"Iracema Guardiã": conheça origem da estátua que tombou na Praia de Iracema
Obra "Iracema Guardiã" foi criada pelo artista cearense Zenon Barreto, um dos maiores nomes das artes plásticas do EstadoO múltiplo artista cearense Zenon da Cunha Mendes Barreto, que morreu em Fortaleza há duas décadas, é o criador da estátua "Iracema Guardiã". O monumento tombou em Fortaleza nesta terça-feira, 3. Defensor da arte pública, ele é o responsável pela obra inaugurada em 1995, na Praia de Iracema, em homenagem à literatura de José de Alencar. Zenon também esteve na revitalização da casa do escritor, em Messejana.
O legado de Zenon se estende por várias lacunas, embora assumidamente encontrasse defeito em todas: pintura, escultura, desenho, charge, cenografia, mural ou gravura. Para o artista, a obra jamais estaria acabada. Ao longo da carreira, Zenon não só falou sobre suas obras ao O POVO, como também construiu uma coluna semanal: a "Museu". Quem assinava era Salvador Daky, um pseudônimo do "bigodudo" (como Estrigas o chamava carinhosamente). O nome faz alusão humorística e regional ao espanhol Salvador Dali (1904-1989). No espaço, além de divulgar as artes cearenses, Zenon cobrava o poder público pela difusão da cultura.
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Leia mais | Confira especial sobre os 20 anos de morte do criador da "Iracema Guardiã"
Em janeiro deste ano, foi anunciada a cessão de direitos de imagem da "Iracema Guardiã" pela família de Zenon à Casa de Vovó Dedé, instituição sem fins lucrativos que atua no fomento à cultura entre crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social da Barra do Ceará e imediações. O diretor Wagner Barbosa celebrou, em janeiro último, a cessão de direitos de imagens da "Iracema Guardiã": "Zenon é um dos maiores estilistas da arte contemporânea brasileira. A cessão é mais do que uma honra, é uma responsabilidade sem termos comparativos. Os projetos que a Casa possui para usufruir dos direitos são incontáveis. E isso nos faz ir mais distante nos projetos a serem criados. Muito está embutido nesse ato: a riqueza cultural do povo brasileiro, a personagem feminina mais decantada da nossa literatura, a genialidade do magistral Zenon, que soube tão bem passar a alma que José de Alencar criou para a matéria que se impõe como um dos mais icônicos símbolos de Fortaleza".
Mais sobre Zenon Barreto
O lançamento do livro digital "Salvador Daky, Zenon Barreto" marcou os 20 anos de partida do artista cearense em janeiro deste ano. Com escritos do artista sob seu pseudônimo, além de cartoons e charges, os volumes de "Salvador Daky, Zenon Barreto" estão disponíveis na plataforma on-line do selo editorial Pano de Roda. A organização é da pesquisadora Jacqueline Medeiros, com apoio do Zenon Instituto Cultural — instituição sem fins lucrativos presidida pelo violonista Frede Barreto, filho único de Zenon, tendo por diretora internacional a pianista Nara Vasconcelos (nora de Zenon). O lançamento virtual ocorre hoje, 18, às 18 horas, no Instagram, com uma conversa entre Jacqueline, Nara e Frede.
Também responsável pelo acervo do Banco do Nordeste (uma das instituições com conjuntos representativos de Zenon), Jacqueline revela: "A intenção é lançar vários volumes sobre a produção pouco conhecida, mas que diz muito do seu espírito crítico com humor e olhar sobre o ambiente artístico da época. Destaco uma questão levantada por Zenon sobre a criação de uma escola de arte, que até hoje não foi implementada na Universidade Federal do Ceará (UFC). Uma demanda desde a criação do Museu de Arte da UFC (Mauc)".
O Zenon Instituto Cultural, sediado em Fortaleza, difunde a obra de Zenon e vários segmentos culturais. A instituição foi oficializada em 2012, a partir da morte da viúva, a professora e pianista Maria Helena Barreto, quem conectou Zenon e família também à música. De lá para cá, a iniciativa realizou diversas ações, incluindo na Bulgária, onde os herdeiros residem. Em 2021, o instituto iniciou a implantação de um núcleo em Sobral, terra natal do artista.
Nara divide: "Tudo é saudade num artista grande e diverso como Zenon. Senso estético, capacidade criativa nos gêneros, inventividade de recursos técnicos... Muitos de seus resultados são indecifráveis, ele se valia de fórmulas inusitadas para alcançá-los. Falar de Zenon é falar da estética modernista nas artes plásticas do Ceará, de capacidade combativa e apreço à coletividade. Muito precisa ser feito pela divulgação de sua obra, notadamente pelas instituições públicas do Ceará, a começar pela mera placa de identificação da mais conhecida e icônica, a 'Iracema Guardiã'".
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