Mercado AlimentaCE realiza Festival de Gastronomia Afro-brasileira

Evento gratuito acontece neste domingo, 20, no Dia da Consciência Negra. Programação destaca ancestralidade dentro da culinária brasileira

20:05 | Nov. 17, 2022

Por: Lara Montezuma
Programação envolve feira gastronômica e agroecológica (foto: Divulgação/Thiago Matine)

O Mercado AlimentaCE, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult - CE), promove o Festival de Gastronomia Afro-brasileira neste domingo, 20, data que marca o Dia da Consciência Negra. O evento acontece na Estação das Artes, complexo situado no Centro.

A programação destaca aula-show de receita afrodiaspórica com a professora, escritora e pesquisadora Aline Chermoula. Ela utiliza a inspiração da culinária afro-indígena para o preparo de mousse de inhame, cacau e macassá. "Estamos trazendo o conceito de cozinha ancestral para, além de reverenciar as nossas raízes, também ir contra o apagamento eurocêntrico que a modernidade e a globalização tendem a nos impor", explica a chef Marina Araújo, diretora do equipamento.

Ela evidencia que descolonizar a forma de "pensar, viver e fazer" a gastronomia brasileira é fundamental para a construção de um País mais inclusivo. É o que também defende a chef, influenciadora e apresentadora pernambucana Carmem Virgínia, que participa de roda de conversa sobre cozinha ancestral às 10h30min. "Um prato com feijão, farinha e arroz tem uma memória ancestral muito grande. Essas memórias fazem parte do nosso cotidiano e nós, negros, temos um jeito todo especial de tratar o alimento e as pesoas que comem", pontua Carmem.

Já familiar com o Estado, a pernambucana destaca a receptividade e a culinária do povo cearense. Nascida dentro do terreiro de candomblé, Carmem é neta de merendeira e teve a comida como base desde a infância. "A profissão de cozinheira era o que mais existia dentro da minha família. Eu até lutei contra isso, mas acho que me escolheu assim como os orixás me escolheram", rememora.

Aceitar a profissão, então, também foi escolher a missão de continuar o legado de gerações passadas. "Com um olhar voltado para coisas que também importam, como cuidar das pessoas através da comida, do afeto, com tudo o que passa pelas mão da minha gente. É a técnica, energia, aquilo que você carrega dentro de você", complementa.

A chef indica que a cozinha brasileira é pautada em três matrizes, sendo elas: africana, índigena e portuguesa. "Eu vejo muito mais a potência da comida negra, vejo muito em Minas. Já no Rio, assim como Recife, vejo a influência portuguesa. As pessoas se orgulham desse engenho, mas quem trabalhava nesses engenhos, quem fazia essa comida, eram as pessoas escravizadas. Apesar de todo o sofrimento que meu povo teve que passar, a gente deixou um legado que nunca vai embora", defende.

Para o evento do dia 20, Carmem ressalta que pretende resgatar valores como o orgulho e a gratidão. "Não importa se você vai comer filé mignon ou picadinho, o que importa é a forma que você faz. São as mãos que te apresentam o prato, a história que traz a comida é muito importante, está além do sabor. Para que as pessoas entendam que um bom prato de feijão, arroz, farofa e um pouco de peixa, é tão significativo. Ele é o retrato da nossa gente", arremata a chef.

O Festival ainda segue com três oficinas de turbante com a pesquisadora de identidade, moda e negritude Yasmin Djalo, entre 9h30min e 11 horas. As feiras gastronômicas e agroecológicas também estão entre as atrações. "Aproveitamos todo o universo semântico que envolve o cozinhar para desenvolver e propor as atividades", detalha Marina.

Para animar o público, o som fica por conta do DJ Viúva Negra, apresentação do Coco da Praia do Iguape com Mestre Chico Casueira e do grupo Samba Terreiro Tradição. "Nosso trabalho passeia pela difusão da gastronomia, salvaguarda da cultura alimentar, fomento da cadeia e demais aspectos que possibilitem com que a gastronomia do nosso Estado se expanda e se desenvolva cada vez mais", finaliza a diretora do equipamento.

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Veja a programação completa:

9h - Abertura
9h30 às 11h30 - Discotecagem com DJ Viúva Negra
9h30 - Aula-show com Aline Chermoula com transmissão ao vivo
9h30 às 11h - Oficinas de Turbante com Yasmin Djalo (três oficinas com 15 vagas cada)
10h30 às 11h30min - Roda de Conversa “Cozinha Ancestral” com Dona Carmem Virgínia e mediação de Marina Araújo
11h30 - Apresentação - Coco da Praia do Iguape do Mestre Chico Casueira
12h às 14h - Apresentação - grupo Samba Terreiro Tradição

Festival de Gastronomia Afro-brasileira

Quando: neste domingo, 20, das 9 às 14 horas
Onde: Estação das Artes (rua Dr. João Moreira, 540 - Centro)
Gratuito

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