Morte de Lygia Fagundes Telles: lembre amizade da escritora com Hilda Hilst

Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst, grandes nomes da literatura brasileira, eram melhores amigas e compartilhavam experiências do dia a dia

12:50 | Abr. 03, 2022

Por: Clara Menezes
Hilda Hilst e Lygia Fagundes Telles eram melhores amigas desde o fim dos anos 1950 (foto: Acervo Instituto Hilda Hilst/ Divulgação)

Lygia Fagundes Telles (1923 - 2022) e Hilda Hilst (1930 - 2004), dois grandes nomes da literatura brasileira, foram melhores amigas por cinco décadas. Juntas, as escritoras compartilharam os percalços de ser mulher no mercado literário e também apoiaram o trabalho uma da outra.

A história das duas começa em 1949. Naquela época, Lygia já era uma contista popular e tinha publicado obras como “Porão e Sobrado” (1938) e “Praia Viva” (1944). Por outro lado, Hilda ainda era uma estudante de Direito que começava a mostrar seus talentos para a poesia.

Na época, elas cursavam a mesma faculdade. A iniciante se introduziu como poeta, e a escritora abriu um sorriso e disse: “Minha futura colega”. A partir desse primeiro encontro, elas nunca mais se separaram e mantiveram contato quase diário.

Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst se tornaram escritoras populares e firmaram seus nomes na literatura brasileira e mundial. Além de enfrentar os preconceitos de serem autoras femininas, elas abordavam temáticas como o amor, a sexualidade e a morte.

Quando Hilda Hilst faleceu em fevereiro de 2004 por falência múltipla de órgãos, sua melhor amiga recordou uma das últimas memórias que compartilharam. Em entrevista à Folha de São Paulo, disse: “Num dia, no ano passado, ela me ligou às 23 horas e disse: ‘Lygia, a alma é imortal’, e eu respondi: ‘Eu sei, Hilda’. E ela me mandou um beijo e desligou”.

No livro “Cadernos de Literatura Brasileira”, publicado pelo Instituto Moreira Salles, em 1998, Hilda falou sobre a dinâmica da amizade entre as duas. “Nós não falamos sobre Literatura. É um assunto que nos irrita. Eu não falo porque gosto muito dela e tenho uma amizade profunda, afetiva mesmo, por ela. A gente não conversa sobre Literatura. E somos muito tristes, o tempo todo. A gente tenta falar coisas agradáveis, mas não consegue. Ela sempre me disse que fica nua diante de mim. Eu também”, afirmou.

Na época, Hilda Hilst afirmou: “Eu sei que gosto muito dela, até o fim da vida eu vou gostar”. Ela ainda explicou: "Quero demais morrer segurando a mão da Lygia, porque sei que ela vai entender tudo na hora H. Ela vai dizer: ‘Hilda, fica calma e tal que é assim mesmo.’ A gente tem uma amizade, sei lá, pode ser até de outras vidas, embora sejamos muito diferentes".

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