Livro apresenta história do jornal "Pasquim", crítico da ditadura militar
O jornalista e produtor cultural Márcio Pinheiro lançou o livro "Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim"; publicação é guiada pelo simpático e icônico rato SigEm 31 de março de 2022, o golpe militar que ocorreu no Brasil em 1964 e instaurou uma ditadura no Brasil completa 58 anos. Enquanto o Ministério da Defesa publica no dia anterior um texto a ser lido em unidades militares em que afirma que o golpe levou a um “fortalecimento da democracia”, historiadores lembram das opressões, perseguições, restrições de direitos e censuras ocorridas ao longo dos 21 anos de ditadura.
Mas, assim como houve brutalidade, houve resistência - um de seus focos a partir da criação de um jornal, logo após o AI-5, que canalizaria indignações e críticas ao regime a partir do deboche e do humor. “O Pasquim nasceu teso, órfão de pai e mãe, ou seja, sem uma organização sólida na retaguarda”, disse o jornalista Sérgio Augusto na apresentação do semanário no site da Biblioteca Nacional.
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Com o objetivo de resgatar a história e a importância desse jornal, o jornalista e produtor cultural Márcio Pinheiro lançou o livro “Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim”, no qual revisita os acontecimentos que marcaram seus 22 anos trazendo em destaque o simpático rato Sig, personagem ícone do jornal. Publicada pela Matrix Editora, a obra reúne os altos e baixos, a repressão, os dribles na censura militar e curiosidades sobre o Pasquim - que chegou a vender mais de 250 mil exemplares sem assinaturas.
O livro se inicia em 1969, ano da fundação do periódico. Em sequência, percorre a trajetória do jornal e, ao mesmo tempo, contextualiza ao leitor o momento histórico vivido — afinal, o semanário era diretamente ligado aos acontecimentos do período da ditadura. A jornada apresentada pelo rato Sig se encerra em 1991, quando também foi finalizada a veiculação do Pasquim.
“Falo de eleições, cassações, exílio, anistia, tortura e tantos outros fatos que marcaram aquele período. E, obviamente, dos personagens, tanto os diretamente ligados à redação quanto aqueles que eram considerados da patota e igualmente foram fundamentais – Leila Diniz, Vinicius de Moraes, José Lewgoy, Odete Lara e muitos outros”, relata Márcio Pinheiro em entrevista ao Vida&Arte.
Jornal de Resistência
Com tantos nomes importantes ao longo da existência do Pasquim - a exemplo de Ziraldo, Millôr Fernandes, Martha Alencar, Henfil e vários outros -, a escolha de Márcio foi ter o próprio jornal como fio condutor de sua história e, também, como elemento central da narrativa. Como o próprio jornalista destaca, ele “foi um sopro de humor e inteligência” em uma época de repressão e censura.
“Era a resistência possível naquele momento. Além disso, o Pasquim lançou gírias e personagens, tirou a caretice da imprensa, revolucionou a linguagem e o comportamento. Suas inovações são até hoje copiadas, repetidas”, comenta Márcio. Ora, se o jornal é o ponto principal do livro, nada mais justo, então, que contar sobre o Pasquim a partir de um de seus maiores símbolos: o rato Sig.
“Esse rato debochado, escrachado, mordaz, sintetizou a alma do jornal. E também foi o símbolo mais constante: esteve do primeiro ao último número. Acabou sendo um raro caso de um rato que nunca abandonou um navio”, declara o jornalista.
Mais de 50 anos desde a fundação
Não apenas o livro do jornalista buscou resgatar a história do Pasquim. Em 2019, ano em que o semanário completou 50 anos de sua fundação, foi realizada uma exposição em sua homenagem no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Além disso, a Fundação Biblioteca Nacional disponibilizou todas as edições do Pasquim de forma digital em seu site, com uma seção de “memórias” que contribui para a preservação do legado do jornal.
“Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim” também é construído a partir de conversas com ex-integrantes da publicação, como Sérgio Augusto, Reinaldo Figueiredo e Martha Alencar. Na obra, o contato com essas personalidades - e amigos de Márcio Pinheiro - contribuiu para “clarear um pouco mais” o que o autor já havia reunido em suas pesquisas. Detalhes do tamanho e o formato da sala onde ficava a redação, por exemplo, foram algumas das curiosidades esclarecidas para Márcio.
O legado
Fazendo um balanço do legado e da relevância do Pasquim para a criticidade editorial e para cartunistas que viriam após o jornal, Márcio aponta para a “atualidade” da publicação e da influência em obras contemporâneas. Além disso, destaca a importância de as novas gerações conhecerem a história do semanário.
“O Pasquim foi fundamental. Quem é jornalista tem obrigação de saber da importância. (Para) quem não é, só ganhará ao descobrir, por exemplo, que seus textos, análises, cartuns, fotos, sacadas ainda são divertidos e inteligentes. Em muitos aspectos, o Pasquim se manteve atual. Em tantos outros, influenciou publicações contemporâneas e outras que surgiram posteriormente”, pontua.
Mais de 58 anos após o golpe militar que ocorreu no Brasil em 1964, o jornalista aponta como o Pasquim ainda é necessário para que não esqueçamos da ditadura e para continuarmos enfrentando “períodos difíceis”. O humor e a inteligência seguem sendo pontes para transformações.
“Minha intenção não foi apenas a de recuperar um jornal que deixou de existir e que foi inovador em sua época, mas também mostrar que muitas dessas inovações persistem. Ou seja: humor e inteligência são armas eternas que sempre ajudam a enfrentar períodos difíceis”, finaliza.
Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim
De Márcio Pinheiro
Matrix Editora
192 páginas
Quanto: R$ 44,00
Onde comprar: Matrix Editora ou Amazon