O Poderoso Chefão 50 anos: como o filme se tornou um clássico
"O Poderoso Chefão", dirigido por Francis Ford Coppola e inspirado no livro homônimo de Mario Puzo, é um dos grandes clássicos da indústria cinematográfica
No início da década de 1920, os Estados Unidos viviam a denominada “Era de Ouro de Hollywood”. Grandes estúdios distribuíam dezenas de filmes anualmente e lucravam milhões de dólares com seus lançamentos. Na época, os conteúdos mais rentáveis eram aqueles que popularizavam o “american way of life” - um tentativa de reverenciar a própria imagem do país americano. O período perdurou até meados dos anos 1960, quando a indústria cinematográfica já tinha mudado seu foco para os grandes musicais e para as histórias que destacavam a juventude estadunidense. Não é de se estranhar que “Amor, Sublime Amor” (1961), uma adaptação da Broadway que foca em dois jovens de gangues distintas que se apaixonam, tenha ganhado dez categorias no Oscar, uma das maiores premiações do cinema mundial. Mas esse movimento de conteúdos prioritariamente positivos começa a mudar no fim da década de 1960 e no início de 1970.
Surge a chamada “Nova Hollywood”, que renovou a estética e a produção cinematográfica depois que os Estados Unidos enfrentaram uma grande crise econômica. Inspirados nas vanguardas europeias, diretores daquela nova geração buscaram mostrar uma visão mais crítica da sociedade. Movidos pela realidade e pelos ideais da contracultura, aparecem nomes como George Lucas, Steven Spielberg, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. Todos eles lançaram grandes produções que se tornaram populares internacionalmente, mas Coppola foi responsável por um dos maiores clássicos da história do cinema: “O Poderoso Chefão”, que completa 50 anos de estreia em 2022.
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O sucesso do filme é inegável: foi indicado a dez categorias no Oscar e venceu em “Melhor Filme”, “Melhor Roteiro Adaptado” e “Melhor Ator”. O Instituto Americano de Cinema (AFI), uma instituição sem fins lucrativos, considerou esta obra a segunda melhor dentre as produções estadunidenses. E é - até hoje - um dos mais aclamados entre críticos e espectadores.

Fãs até hoje discutem sobre quem era o verdadeiro 'chefão' da família Corleone em 'O Poderoso Chefão': o pai Vito (Marlon Brando) ou o filho Michael (Al Pacino)
Mas, há cinco décadas, essa popularidade não era tão evidente, porque o enredo se distinguia do que estava sendo produzido na época. Na narrativa, Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o chefe de uma família mafiosa de Nova York. Descendente de italianos, ele é movido pela fidelidade aos seus familiares e também pela proteção aos seus afilhados. Mas um problema se impõe: Sollozzo (Al Lettieri), um criminoso que tem apoio da família rival, tenta negociar com os Corleones para estabelecer um grande esquema de narcóticos na cidade.
O protagonista nega, e isso causa uma série de consequências em sua vida que lhe adoece. Agora, quem precisa carregar seu legado são os filhos Sonny (James Caan) e Michael (Al Pacino). Este último nunca tinha se envolvido com os trabalhos da família. Longe da realidade de seus familiares, é um capitão da Marinha condecorado depois da guerra e um estudante universitário educado. Entretanto, após a tragédia que ocorre com as pessoas ao seu redor, decide entrar para o negócio.
Em entrevista de março para o portal estadunidense Variety, o cineasta Francis Ford Coppola - que recentemente recebeu uma estrela na Calçada da Fama - disse que acreditava que seu longa-metragem seria um fracasso. “Achei que seria um fracasso especial. Quando você faz um filme indo contra o que está acontecendo na época, esse tipo de filme é difícil. Você não está fazendo o que todos esperam ou querem que você faça”, pontua.
Para ele, um de suas grandes conquistas é que as pessoas continuam a assistir à produção mesmo décadas depois. “Uma vez eu disse que as coisas que você faz quando é jovem e pelas quais é demitido são as mesmas coisas pelas quais, anos depois, eles te dão prêmios”, reflete.
Do livro ao filme
O filme que, alguns anos depois, se tornaria uma trilogia surgiu de uma adaptação do romance de Mario Puzo (1920 - 1999). O escritor estadunidense já era conhecido por seus livros de ficção, mas os lucros eram poucos. Apesar de “The Last Christmas” (1950) e “The Fortunate Pilgrim” (1965) ter sido bem recebido pela crítica, o grande público não conheceu suas obras. E, na década de 1960, recebeu uma proposta para escrever um livro sobre a máfia.
Foi assim que teve a ideia para “O Poderoso Chefão”, que lhe rendeu dinheiro e uma obra-prima. “Mario Puzo escreveu alguns romances lindos, mas escreveu ‘O Poderoso Chefão’ para ganhar dinheiro. Mario amava sua família e queria cuidar deles, então escreveu um livro que achou que seria um best-seller, mas foi um pouco de um ‘potboiler’ (expressão em língua inglesa utilizada para descrever um trabalho artístico de qualidade duvidosa, que tem o principal objetivo de pagar as despesas de seu criador)”, Francis Ford Coppola ressaltou na entrevista à Variety.
O autor se inspirou em suas experiências como jornalista para criar os personagens. Muitos acreditam, inclusive, que Don Corleone foi baseado em nomes como Joe Profaci (1897 - 1962) e Frank Costelo (1891 - 1972), mafiosos de descendência italiana que moravam e atuavam em Nova York. O livro recentemente ganhou uma nova edição da editora Record, que já está disponível para compra.
Reação da máfia
Durante as gravações de “O Poderoso Chefão”, a “The Italian-American Civil Rights League” exigiu que a Paramount Pictures impedisse a estreia do filme. A organização afirmava que os estadunidenses eram preconceituosos em relação ao tratamento dos italianos em suas produções cinematográficas.
Mas havia uma questão: a entidade foi fundada por Joseph Colombo, um dos chefes das principais famílias da máfia nos Estados Unidos, com o objetivo de defender seu próprio filho de acusações legais.
Após uma série de perseguições aos profissionais, o estúdio marcou uma reunião com o homem para estabelecer um acordo. No fim, Colombo permitiu o lançamento, contanto que os produtores tirassem a palavra “máfia” de seu roteiro. Assim foi feito.
“O Poderoso Chefão” no Oscar
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, organizadora do Oscar, preparou um tributo à trilogia de “O Poderoso Chefão” para esta cerimônia de 2022. O evento acontece neste domingo, 27 de março, em Los Angeles nos Estados Unidos. Apesar disso, mais detalhes sobre a homenagem não foram divulgados.
Onde assistir
O Poderoso Chefão (1972)
Quando Vito Corleone é afastado da chefia de uma grande família mafiosa, seus filhos Michael e Sonny assumem os negócios. Neste período, um homem tentará estabelecer uma aliança com os familiares para impor um esquema de venda de narcóticos em Nova York.
Onde assistir: HBO Max, Oldflix e Now
O Poderoso Chefão: Parte II (1974)
Duas histórias paralelas são contadas ao mesmo tempo. Três anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, Michael e os Corleones tentam expandir seu império para outras regiões dos Estados Unidos. Outra narrativa contada é a de Vito, que mostra toda sua trajetória, desde quando a máfia local matou seus familiares na Itália até sua mudança para o país estrangeiro.
Onde assistir: HBO Max
O Poderoso Chefão: Parte III (1990)
Michael Corleone está envelhecendo e, com a ajuda de seu sobrinho, ele busca legitimar os interesses da família em Nova York e na Itália. Seu objetivo é conquistar as metas antes de sua própria morte.
Onde assistir: HBO Max
Depois de “O Poderoso Chefão”
Ao ficar conhecido por sua atuação em “O Poderoso Chefão”, Al Pacino passou a trabalhar em vários filmes em que interpretava vilões ou mafiosos em tramas policiais. Veja algumas de suas obras posteriores à trilogia que se inspiram na história da máfia italiana:
Scarface (1983)
Depois de assassinar um oficial do governo cubano, Tony Montana (Al Pacino) é exilado para Miami, nos Estados Unidos. Ele começa a trabalhar para o chefe do tráfico de drogas, mas sobe de posição na organização até se tornar o líder. O protagonista vira o maior traficante da região e controla quase toda a cocaína que entra no lugar, mas enfrenta guerras com cartéis colombianos, pressão policial e seus próprios conflitos internos, que farão com que entre em uma possível decadência. Filme é dirigido por Brian De Palma.
Onde assistir: Netflix, Amazon Prime Video, Star+ e Now
Dick Tracy (1990)
Tess Trueheart (Glenne Headly) e Dick Tracy (Warren Beatty) sonham em ter uma vida tranquila. Mas seus planos são interrompidos quando o namorado, que é um detetive da polícia, precisa conter os crimes na cidade. Neste contexto, Big Boy Caprice (Al Pacino) é um chefe da máfia que inicia uma guerra com o objetivo de dominar a cidade e comandar os outros bandidos. Longa-metragem tem direção de Warren Beatty.
Onde assistir: não disponível nos streamings
Donnie Brasco (1997)
Joe Pistone (Johnny Depp) é um policial que utiliza o nome de Donnie Brasco para se infiltrar entre os mafiosos. Nos Estados Unidos da década de 1970, o criminoso Benjamin Ruggiero (Al Pacino) vai lhe ensinar sobre os caminhos do crime. Mas essa relação colocará a vida do protagonista em xeque. Filme tem direção de Mike Newell.
Onde assistir: disponível para alugar no Google Play (R$5,90), na Apple TV (R$9,90) e na Amazon (R$6,90)
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