Lázaro Ramos "abre caminhos" para falar de paternidade no cinema
O artista esteve em Salvador para lançar a comédia dramática "O Papai é Pop", que estreia nesta quinta, 9 de agosto, nos cinemas
18:29 | Ago. 09, 2022
A vida de Tom passa por uma reviravolta quando Elisa conta que eles dois terão uma filha, a pequena Laura (Malu Aloise). O personagem interpretado por Lázaro Ramos nunca tinha se preparado para a paternidade, mas vê a criança ali, batendo na porta e precisa aprender, nem que seja "na tora". E erra bastante até conseguir trilhar o seu próprio caminho.
Essa é a tônica do filme "O Papai É Pop", inspirado no livro de Marcos Piangers e estrelado por Lazinho, ao lado de Paolla Oliveira, Elisa Lucinda, Dadá Coelho e Leandro Ramos. Dar vida a um pai sempre foi um sonho do baiano, papai de João Vicente, 11 anos, e Maria Antônia, 7.
“Há alguns anos que tento fazer um filme sobre paternidade. Me ofereci para um monte de diretor, pedia para escreverem um pai para eu fazer no cinema. Dizia ‘eu quero falar desse assunto’ e não rolava”, contou Lázaro, que foi a Salvador para lançar a produção. Ele diz que ficou muito feliz ao receber o convite do diretor Caito Ortiz para o filme, que estreia quinta-feira, 11.
“É um tema que dá para fazer vários filmes, eu quero fazer vários 'Papai é Pop', quero fazer outros pais em outros filmes, mas esse é ótimo para começar a conversa. Tem situações que a gente conhece com facilidade, se identifica, frases que a gente já ouviu e já disse. É bom começar por um lugar que todo o mundo vai captar e entender”, avalia.
Ele cita, por exemplo, os dados alarmantes de ausência e abandono paternos no país, que pulou de 5 para 11 milhões de pais que não registram seus filhos, entre 2018 a 2020. “A gente precisa conversar muito sobre esse assunto e o filme chega nesse lugar da comédia com emoção, entra no assunto e a gente pretende falar muito mais. Estou tentando forçar os produtores a fazer a continuação, estou pesquisando outros perfis e histórias de pais para contar. A gente tem que falar disso sempre, tem que virar rotina”, afirma.
O filme ainda mostra um cenário comum na relação pai-mãe-filho: enquanto Tom tem tempo para errar e encontrar um caminho, Elisa (Paolla Oliveira) vive a pressão de precisar acertar e ter que dedicar todo o seu tempo à criança. A pressão vem de si própria, de sua mãe e do entorno. A produção aposta na comédia para mostrar como a transformação de Tom afeta não apenas a sua própria vida, mas de toda a família.
A trajetória do protagonista traz ainda uma reflexão sobre o que a sociedade enxerga como um pai presente. A adaptação de Tom à nova vida interfere no vínculo do casal, além de mexer com a relação de Tom com sua mãe, Gladys (Elisa Lucinda), que o criou sozinha. Tom precisa ressignificar tudo que aprendeu e entender a importância de uma paternidade ativa.
"É a primeira vez que tem um filme fala do do pai nesse lugar, é diferente do pai que abandona a família e sai da narrativa e também do pai super-herói, sem uma trajetória da construção da paternidade. Eu percebo uma mudança de perfil nessa geração", afirma Lázaro Ramos
Lázaro conta que Tom é uma versão de si próprio. “Eu não sou tão vacilão”, diz, aos risos, antes de confessar que já cometeu muitos erros, como o personagem. “Ele me trouxe muitas coisas, primeira a compreensão de que a responsabilidade pela criação é de todos nós, claro que, primeiro, de pai e mãe, mas todos nós somos pais das crianças de alguma maneira. Todo mundo influencia no jeito que as crianças estão sendo criadas”, observa.
Pai e filho
Lázaro está aproveitando o próprio trabalho para rever questões de masculinidades e paternidade, inclusive com seu pai. Os dois escreveram o roteiro de uma campanha emocionante para a Hering falando sobre o tema, para o Dia dos Pais. Lázaro conta que tem admiração por seu pai, mas que, por ser de uma geração diferente, a maneira como seu Ivan mostrava a ele o carinho era diferente do que ele aprendeu e quer praticar com seus filhos.
“Tenho uma admiração profunda por meu pai, que sempre esteve presente, foi provedor, amigo. Mas a coisa do afeto não foi tão comum e isso em alguns momentos fez falta. Fomos aprender outras maneiras de ser pai e filho com o tempo e hoje a relação está bem redondinha. Temos o momento de amigo, o momento tradicional, o momento do afeto. Isso mostra como essas coisas são construídas ao longo do tempo também. Não há fórmula pronta e há possibilidades de reinvenção”, disse.
Ainda em Salvador, onde ficou até madrugada desta terça, ele recebeu o roteiro de "Ó Paí Ó 2" e começou a fazer a leitura, já carregado de ansiedade para iniciar as gravações. “Estou doido pra voltar logo, passar um bom tempo e continuar por aqui gravando, produzindo ao lado do Bando de Teatro, de meus amigos. É algo que alimenta minha alma”, disse Lázaro. A expectativa é começar a rodar as filmagens até o primeiro semestre de 2023.
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