Artista cearense Arquelano compartilha processos do novo EP, "Pista"
Após lançar o single "Em Outra", do novo EP "Pista", e fazer show no Rock in Rio, Arquelano compartilha detalhes do trabalho
13:54 | Out. 26, 2022
Em abril de 2019, a matéria do Vida&Arte sobre o lançamento do EP "Ponto" — o primeiro da carreira do produtor, cantor e compositor maracanauense Arquelano — começava citando versos da canção "Salão das Ilusões": "Tô no caminho / Eu tenho medo / Vou mesmo assim". Se na época o trecho se relacionava à ideia de se arriscar no projeto, hoje — depois de um "processo de ascensão" pausado pela pandemia e até impactos físicos da covid-19 — a afirmação por insistir em seguir ressoa no artista. Apresentando os primeiros passos do próximo EP "Pista" — com lançamento em 25 de outubro — e tendo apresentado o trabalho no Rock in Rio, Arquelano inaugura nova era em busca de expansão — de si e dos caminhos possíveis.
"Ponto" foi a conclusão do percurso do Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes, no qual o projeto teve tutoria da cantora carioca Mahmundi. A circulação do trabalho, porém, foi interrompida pela pandemia, que atravessou inclusive fisicamente artista, que teve covid-19 logo em março de 2020.
"Acabei tendo sequelas respiratórias durante seis meses, ficava extremamente cansado com pouco esforço físico. Passar por isso foi uma experiência que me mudou completamente, mudando meus objetivos de vida e carreira", compartilha. O que estava planejado foi cancelado ou adiado e, em meio à dor e a um "processo de ascensão que foi pausado", o escape foi a arte.
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"Encontrei na música e na dança, que foi muito importante no meu processo de reabilitação da covid, esse lugar. Escrevi muito e estudei sobre assuntos que não tinha muito domínio, para que, quando as coisas retornassem, voltasse mais forte", avança Arquelano.
A concretização do novo EP surgiu a partir de recursos oriundos da Lei Aldir Blanc no Ceará. "Já tinha algumas músicas parcialmente escritas e compostas, então convidei a Emília Schramm (cantora e compositora também parceira no EP anterior) para chegar no processo das demais canções", contextualiza. O trabalho tem, ainda, produção musical de Felipe Couto, que atua em grupos como Astronauta Marinho e Leves Passos.
"Foi um processo de curadoria dentro do que tinha escrito, vendo temas e o que faria sentido como um EP. Acabei optando pelo que falava sobre a superficialidade das relações amorosas, muito atravessadas pela minha vivência como jovem negro, LGBTQIA e periférico em alguns espaços festivos de Fortaleza", detalha o artista. "Depois, percebi que ia muito além disso. Questões como a maturidade para seguir em frente, a solidão e sexualização do corpo negro também são abordadas", avança.
Comparando os EPs, Arquelano aponta diferenças que residem, em especial, em maturidade e profundidade adquiridas com a experiência. "'Pista' é iniciado com toda a bagagem de aprendizado dos últimos anos. É bem mais maduro em questões de letra, composição, produção, performance vocal e estratégia. Em 'Ponto', íamos aprendendo a ser no caminho", explica.
Sonoramente, inclusive, Arquelano vai de uma produção musical "bem minimalista" para outra "complexa" e de "muita energia, pois, afinal, é um trabalho pop, com influências do R&B, disco, funk, house, samba e outros gêneros musicais de origem negra", elenca.
Poucos dias após o lançamento do single "Em Outra", o universo de "Pista" foi apresentado no Rock in Rio deste ano a partir do concurso "Gerdau, me leva pro Rio", amadrinhado pela cantora Ivete Sangalo e que escolheu três projetos musicais do País dentre mais de 300 inscritos. "Tocamos algumas músicas do 'Pista' e foi sensacional iniciar a fase pop da minha carreira no dia pop do maior festival do mundo. Um sinal daqueles do universo", celebra.
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"Em Outra", escrita por Arquelano e Emília, faz aspectos do funk e da música eletrônica, além de um clipe que, com a presença das bailarinas Silvia Miranda e Larissa Ribeiro, destaca a dança. O artista adianta que cada faixa do EP será acompanhado de um conteúdo audiovisual.
Destacando a polissemia do termo que dá nome ao novo EP — "caminho, festa, vestígios" — Arquelano reflete: "Pista é o que indica a existência ou a possibilidade de algo. Indício. Pessoas que passam pela nossa trajetória, passageiras. A pista é um caminho para algo. Se encontrar, desencontrar com alguém. Relacionamentos que passam tão rápido como uma noite. Caminhos que levam ao mar. Seguir correndo".
"Depois de ter vivido toda essa experiência da pandemia, hoje tento viver um dia de cada vez, sem pensar muito no futuro. Hoje me estruturei para agarrar bem as oportunidades que surgirem e façam sentido com a minha trajetória", afirma, vendo em "Pista" uma chance de "ampliar" o público e "desenvolver uma carreira sustentável, para viver, construir e investir em novos trabalhos".
"Foram muitas idas e vindas, muito suor, muita caminhada, muita insistência, muito acesso a políticas públicas de cultura e educação para me tornar o que sou hoje. Quando não se é herdeiro e sem acesso aos privilégios da estrutura da branquitude, a caminhada é muito mais árdua. Mas continuo na tentativa. Continuo na pista", avisa.
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