No Rock In Rio Lisboa, Anitta fala sobre Amazônia: "Terra de ninguém"
Após o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, Anitta desabafou sobre o descaso que acontece na região
10:39 | Jun. 27, 2022
Em sua passagem por Portugal, Anitta não levou apenas o funk e as cores verde e amarelo para o Rock in Rio Lisboa. Cada vez mais politizada, a cantora aproveitou a ocasião para expor a realidade da Amazônia. Fazendo referência ao caso recente do assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, Anitta denunciou as mortes que acontecem no local.
“É sempre importante lembrar pra quem não sabe, pra quem nunca foi no Brasil, alguém aqui de Portugal que nunca tenha ido, a Amazônia é uma grande terra de ninguém, é uma grande bagunça. Lá acontece de tudo, ninguém vê nada, é uma coisa que precisa de atenção", declarou. “Quem se expõe para falar acaba morto, acaba com a família torturada, acaba tomando um cala a boca de algum jeito”, afirmou. “E se vier me matar, vai ter que aguentar a assombração que eu vou virar depois", disse.
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No dia 5 de junho, o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados durante uma viagem pelo Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, localizada no extremo-oeste do Amazonas. A dupla viajava a região para entrevistar indígenas e ribeirinhos em meio a produção de um livro sobre a Amazônia.
“A Amazônia é o grande tesouro do nosso país, e as pessoas a tratam como nada. É inaceitável que esse lugar seja perigoso de uma pessoa ir visitar", desabafou Anitta.
a anitta falando sobre o que rola na amazônia, ela não tem medo do ban mesmo amooo pic.twitter.com/xS6EhVxhOt
— matheus (@whomath) June 26, 2022Caso Bruno Pereira e Dom Phillips:
Bruno e Dom se encontraram em Atalaia do Norte. No dia 3 de junho, foram ao Lago do Jaburu, próximo a Base de Vigilância da Funai, para que o jornalista realizasse entrevistas com indígenas. Dois dias depois, eles se deslocaram para a comunidade São Rafael, onde fariam uma reunião com um pescador local, com o objetivo de discutir trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do Vale do Javari, território afetado por invasões e atividades criminosas. No entanto, o pescador não estava no local e a dupla decidiu retornar para Atalaia do Norte. Porém, durante o trajeto, os dois foram assassinados.
No dia 15 de junho, Amarildo da Costa de Oliveira confessou o crime. A Polícia Militar já havia revistado a casa do suspeito no dia 7 após denúncias anônimas. Amarildo revelou às autoridades o local onde havia enterrado o corpo. Os restos mortais encontrados foram periciados e confirmados como pertencentes a Bruno Pereira e Dom Phillips.
O crime repercutiu internacionalmente e gerou uma série de críticas ao governo federal, que a partir de medidas tomadas enfraqueceu instituições destinadas a proteger a região. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro chegou a culpar as vítimas pelo acontecido.
Mortes na Amazônia
De acordo com relatórios da CPT (Comissão Pastoral da Terra), entidade ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a região da Amazônia já soma pelo menos 313 mortes por conflitos no campo nos últimos dez anos, o que representa 77% do total de mortes envolvendo disputas por terra ou água em zonas rurais do país. No entanto, a Amazônia só concentra 24% da população rural do Brasil, ou seja, proporcionalmente, possui três vezes mais conflitos.
O número de conflitos por terra no período de gestão de Bolsonaro supera qualquer mandato de governo completo desde a redemocratização em 1985. Entre 2019 e 2021, o Brasil já registrava 4.078 conflitos por disputas no campo.
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