Ainda está assistindo?: A crise dos serviços de streaming

Após crescimento na pandemia, plataformas de streaming combatem queda no número de assinantes e aumento da concorrência. Consultor de marketing indica possíveis caminhos contra o declínio

Quantas vezes você já recusou um jantar ou passeio para assistir um filme em casa? Segundo pesquisa realizada entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022 pela plataforma Roku, 75% dos brasileiros usam plataformas de streaming audiovisual todos os dias. A inclinação para este comportamento faz com que os brasileiros paguem cada vez mais caro pelas assinaturas nestes espaços.

Antes da pandemia, a média de preço era R$77 mensais para acessar os principais serviços (como Netflix e Prime Video). Agora, em 2022, o gasto com os mesmos fica por volta de R$95,70 - o que indica um aumento de 23,2% no bolso. Caso o desejo seja assinar outras novidades, a quantia total por mês apenas com inscrições em streaming pode chegar aos R$268.

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Apesar do visível interesse do público no modelo, algumas das principais empresas vêm sofrendo perdas significativas de clientes. É o caso da Netflix, fundada em 1997. A rede de filmes e séries está enfrentando processo movido pelos próprios acionistas, que acusam a plataforma de ter realizado propaganda enganosa no que diz respeito à capacidade de aumentar o número de assinantes no primeiro trimestre de 2022.

As queixas foram apresentadas na última terça-feira, 3, no tribunal federal da Califórnia. O movimento acontece após a Netflix divulgar, no dia 19 de abril, uma perda de 200 mil usuários. Em defesa, a empresa atribuiu a queda à economia e à concorrência acirrada.

Crise na Netflix

Alguns motivos para o prejuízo no rendimento: a decisão da companhia de suspender as atividades na Rússia, o aumento significativo do valor dos pacotes (os planos variam entre R$25 e R$55,90 por mês) e a cobrança de tarifa extra para quem compartilha a conta com pessoas que não moram na mesma casa. Em comunicado divulgado à imprensa, a Netflix argumenta que o recurso de compartilhamento "impacta a capacidade da empresa de investir em novos conteúdos".

“É comum que os negócios tenham um crescimento nos primeiros momentos de vida e depois um declínio. O aumento da inflação no Brasil faz com que muitos desses custos paralelos fossem contidos. Um simples aumento da Netflix, por exemplo, já faz com que o cliente cancele o serviço”, explica o consultor de marketing W. Gabriel. Ademais, o catálogo também não é tão atrativo para os assinantes. Espectadores demandam mais variedade entre as produções disponíveis. Desta forma, as produções originais, como “Não Olhe Para Cima” (2021) e “Lulli” (2022), são o que continuam ganhando destaque.

Aumento na concorrência

Enquanto a pioneira no mercado perde assinantes, a novata HBO Max amplia o público e tem o crescimento de 3 milhões de usuários em combo com a HBO, outro canal disponível em serviços de TV a cabo. O número, inclusive, era a projeção inicial da Netflix para o primeiro trimestre de 2022. Entretanto, apesar da evolução da HBO Max (76,8 milhões de assinantes), ela ainda fica por trás de serviços como Amazon Prime Video (200 milhões de assinantes) e Disney+ (129,8 milhões de assinantes).

Gabriel comenta que, neste formato, a pandemia foi um fator decisivo para o aumento de iniciativas disponíveis. “Degustar produções audiovisuais com qualidade de imagem e catálogos exclusivos mudou o comportamento de muitas pessoas. Obviamente, a obrigação de isolamento social ajudou no crescimento da área”, complementa. Apenas no Brasil, já estão disponíveis as plataformas Apple TV+, Looke, Paramount+, Moobi, Starzplay, Telecine e Globoplay, para citar algumas.

Impacto das redes sociais

Além da vasta concorrência em empresas tradicionais destas mídias, os gigantes do streaming também devem se preocupar com as redes sociais. Afinal, todos os veículos funcionam como entretenimento. A última pesquisa do Digital Media Trends da Deloitte, divulgada no fim de março, aponta que a geração Z (faixa etária entre 14 e 25 anos) tem mais interesse em jogar videogames e interagir com vídeos online do que assistir conteúdos dentro de serviços de streaming.

Isto acontece porque, como cita o analista, as redes sociais “promovem engajamento entre os usuários” e faz com que eles se movimentem “em prol da mídia”. Intimidada com estas novidades digitais, a Netflix citou o TikTok como concorrente pela primeira vez em 2021. Para driblar o movimento, ela lançou o app "Fast Laughs", que consiste na exibição de clipes divertidos dos títulos da plataforma. Para o futuro, ela também pretende incluir games dentro do aplicativo.

Alternativas para mudar

Todas essas medidas são pensadas para evitar, ou adiar, o enfraquecimento dos streamings. Algumas estratégias para driblar a queda envolvem a criação de combos entre diferentes empresas (como acontece com a Apple TV+ e Disney+), além do barateamento de planos, o que já vem sendo cogitado com adicionais de anúncios. “A promoção de um clube de vantagens já reforçaria a fidelidade do assinante, o que poderia dar benefícios extras e até descontos, algo que valorize os usuários”, sugere Gabriel Ademais.

Outro ponto a ser considerado são as estratégias de produção, como a distribuição de episódios semanais de séries. Além disso, investir em conteúdos locais também pode ser uma boa opção. “Os streamings precisam investir em seus algoritmos de indicação e no seu layout. Isso porque existe algumas produções que ficam escondidas, e isso poderia trazer um senso de novidade”. Para que o mercado continue crescendo, o consultor recomenda: “É necessário encadear uma nova produção atrás da outra. O declínio de uma empresa se combate com inovação e novos estímulos”, finaliza.

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