Kalush Orchestra, favorita do Eurovision que vem da Ucrânia
É raro, na história do festival da canção europeia, um grupo estar tão firmemente situado na preferência do público como a banda ucraniana com "Stefania". Em face da guerra, sua participação vai muito além da músicaOs agentes de apostas comprovam: pouco antes da final, os concorrentes da Kalush Orchestra estão, de longe, à frente do Festival da Canção Eurovision 2022 (Eurovision Song Contest – ESC), na preferência popular. É comum as quotas oscilarem na última semana do concurso, porém desde março os ucranianos são primeiro lugar incontestado. Antes do começo da guerra na Ucrânia, a situação era bem diferente: entre os 40 candidatos, a banda ocupava apenas uma posição mediana na preferência do público.
Será esse triunfo musical uma mensagem de solidariedade massacrado por uma brutal invasão, ou o grupo liderado por Oleh Psiuk e sua canção "Stefania" são mesmo tão bons que merecem o título disputado em Turim? O carismático vocalista é da cidade de Kalush, no oeste da Ucrânia. Seu ídolo era Eminem, e tudo o que ele queria era fazer música como o rapper americano. Psiuk ainda estudou engenharia florestal em Kiev, mas em 2019 acabou fundando a banda Kalush, junto com o multi-instrumentista Ihor Didenchuk, o DJ MC KilimMen e o dançarino Danyil Chernov.
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Entre a luta contra Rússia e o festival da canção
Baseando seus números sobretudo em cooperações com outros/as artistas ucranianos, e a popularidade da banda cresceu rapidamente no país. Depois da canção "Dodomu", junto com o músico Skofka, que já foi clicada quase 24 milhões de vezes no YouTube, a gravadora multinacional de rap Def Jam fechou contrato com eles. Hoje um dos mais conhecidos jovens músicos da Ucrânia, Psiuk tem como marcas registradas o chapéu rosa-choque e o traje de caráter folclórico.
Em 2021, lançou um novo projeto, a Kalush Orchestra, completada por Tymofii Muzychuk e Vitalii Duzhyk, que, com seus multi-instrumentos, trouxeram ainda mais folclore ao som da banda. Foi com essa formação que o grupo se lançou no Eurovision. Nas classificatórias na Ucrânia, ficou só em segundo lugar, porém a vencedora original, Alina Pash, se retirou da raia. Devido à guerra iniciada contra o país em 24 de fevereiro, quase não tiveram tempo para o ensaiar, como revelou Psiuk em entrevista à revista alemã Der Spiegel.
Quando possível, encontraram-se online, mas de resto tinham assuntos bem mais urgentes de que se ocupar: "Nosso MC KilimMen participou da defesa territorial de Kiev. Eu fundei minha própria organização de voluntários, nós ajudamos no alojamento e transporte de refugiados, com cuidados médicos e muitas outras coisas", contou o vocalista.
"Vou sempre voltar para casa, mesmo por ruas destruídas"
Agora eles são vistos não só como representantes de seu país, mas também como embaixadores. O próprio presidente Volodimir Zelenski lhes concedeu licença especial a viajarem para a missão "vitória no Eurovision". Antes de chegar à italiana Turim, palco do concurso, apresentaram-se em diversas outras cidades europeias, sempre recebidos por uma onda de simpatia. "Stefania" foi composta antes da guerra.
Originalmente, Psiuk a dedicara à mãe, porém, diante da agressão militar, alguns versos inevitavelmente ganharam sentido totalmente diverso, como: "Vou sempre voltar para casa, mesmo que as ruas estejam destruídas. Além disso, para muitos ucranianos a terra natal é sinônimo de mãe. A canção começa com canto em estilo folclórico, que se transforma num pulsante rap no idioma ucraniano, acompanhado por instrumentos tradicionais. "Stefania" se destaca dos números de dança pop usuais, cada vez mais produzidos exclusivamente de olho no festival. Assim, mesmo sem as atuais circunstâncias dramáticas, a Kalush Orchestra chances de uma boa colocação.
Além do público, porém, também um júri decide sobre a pontuação, de olho no quesito qualidade. E aí há outros concorrentes respeitáveis na rais, também capazes de conquistar os 12 pontos na noite deste sábado, 14. Entre os mais fortes está a talentosa dupla italiana Mahmood & Blanco, com a balada Brividi. Outros favoritos são Sam Ryder, do Reino Unido, S10, da Holanda, e Cornelia Jakobs, da Suécia. (Silke Wünsch/ DW)
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