Marketing ou tendência? Tênis sujo e rasgado da Balenciaga gera debate

Após a repercussão do lançamento, internautas questionaram o conceito de peças "destruídas" vendidas pela marca; O Vida&Arte traz uma análise sobre a Balenciaga a partir de seu diretor criativo Demna Gvasalia

12:57 | Mai. 10, 2022

Por: Ana Flávia Marques
O lançamento da coleção de tênis da Balenciaga se tornou um dos assuntos mais comentados e virou meme (foto: Divulgação/ Balenciaga)

Com um tênis sujo e rasgado, completamente destruído, a Balenciaga segue entre os assuntos mais comentados nas redes sociais nesta semana. Entre memes e brincadeiras que o "Paris Sneaker" gerou, fica o questionamento: trata-se de uma estratégia de marketing ou uma tendência defendida pela marca?

No ano passado, a Balenciaga também repercutiu com o lançamento de moletons cheios de rasgos. Ou seja, não é de hoje que a marca adere à tendência "destroyed". Mas não são apenas as peças que chocam o público, o valor também assusta. Os "novos" tênis podem custar até R$ 10 mil.

Ana Carla Dias, Head de moda da Susclo, startup de moda sustentável, acredita que a marca aposta em peças polêmicas para gerar engajamento nas redes sociais. "A Balenciaga é uma marca de luxo que sempre se moveu por meio do marketing digital. Eles já apostaram na polêmica crocs de salto e possuem como uma de suas caras a Kim Kardashian. Logo, Demna Gvasalia, diretor criativo da marca, tem mesmo como objetivo causar esse desconforto e buzz com suas criações, dando de certa forma mais holofotes para os seus lançamentos", comenta.

Mesmo a Balenciaga estando entre os assuntos mais comentados, uma rápida busca mostra críticas e questionamentos de internautas sobre esse tipo de produto. Por que comprar um tênis aparentemente velho? Por que comprar essa peça por um valor tão exorbitante? O conceito defendido pela marca parte da visão do próprio diretor criativo. 

Ao entrar para a Balenciaga, Demna afirmou que queria dialogar com o público mais jovem. Com isso, ele busca mais do que peças para serem vestidas, ele está atrás de pertencimento e exclusividade. "Quando entrei na Balenciaga, queria oferecer um guarda-roupa de moda que falasse com as gerações atuais", disse à revista francesa "Numéro".

Ainda nessa entrevista, Demna não demonstra preocupação com a opinião alheia. "Não quero provar nada para ninguém e não peço reconhecimento de ninguém. Se eu me senti mal por tanto tempo, é porque quando pensamos fora da caixa, criamos desconforto entre os espectadores", declarou.

Em 2020, ele reafirmou seu pensamento em entrevista à The Cut em 2020. "Me livrei dos medos. Criativamente, isso realmente me ajudou — parei de ter medo do que as pessoas vão pensar e dizer. Tornei-me mais fiel a mim mesmo", pontuou.

Com peças irreverentes capazes de chocar qualquer público, aliado ao sentimento de exclusividade ao lançar peças limitadas, a Balenciaga consegue unir marketing e tendência, tornando-se cada vez mais uma das marcas mais comentadas da atualidade, seja de maneira positiva ou não.

Apesar do conceito defendido pelo diretor, Ana Carla acredita que o lançamento de peças desgastadas pela marca pode gerar repulsa por itens de segunda mão, o que atrapalha o mercado de moda sustentável. "O fato deles terem usado tênis tão sujos e destruídos para causar um buzz na internet – já que apenas 100 pares extremamente gastos estarão à venda, os outros serão vendidos sem as marcas – mostra ainda a repulsa das pessoas com itens que pareçam velhos e usados", explica.

"Esse fato ainda dificulta a aceitação das pessoas com os brechós e o mercado de segunda mão, por exemplo, que também são iniciativas muito importantes para a moda sustentável. Obviamente que o falatório se dá mais pelo fato de ser uma marca de luxo 'querendo vender um tênis velho' do que o tênis em si, mas, mesmo assim, essa situação nos faz criar de fato essas comparações e paralelos", pontua.

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