Guerra entre Ucrânia e Rússia chega à Bienal de Arte de Veneza

O evento anunciou a criação da "Piazza Ucrania" (Praça Ucrânia), um espaço pensado para a meditação

"Nenhum diálogo. Estamos no front" de guerra, diz, em tom inflexível, o artista ucraniano Pavlo Makov, ao se referir à situação em seu país, após apresentar sua obra na 59ª edição da Bienal de Arte de Veneza, que abre para o público no próximo sábado, 23.

O artista de 63 anos, que representa a Ucrânia no prestigiado evento internacional de arte, atrai os olhares com uma instalação que teve que ser adaptada às circunstâncias incertas causadas pelo conflito. "Não há espaço para o diálogo, estamos no front. [...] Talvez, depois de duas ou três gerações, como [aconteceu] com os alemães, possamos reiniciar o diálogo" com a Rússia, argumenta o artista em entrevista à AFP.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Makov teve que escapar e literalmente se esquivar das bombas para chegar a Veneza, assim como sua obra, formada por uma série de funis, que foi transportada em partes, sob a custódia de uma das curadoras do evento. "Saí também com minha mãe de 92 anos. Ela me disse que não se importava se a matassem, que havia sobrevivido à Segunda Guerra Mundial", contou o artista, que ainda não sabe onde viverá no futuro.

Chamada "A fonte do Esgotamento", a instalação, que contém 72 funis de cobre de cor azul, ligados como uma pirâmide em uma plataforma de 3 m², por onde a água corre até chegar ao fundo, simboliza o que o artista chamou de "o momento vivido pela humanidade", com o esgotamento gradual de seus próprios recursos físicos e mentais.

Por sua vez, o pavilhão oficial da Rússia está vazio, depois que o curador e os artistas selecionados desistiram de participar indignados pelo conflito na Ucrânia, e se tornou o símbolo desta edição. O veto da Bienal aos artistas, instituições e personalidades vinculadas ao regime de Vladimir Putin não deixa de surpreender alguns setores, que temem que isso seja o início de uma espécie de caça às bruxas.

Um dilema complicado, já que a maioria das instituições e festivais do mundo, entre eles os de cinema de Cannes (França) e de Veneza, decidiu cancelar a presença de artistas russos em suas programações. "Que a Rússia deixe de nos colonizar, porque a Rússia é uma potência imperial, que usou países como a Ucrânia [...] porque muitos grandes artistas russos são, de fato, artistas ucranianos", afirma Maria Lanko, a curadora do pavilhão ucraniano.

Lanko, de 35 anos e responsável por uma galeria de arte em Kiev, contou o seu périplo de várias semanas para salvar a obra de Makov. Para isso, teve que cruzar a fronteira e atravessar Romênia, Hungria e Áustria, antes de chegar a Veneza, onde a instalação foi montada junto com outras partes fabricadas em Milão.

Não muito longe dali, a comissária-geral da Bienal, a italiana Cecilia Alemani, anunciou a criação da "Piazza Ucrania" (Praça Ucrânia), um espaço pensado para a meditação, que vai mudar e crescer até fechar em novembro e onde até mesmo as provocações serão admitidas. Trata-se de um espaço com uma montanha de sacos de areia similar às que os cidadãos ucranianos estão erguendo nestes dias para proteger seu patrimônio cultural e artístico.

Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

conflito Rússia Veneza Itália Bienal Ucrânia guerra vida e arte

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar