.
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