Caetano Veloso 80 anos: a trajetória do artista para além da música

Cantor, compositor, produtor e escritor brasileiro, Caetano Veloso se consagrou como um dos mais importantes nomes da música brasileira; relembre a trajetória do artista

Caetano Veloso é um daqueles grandes nomes das artes que dispensa introduções. O cantor e compositor, que completa 80 anos neste domingo, 7 de agosto, é um dos artistas consagrados da música brasileira. Com uma trajetória extensa que percorre quase seis décadas, fez parte de movimentos culturais, foi um dos músicos que se manifestaram contra a ditadura militar e compôs canções que se fixaram no imaginário do País.

Com 30 álbuns de estúdio, quase 20 discos gravados ao vivo e algumas coletâneas, sua carreira é difícil de resumir em alguns parágrafos. Atuante desde a década de 1960, seu trabalho musical começou a ser reconhecido nacionalmente por causa de “Sol Negro”, canção de sua autoria que foi gravada pela irmã, Maria Bethânia, um nome já conhecido no mercado fonográfico da época. Uma curiosidade: nesta faixa, Bethânia canta ao lado da estreante Maria da Graça, que futuramente seria conhecida como Gal Costa.

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No fim dos anos 1960, tornou-se um dos precursores da Tropicália ao lado de Gilberto Gil, Capinam, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e Torquato Neto. O movimento cultural, que acontecia em plena ditadura militar (1964 - 1985), buscava uma música verdadeiramente brasileira a partir da incorporação de referências diversas.

Em um momento em que pessoas realizaram uma marcha contra guitarras elétricas (símbolo da “invasão” internacional), os artistas tropicalistas se utilizaram de sons variados para buscar uma espécie de identidade nacional. Era o nacional para o internacional. Naquele período, Caetano Veloso lançou músicas consagradas como “Tropicália”, “Soy Loco Por Ti América” e “Alegria, Alegria”.

Mas logo veio o exílio durante o regime militar, quando foi para Londres junto com o amigo Gilberto Gil. Em território inglês, gravou o álbum “Transa” - uma ironia a um pedido dos militares de que compusesse uma canção abordando o lado positivo da rodovia Transamazônica. Neste trabalho, há faixas como “You Don’t Know Me”, “Triste Bahia”, “It’s a Long Way” e “Neolithic Man”.

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Alguns anos depois de sua volta ao Brasil, participou do grupo Doces Bárbaros com Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. O quarteto, que comemorava uma década de carreira com uma turnê nacional, produziu canções exclusivamente para as apresentações e incorporava elementos visuais típicos do movimento hippie.

Nas décadas seguintes, ele continuou lançando álbuns constantemente, sempre com características que se firmam em seu trabalho, como a linguagem poética, a ironia, as reflexões sobre a vida e os sentimentos de amor.

Recentemente, divulgou o disco “Meu Coco”, o primeiro de produções inéditas depois de nove anos. Há faixas como “Meu Coco”, “Não Vou Deixar”, “Anjos Tronchos”, “Enzo Gabriel”, “Sem Samba Não Dá” e “Gilgal”. Entre as músicas, faz homenagens a artista brasileiros, explicita sua relação com o neto e critica a atual situação do País.

Com uma trajetória longa, consagrou-se como um dos grandes nomes da música, porque, afinal, quem nunca escutou “Sozinho”, “Reconvexo”, “Cajuína” ou “Leãozinho”? Há, inclusive, uma reportagem do O POVO também publicada neste sábado, 6, que apresenta alguns dos principais lançamentos de Caetano Veloso.

Mas, apesar dessa breve introdução sobre a trajetória do artista (imprescindível para sua homenagem de 80 anos), essa matéria se propõe a destrinchar trabalhos do cantor que não são tão conhecidos pelo público. Ele, que teve sua atuação prioritariamente na música, também lançou livros e até participou de filmes. Confira algumas obras de Caetano Veloso para além das canções:

Filmes

Mora na Filosofia (1964)

O espetáculo dirigido por Caetano Veloso no Teatro Vila Velha, em Salvador, marcou o primeiro show individual de Maria Bethânia que, na época, tentava mostrar seu potencial como cantora. A montagem contou com cenário de Calazans Neto e foi emprestado da peça “Eles não usam black-tie”. A artista interpretou canções como “O Morro”, de Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri, e “Favela”, de Heckel Tavares.

Os Herdeiros (1970)

Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo, movimento que se opôs às produções tradicionais brasileiras e evidenciou as desigualdades sociais do País, foi o diretor do filme “Os Herdeiros”. O roteiro, que revela a vida de uma família durante diferentes governantes do Brasil, foca no personagem Jorge Ramos. Ele é um jornalista que se casa por interesse e se torna um político importante. No longa-metragem, Caetano Veloso apresenta os números musicais ao lado de Nara Leão (1942 - 1989).

Onda Nova (1983)

Caetano Veloso também fez participação especial no filme “Onda Nova”, dirigido por José Antônio Carcia e Ícaro Martins. No enredo, jovens mulheres criam um time de futebol feminino chamado “Gaivotas Futebol Clube”. História, que traça um panorama da juventude paulistana da década de 1980, mostra as alegrias e frustrações das protagonistas.

O Cinema Falado (1986)

Com direção de Caetano Veloso, documentário faz entrevistas com personalidades como Gilberto Gil, Elza Soares, Lulu Santos, Dorival Caymmi e Regina Casé. As filmagens, realizadas na casa do cantor no Rio de Janeiro, revelam as opiniões dos entrevistados sobre temas diversos, como música, filosofia, cinema e literatura.

Hable Con Ella (2002)

Neste filme de Pedro Almodóvar, Benigno Martin é um enfermeiro que acompanha o cotidiano da academia de balé de Katerina Bilova, que fica na frente de sua casa. O personagem tem curiosidade por Alicia Roncero, uma das estudantes, que é ferida em um acidente de carro e fica em coma. Ele começa a cuidar da jovem enquanto ela está no hospital. Na história, Caetano Veloso apresenta a canção em espanhol “Cucurrucucu Paloma”, com Jacques Morelenbaum.

Livros

Verdade Tropical (1997)

No livro “Verdade Tropical”, Caetano Veloso não se aprofunda apenas na própria trajetória, mas também traça um panorama da história da música brasileira. Entre memórias e conteúdos de pesquisa, aborda o período do tropicalismo e a ditadura militar. Fala sobre a prisão no fim dos anos 1960 e o exílio em Londres. Trata, também, de outros momentos importantes e faz análises sobre a cultura e a política brasileira.

O mundo não é chato (2005)

Esse livro de Caetano Veloso reúne textos escritos pelo artista em jornais, revistas, prefácios e em outras plataformas. A partir dessa junção de trabalhos, a obra mostra a visão do artista sobre diferentes temáticas que vão desde a música até a política. Ele, que se propõe a fazer um relato sobre o Brasil e o mundo, perpassa nomes como Gilberto Gil, Cazuza, Tom Jobim, Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues, Fernando Pessoa, Pelé e Elis Regina.

Comemoração dos 80 anos

No dia de seu aniversário, Caetano Veloso sobe ao palco da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, para o "Especial Caetano Veloso 80 Anos", que terá transmissão ao vivo e simultânea no Globoplay, para não assinantes logados, e no Multishow. O show ainda terá um trecho ao vivo durante o Fantástico, na TV Globo. A celebração, que começa às 20h30min, terá o comando da cantora Iza. (Correio 24 Horas)

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