Clássicos da televisão consolidam sucesso das novelas em 2022

Personagens e enredos de clássicos das novelas brasileiras retornam à programação das emissoras. Especialista afirma que resgate televisivo tem apelo com o público

Próxima novela de Glória Perez, “Travessia” tem a responsabilidade de segurar a audiência do horário nobre da TV Globo a partir desta segunda-feira, 10, após o sucesso de “Pantanal”. Ambas têm em comum o elemento da nostalgia e retomam enredos já conhecidos pelo público. O primeiro título resgata personagens de “Salve Jorge” (2012), enquanto o remake da produção de Benedito Ruy Barbosa revive as narrativas ao redor de Juma (Alanis Guillen) e Jove (Jesuíta Barbosa).

Produções similares, a exemplo de reprises e spin-offs (obras derivadas de alguma série televisiva ou filme), emplacam com êxito em 2022. A já citada “Pantanal” alcançou a maior audiência da emissora e liderou o ranking de novelas mais comentadas do Twitter durante o primeiro semestre do ano, com mais de 2 milhões de tweets na plataforma. “Ti Ti Ti” (2011) e “O Clone” (2002) também integram a lista.

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“Os remakes e reprises são aquela aposta certeira. No remake, se pega uma história de sucesso e atualiza com fatos que estão em alta. Pode, inclusive, acertar erros antigos. Apesar de estar em cima de uma história já veiculada, pode ter elementos atuais. Já as reprises são aquelas novelas que marcaram época e que estão aí para levantar um horário da programação, fazer com que os telespectadores matem a saudade”, explica a jornalista Manuela Costa Bandeira de Melo, mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC - SP). A comunicadora é autora do livro “TELENOVELA - O Amor em Doses Diárias” (2015).

Record de audiência, "Avenida Brasil" completa 10 anos em 2022
Record de audiência, "Avenida Brasil" completa 10 anos em 2022 (Foto: Divulgação/TV Globo)

A profissional lembra que a novela é um estilo construído com base na narrativa seriada, com origem nas radionovelas, no melodrama e nas histórias folhetinescas. O formato surgiu no Brasil por volta de 1950 por meio das adaptações de radionovelas, e revelou artistas como Fernanda Montenegro e Lima Duarte. "Ao longo dos anos, sofreram diversas transformações temáticas e estruturais. Passaram a ditar moda, costumes e hábitos que foram incorporados pelos brasileiros", desenvolve.

Streaming e pandemia

O modelo é consolidado no gosto do público brasileiro há, pelo menos, 40 anos. Grande parte do impulsionamento de audiência das emissoras vem, inclusive, do horário nobre - a partir das 20 horas - preenchido pelas novelas. Atualmente, a Globo tem seis faixas de novela; enquanto o SBT soma cinco e a Record totaliza três. Já na TV paga, o Viva disponibiliza quatro horários para o formato.

Os números constantes de telespectadores demarcam que o modelo ultrapassou as aparentes ameaças do streaming, fator que poderia influenciar nos índices de alcance. "É notável que as plataformas de streaming impactaram a produção e veiculação das novelas'', sinaliza Manuela. Entretanto, projetos deste nicho se destacam pela periodicidade. "São acompanhadas dia-a-dia, de segunda a sábado, e cada capítulo traz uma novidade. O público influencia diretamente nos rumos da história. Durante a exibição de novelas, é comum a realização de pesquisas de audiência, que são responsáveis por dar o tom das histórias e pelas reviravoltas dos personagens", complementa.

Sophia Valverde e Igor Jansen são protagonistas de "Poliana Moça"
Sophia Valverde e Igor Jansen são protagonistas de "Poliana Moça" (Foto: Divulgação)

Já na pandemia, a estratégia foi trazer clássicos para preencher a grade no período de quarentena, visto que a gravação das tramas foram interrompidas. Na mesma linha, a plataforma de streaming Globoplay reviveu o acervo de novelas e disponibilizou 50 tramas clássicas. "Explode Coração" (1995), "Vale Tudo" (1998) e "Laços de Família" (2000) são alguns dos nomes do catálogo. "Quem não lembra da discussão sobre doação de medula óssea em "Laços de Família"? Algumas vezes, as narrativas fundem o tempo real com o ficcional, retratando um momento político que o País vive ou trazendo polêmicas que estejam em destaque", afirma a jornalista.

Novelas e o imaginário popular

A comunicadora atrela tamanho sucesso à aproximação da ficção com a realidade, sendo um meio de "extrapolar os limites da telinha" e transformar os capítulos em debates válidos. Ela cita, por exemplo, a ditadura militar, a corrupção, o tráfico de pessoas e até mesmo o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo. "Assistir uma telenovela é muito mais do que somente vê-la, é estar envolvido em sua trama, se deixar levar pelo suspense. É compartilhar emoções com as personagens, discutir suas motivações psicológicas e suas condutas, decidindo o que é certo ou errado. Em outras palavras, é viver seu mundo", sintetiza Manuela.

A jornalista define as telenovelas como a união entre entretenimento e realidade. "As telenovelas permeiam a nossa imaginação, durante nove meses acompanhamos com afinco as histórias dos personagens. Essas narrativas seriadas servem de pauta, alimentando os meios de comunicação e são combustível de assunto para as conversas informais entre pessoas", finaliza.

Vale ver de novo!

“Travessia”

O folhetim escrito por Glória Perez, responsável por "Caminho das índias" (2009) e "0 Clone" (2002), tem direção artística de Mauro Mendonça Filho, que trabalhou em "Verdades Secretas" (2017). A sucessora de "Pantanal" (2022) foca em Brisa (Lucy Alves) e seu namorado, vivido por Chay Suede. Ela tem problemas com crimes virtuais e precisa do apoio do hacker Oto (Estrela) em sua jornada. A novela faz uma ligação com "Salve Jorge" (2012) e traz de volta o casal formado pela delegada Helô (Giovanna Antonelli) e o advogado Stenio (Alexandre Nero), que viveram um romance conturbado na produção anterior.

“Poliana Moça” (2022)

"Poliana Moça" se desenvolve em um contexto de sequência de "A Vida de Poliana" (2018), ambas desenvolvidas pelo SBT. Neste novo momento, a jovem precisa combater os dilemas típicos da adolescência, como os dramas escolares e a descoberta de um amor. O cearense Igor Jansen integra o elenco como o personagem João.

“A Favorita” (2008)

"A Favorita" é uma das preferidas do público brasileiro e é o título da vez no "Vale a Pena Ver de Novo", programa de reprises da TV Globo. A trama acompanha Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia), irmãs que formam a dupla sertaneja Faísca e Espoleta. Elas se envolvem em um conflito após Flora ser acusada de matar o marido de Donatela.

“Avenida Brasil” (2012)

Além das reprises e remakes, este ano também marca 10 anos de obras da televisão brasileira, como "Cheias de Charme" (2012). Outro folhetim que completa aniversário é "Avenida Brasil" (2012), sucesso que rendeu um dos maiores ibopes da Globo, com 50,9 pontos de audiência. A trama ainda rendeu vários memes e apresentou os personagens Tufão (Murilo Benício) e Carminha (Adriana Esteves). Nas redes sociais, fãs repercutem os memes da obra e pedem por uma sequência da história.

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