Série Grandes Nomes: "O teatro vai sobreviver", afirma Karla Karenina
Convidada do projeto Grandes Nomes, transmitido pelas redes sociais do O POVO, a atriz Karla Karenina relembra o início da carreira e reflete sobre o futuro do teatro
19:07 | Jun. 21, 2022
Foi com a personagem Meirinha, de tom espontâneo e divertido, que a atriz, escritora e diretora teatral Karla Karenina conquistou projeção nacional. Por trás do grande alcance adquirido no programa humorístico Escolinha do Professor Raimundo, da TV Globo, está uma trajetória firmada em diferentes aspectos da arte.
A artista abordou detalhes da sua carreira nesta terça-feira, 21, em conversa com as jornalistas Camila Lima e Juliana Montenegro no projeto Grandes Nomes, transmitido pelas redes sociais do O POVO e pela rádio O POVO CBN.
Os primeiros passos na área aconteceram ainda na adolescência, com a dança e canto, mas a cearense logo migrou para apresentações teatrais em bares de Fortaleza. Karla conta que se “descobriu” artista no final dos anos 1980, quando começou a divulgar Meirinha.
"Ela foi uma máscara, com o jeito corajoso, despachado. Ela me protegeu não só dos estigmas, dos preconceitos, mas também do universo do humor, que era predominantemente masculino. Os desafios eram ser aceita e reconhecida", comenta.
A transição marcou um novo momento na cena cultural cearense, visto que os shows eram feitos ao lado de nomes então expoentes, como Falcão. "Cada um tinha seu público e, quando juntou, foi um sucesso. Acho que foi o segundo 'boom' cultural do Estado. O primeiro foi o Pessoal do Ceará e o segundo o nosso, porque muitos humoristas se lançaram. Com certeza a gente abriu uma porta imensa para que a linguagem do humor fosse conhecida como arte e referência cultural do nosso povo", opina.
Depois de temporada com seu próprio programa na TV Educativa do Ceará, Karla foi ao Rio de Janeiro em 1993, para compartilhar sua principal personagem com o público do humorista Chico Anysio.
Deixar os familiares para enfrentar uma nova realidade sozinha foi desafiador. "Foi um período muito sofrido e complicado, tinha uma autoestima muito baixa, dificuldade de me aceitar. Vivi uma fase muito difícil de me sustentar emocionalmente longe da família, me sentindo culpada como mãe, mas tudo isso me fez resistir, ficar firme e construir uma carreira bonita", relembra.
Carreira
Desde então, a profissional atuou em novelas como "Morde e Assopra" (2011), "Velho Chico" (2016) e a "Força do Querer" (2017), trabalho que rendeu indicação ao prêmio de Atriz Revelação no "Troféu Domingão", com a personagem Dita.
Entre os títulos do cinema, esteve em "cilada.com" (2011), "Cine Holliúdy" (2013) e "Shaolin do Sertão". Ela também marcou presença nas séries "#mechamadebruna", da Fox Premium, e "Os Roni", do Multishow.
Nos demais campos, Karla ocupa a cadeira 24 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e também já colaborou como coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS - AD Alto da Coruja).
Desde 2009, trabalha como terapeuta de regressão de memória, com formação em Deep Memory Process (DMP) e Psicodrama Transgeracional. "Eu descobri que a atriz sempre foi terapeuta e a terapeuta pode ser atriz. Para mim, está misturado. Trabalhar com a sensibilidade humana, provocar a catarse, é a grande missão do artista e do terapeuta", afirma.
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Regressão de memória e literatura
A experiência na terapia serviu como inspiração para o livro "Como Dantes", seu primeiro romance, disponível para venda na Amazon. A história narra relatos da atriz em sessões de regressão de memória, realizadas durante formação com o psicólogo inglês Roger Woolger.
"Quando você vai se submeter a uma regressão, a gente começa de um ponto, um trauma, bloqueio, complexo. Eu comecei pela minha falta de autoestima, me sentia diminuída, não me validava, tudo muito irracional. Na sessão, eu voltei a uma história em que eu era outra personagem, provavelmente do século XIX, e fui entender o porquê de repetir tantas coisas", explica.
O livro é "meio autobiográfico", visto que também conta um pouco da sua trajetória artística. Ela ainda detalha o processo do método: "Não necessariamente é a vida passada, pode ser fantasias de vidas passadas. Para nós, terapeutas, não interessa. É uma forma do nosso inconsciente acessar uma história que, muitas vezes, está guardada até no corpo. A gente não entra num transe, a gente entra em um estado de consciência alterado, mas há um diálogo como terapeuta. Eu contraceno com o paciente, para servir de escada para que ele conte essa história".
Políticas públicas
Em fevereiro de 2021, Karla foi empossada como diretora do Teatro São José, equipamento fundado em 1914. "A gente foi vendo as políticas públicas desmoronando, temos sorte que ainda existe briga para manter um orçamento mínimo que possa dignificar a classe artística. Essa forma de construir a cultura foi uma conquista com muita luta e dor. Não está fácil ser artista. É muito triste o que a gente está vendo acontecer, espero que a gente possa revirar esta página", acrescenta.
Em uma perspectiva que considera "realista", a atriz opina que ainda há espaço e demanda para os artistas. "É muito difícil você competir com essa massificação, com a fome do efêmero que se faz nas redes sociais. A gente já atravessou tantas fases na história da humanidade e o teatro sempre permanece, porque é uma necessidade do ser humano. No Ceará, não tem essa cultura de ir ao teatro, mas, quando é oferecida a oportunidade, as pessoas vão e amam. Se não, a gente não estava insistindo. Eu acho que o teatro vai sobreviver, mais uma vez, à sedução do efêmero".
Grandes Nomes 2022
O "Grandes Nomes" foi o primeiro trabalho desenvolvido pelo núcleo de projetos especiais do O POVO, em 2003, como iniciativa da rádio O POVO CBN. Anualmente, o Grupo recebe cinco nomes de diferentes áreas de atuação e com notável reconhecimento do público brasileiro e, em particular, cearense.
Nesta nova edição, outras três personalidades serão entrevistadas, das 11h às 12 horas, com transmissão nas redes sociais do O POVO (acompanhe pelo Facebook e Youtube). As apresentações são feitas pela jornalista Camila Lima, sob a coordenação geral de Nazareno Albuquerque e coordenação executiva de Valéria Xavier, do O POVO. O projeto tem patrocínio da Assembleia Legislativa do Ceará e do Sebrae-CE.
Nestes 19 anos, já foram entrevistados nomes como Chico Anysio, Elke Maravilha, Zilda Arns, Kennedy Alencar, Marina Silva, Natalia Pasternak, Ricardo Galvão, Camilo Santana, Severino Ramalho Neto, Carlos Lupi e Luiza Trajano.
Nesta quarta-feira, 22, o convidado será o jornalista Juca Kfouri. Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), é autor do livro "Confesso que perdi: memórias" (2017). A obra retrata experiências marcantes de grandes personalidades brasileiras.
Sequência de entrevistas desta semana:
- Quarta (22): Juca Kfouri, jornalista esportivo (entrevistado pelo jornalista Brenno Rebouças);
- Quinta (23): Joaquim Melo, empreendedor social e criador do Banco Palmas (entrevistado pelo articulador regional do Sebrae, Pedro Silva);
- Sexta (24): Geraldo Azevedo, cantor, compositor e violonista (entrevistado pelo jornalista Marcos Sampaio).
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