Netflix: A polêmica envolvendo a série "1899" e quadrinista brasileira

Série alemã "1899", da Netflix, é acusada de plágio por quadrinista brasileira
Autor DW Tipo Notícia

Ilustradora acusa criadores da nova produção da Netflix de plagiarem uma de suas obras, publicada em 2016. Criadores da série negam, mas artista afirma que “caso já está sendo tratado legalmente”. O recente caso envolvendo a série alemã "1899", acusada de plágio por uma quadrinista brasileira, "já está sendo tratado legalmente”, comunicou nesta segunda-feira (21/11) a ilustradora Mary Cagnin através de seus perfis nas redes sociais.

No domingo, 20 de novembro, Cagnin, de 32 anos, usou o Twitter para apontar diversas semelhanças entre "1899", da Netflix, e seu trabalho "Black Silence", publicado em 2016. "Está tudo lá: A pirâmide negra. As mortes dentro do navio/nave. A tripulação multinacional. As coisas aparentemente estranhas e sem explicação.Os símbolos nos olhos e quando eles aparecem", escreveu a brasileira, que já fez trabalhos ilustrados para editoras como Globo, Abril e Mol. E acrescenta: "As escritas em códigos. As vozes chamando por eles.Detalhes sutis da trama, como dramas pessoais dos personagens, incluindo as mortes misteriosas.”

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As alegações de Cagnin já foram compartilhadas dezenas de milhares de vezes, com diversas mensagens de apoio à brasileira — e outras em defesa dos criadores da série. Muitos viram semelhança entre as duas obras, enquanto outros identificaram apenas o uso de referências comuns no mundo da ficção-científica. Criadores de "1899" negam plágio.

A repercussão do assunto foi tão grande que viralizou até chegar aos criadores da nova produção, que, por sua vez, negaram as acusações."Infelizmente não conhecemos a artista, seja seu trabalho ou o quadrinho.”, escreveu o roteirista Baran bo Odar em sua conta no Instagram. "Jamais roubaríamos de outros artistas, já que nós mesmos nos sentimos artistas. Também entramos em contato com ela na esperança de que ela retire essas acusações. A internet se tornou um lugar estranho. Por favor, mais amor em vez de ódio”, acrescentou.

Os produtores da série também se manifestaram em defesa dos criadores: "Gostaria de ficar calado, mas ver os próprios criadores recebendo mensagens ofensivas, que basicamente os forçaram a dizer algo, está indo longe demais. Eles são duas pessoas incrivelmente talentosas e trabalham muito para criar suas próprias histórias originais", afirmou o perfil oficial da série por meio do Twitter. "O ano é 1899 e eventos misteriosos mudaram o rumo de um navio de imigrantes a caminho de Nova York. Agora, os passageiros terão que desvendar um enigma alucinante”, afirma a sinopse oficial de "1899". Com custos estimados em 50 milhões de euros para a primeira temporada, a série já é considerada a mais cara da história da Alemanha.

Criada por Jantje Friese e Baran bo Odar (autores também de "Dark", que fez sucesso no Brasil), a série conta a história de uma embarcação com imigrantes de diferentes nacionalidades que vão da Europa para o Novo Mundo em busca de melhores condições de vida. A viagem toma um rumo sinistro quando eles encontram o Prometheus, um navio que desaparecera alguns meses antes sem deixar rastro.

Pouco antes da polêmica viralizar, os criadores de "1899" concederam uma entrevista ao Hollywood Reporter, em que diziam de onde tiraram a inspiração para a série: "Na verdade, a ideia surgiu há anos”, disse Friese, relembrando ter visto a foto de um homem em cima de algo que parecia ser um barco antigo. "Imediatamente, tive a ideia de que poderia ser um migrante em um navio. Mas o que aconteceu naquele navio? Essa era a grande questão”. Ela prossegue: "Ao mesmo tempo, a crise dos refugiados estava acontecendo na Europa [por volta de 2015/2016] e era uma fase muito instável. Queríamos falar sobre a Europa, colocá-la em um navio, em um espaço confinado, com muito oceano ao redor, de onde não se pode escapar. Como as pessoas lidam com situações em que não conseguem falar a mesma língua? O que acontece quando você tem todas essas origens culturais diferentes, que são colocadas em um espaço como este? Foi isso que desencadeou o processo”, conta.

O enredo de "Black Silence", de Cagnin, é ambientada num futuro distópico pós-apocalíptico. A obra foi financiada pelo Catarse e recebeu o Troféu Angelo Agostini (Melhor Desenhista), além de 3 indicações ao Prêmio HQMix.

Na trama, "uma equipe de astronautas é convocada para fazer reconhecimento de um planeta que pode ser a única chance de sobrevivência dos seres humanos”, diz a sinopse do quadrinho na página da autora. "Obviamente, 'Black Silence' é uma obra curta, quase um conto.”, escore vou Cagnin no Twitter. "É muito fácil, em 12 horas de projeção da série, diluir todas essas ‘referências', mas a essência do que eu criei está lá.” Quem quiser tirar suas próprias conclusões, basta ler o quadrinho, que está disponível para leitura online.

Acusações de plágio no mundo das séries e filmes

De "Stranger Things" a "Jogos Vorazes": casos como o de uma quadrinista brasileira que acusa de plágio os criadores da série "1899", da Netflix, são recorrentes.Pouco após a estreia da nova série da Netflix 1899, a quadrinista brasileira Mary Cagnin já estava causando furor nas redes, ao afirmar que várias partes da produção haviam sido roubadas de um de seus quadrinhos.

"Estou em choque", escreveu Cagnin em letras garrafais no Twitter. Ela apontava a série "1899" como "simplesmente idêntica" ao quadrinho "Black Silence", obra sua publicada em 2016. Como semelhanças, ela citou "a pirâmide negra", "o navio/nave", "a tripulação multinacional", levantando a hipótese de que os criadores da série descobriram seu trabalho em uma feira do livro internacional. Em seguida, escreveu que há "inúmeros casos de gringos copiando a gente", seja em filmes, séries ou músicas, evocando sobretudo o sucesso cinematográfico "As Aventuras de Pi".

E de fato, o escritor canadense Yann Martel, cujo livro virou sucesso de bilheteria na versão para o cinema, admitiu que se inspirou em uma crítica sobre o livro "Max e os felinos", de Moacyr Scliar. Baran Bo Odar e Jantje Friese, criadores de "1899" e da aclamada série "Dark", dizem estar sendo acusados injustamente e negam conhecer a brasileira ou sequer sua obra. E salientam que jamais roubariam de outros artistas, já que eles mesmos se veem como artistas. O caso agora está nas mãos de advogados.

"Stranger Things", uma reminiscência de "E.T." e "Goonies"

O sucesso da série "Stranger Things" tem muitas reminiscências de filmes de aventura dos anos 80, como "Os Goonies" e "E.T.", de Steven Spielberg, ou o drama sobre amadurecimento Conta Comigo, baseado numa história de Stephen King. Mas nem Spielberg nem King foram se queixar de forma alguma com Ross e Matt Duffer, os criadores de "Stranger Things".

Isso coube a um cineasta relativamente desconhecido chamado Charlie Kessler. Em seu curta-metragem Montauk, ele contava a história de um menino que desaparecia sem deixar vestígios, em um cenário de eventos paranormais em uma pequena cidade que, por acaso, ficava perto de uma misteriosa instalação militar. Kessler conta que comentou sobre seu filme com os gêmeos Duffer nos bastidores do Tribeca Film Festival, em Nova York, mas nenhuma parceria jamais se concretizou.

Dois anos depois, a Netflix lançou "Stranger Things" — uma história sobre o desaparecimento de um menino no contexto de eventos paranormais em uma pequena cidade que fica perto de uma misteriosa instalação militar. Somente quando a série fez sucesso, Kessler veio a público com acusações de plágio. Os irmãos Duffer passaram tudo para um advogado. A sentença: o processo contra eles nada mais era do que uma tentativa de lucrar com a criatividade e o trabalho árduo de outras pessoas.

De "Jogos Vorazes" a "Round 6"

Alguns meses atrás, o diretor Quentin Tarantino comentou em um programa de TV americano que considerava a série de filmes "Jogos Vorazes" uma cópia do filme japonês "Battle Royale". Isso não era novidade para Suzanne Collins, autora de "Jogos Vorazes". Ao longo de sua carreira, ela foi repetidamente acusada de ter roubado a ideia para seus livros. Ela teria copiado, por exemplo, o escritor Stephen King, que em seu livro "O Concorrente" (1982) fala de um pai de família que participa de um game show mortal para poder pagar os medicamentos de sua filha gravemente doente.

A história foi filmada em 1987 sob o título "O Sobrevivente", com Arnold Schwarzenegger. Seja "Battle Royale", "Jogos Vorazes" ou "O Sobrevivente" — em todas essas distopias, as pessoas são jogadas umas contra as outras e lutam pela sobrevivência para o deleite de um público pervertido. O exemplo mais recente é o mega-sucesso coreano "Round 6". Dizem as más línguas que a série foi copiada do filme de terror japonês "As The Gods Will", de 2014. Sim, aqui também se jogam jogos infantis, e os perdedores devem morrer.

Mas a história toda é completamente diferente: em "Round 6", adultos altamente endividados participam dos jogos voluntariamente na disputa por bilhões. Já "As The Gods Will" se passa em uma escola japonesa, e as crianças são forçadas a participar dos jogos assassinos. Quem teve a ideia primeiro? De fato, não se pode acusar o diretor de "Round 6", Hwang Dong-hyuk, de plágio, pois ele já tentava vender sua história desde 2008 — até que a Netflix topou. Seja em músicas, histórias ou filmes, as acusações de plágio são frequentes.

Não é fácil provar quem teve uma ideia primeiro ou sequer que uma ideia tenha sido roubada. Afinal, não é totalmente impossível que duas pessoas, numa população mundial de 8 bilhões, tenham pensamentos, melodias ou até mesmo histórias semelhantes em suas cabeças. É por isso que processos de plágio raramente vingam na Justiça — especialmente no caso de filmes que envolvem a criatividade de muitas pessoas e cujo processo de criação é longo. Sem contar que grandes estúdios de cinema ou grandes produtoras possuem exércitos inteiros de bons advogados e muito dinheiro para conseguir vencer tais processos.

No Twitter e no Instagram, os criadores de "1899" foram alvo de uma verdadeira shitstorm de fãs da quadrinista brasileira. Seguindo o fio do polêmico tuíte, iniciou-se um grande debate sobre quais cenas, personagens ou símbolos teriam sido roubados. Por outro lado, fãs de 1899 dizem que os exemplos mencionados são meras referências comuns no mundo da ficção científica. Baran Bo Odar, um dos criadores de "1899", também se manifestou no Instagram sobre o alvoroço na rede, que abrangeu ataques pessoais contra ele e sua esposa, a coautora da série, Jantje Friese. 

(Silke Wünsch)

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