Mano Brown fala sobre podcast do Spotify: "antes me viam como um cara ignorante"

A segunda temporada do podcast "Mano a Mano", apresentado por Mano Brown e disponível com exclusividade no Spotify, estreia na próxima quinta-feira, 24

O rapper Mano Brown decidiu explorar novos caminhos em sua carreira: desde o ano passado, apresenta o podcast “Mano a Mano”, disponível com exclusividade no Spotify e que estreia sua segunda temporada na próxima quinta-feira, 24. Impulsionado por interesses em assuntos diversos, ele comandará mais episódios que contarão com convidados renomados no Brasil.

Alguns dos nomes já confirmados são o rapper Emicida, que estreia a segunda temporada, o neurocientista Sidarta Ribeiro, além dos jornalistas especialistas em segurança pública Cecília Oliveira e André Caramante. Em coletiva de imprensa, adiantou que outras personalidades estão no radar, como a ex-presidente Dilma Rousseff (que é, segundo o artista, "uma das mulheres mais injustiçadas do Brasil") e o ator e cantor Seu Jorge.

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Mano Brown já conversou com uma dezena de pessoas que atuam em diferentes áreas, como Dr. Drauzio Varella, Fernando Holiday, Djonga, Ludmilla, Taís Araújo e Lázaro Ramos, Glória Maria, Gloria Groove, Djamila Ribeiro e Lula. O diálogo com o ex-presidente, inclusive, se tornou o episódio de podcast mais ouvido de 2021 na plataforma em território nacional.

De acordo com o rapper, esse projeto possibilitou uma mudança na visão que as pessoas tinham sobre ele anteriormente. “Uma coisa que me perturbava, não vou mentir, era que algumas pessoas me colocavam em um lugar marginal, antes me viam como um cara ignorante e intransigente, nunca fui nem um, nem outro. Não que eu tenha que provar isso, mas, na vida, eu comecei a conviver com essa desconfiança sobre minha intelectualidade e minha inteligência. Eu era obrigado a conviver com a alcunha de um cara burro”, lembra.

Para ele, muitas pessoas ficaram surpreendidas. “Tem gente que disse: ‘tô surpreso de ver ele abordar tal assunto’. Tem um cara na internet que se surpreendeu que eu disse que era taurino. ‘Ah, como ele sabe de signo?’. Eu tenho fome o dia inteiro, tenho preguiça, gosto de conforto, roupa boa, boas amizades. Conhece-te a ti mesmo e a verdade lhe libertará”, brinca.

Como apresentador de podcast, Mano Brown faz questão de se colocar em uma posição de leigo - assim como a maioria dos ouvintes. Seu objetivo é conseguir tornar as conversas acessíveis para qualquer pessoa que escute. “A juventude está conectada com milhares de coisas ao mesmo tempo. Você tem que ser prático e objetivo. Acho que eles gostam de praticidade e de objetividade na ideia, é a forma que tento me comunicar. Sempre falo para o entrevistado: ‘olha, tem um público muito jovem te ouvindo’. Temos que falar com os mais jovens sempre. Se eles não te entenderem, se faça entender”, explicita.

Mesmo nos assuntos mais complexos, sua meta é que a conversa não pareça uma transmissão de conhecimento semelhante ao que acontece entre professores e alunos. “Não pode ser uma conversa de professor para aluno, tem que ser de companheiro para companheiro. Apesar da idade, tem gente que sabe mais que eu. Emicida é um deles. Djonga também. O conhecimento tem que ser compartilhado. A função de quem está na mídia emitindo opiniões é sempre compartilhar”, cita.

O rapper avalia que o “Mano a Mano” é uma forma de sair de sua própria zona de conforto. E, com a grande repercussão de seu projeto nas plataformas digitais, esforça-se para manter uma distância e evitar alimentar o ego. “Tem que ter uma certa frieza, sabe? Tenho que me resguardar ao que tenho que fazer e não ao ego. Os meus problemas, eu administro comigo mesmo. Tenho medo de errar, medo de não fazer uma pergunta interessante…”, indica.

Reflexões sobre a primeira temporada

Mano Brown reforça que não ouviu nenhum episódio da primeira temporada. “É tudo de ida, não ouço a volta”, diz. Ele tenta se manter natural para que possa conversar com os entrevistados sem muitas barreiras. “Talvez as pessoas tenham se interessado pela minha voluntariedade, por ser um cara comum. Não sou um profissional de jornalismo, sou um leigo que representa um leigo e que está falando com pessoas entendidas sobre um assunto. Prefiro me colocar no lugar de quem sabe menos, que sabe pouco, então faço perguntas”, afirma.

Mas acredita que tem questões a aprimorar, como o controle da própria ansiedade para não atrapalhar a linha de raciocínio do entrevistado. “O cara fala uma coisa muito interessante, e eu quero imediatamente interferir e falar sobre aquilo. Mas tenho que deixá-lo terminar a linha do raciocínio e, depois, esqueço a pergunta. É algo que tenho que aprender”.

Está, porém, feliz com os resultados, porque mostrou uma parte de si que não costuma transparecer em sua trajetória musical. “Mostrei um Mano Brown estudioso, interessado em vários assuntos fora do óbvio, porque sempre fui visto como alguém que falava de três ou quatro assuntos. No podcast, a gente falou de muitas ideias, como teologia, que é um assunto que nunca abordei em nenhum outro lugar”.

Temas por vir

Uma das temáticas que Mano Brown continuará a abordar são as questões do negro no Brasil. “Comecei a estudar lá em Gênesis (primeiro livro da bíblia cristã) e fui parar em livros de antrópologos. Muita coisa vem pro Brasil em inglês que é pra gente não saber mesmo. A história do negro no mundo, se ela tiver 10 mil anos, só os últimos 600 foram ligados à escravidão. Você tem 9,4 mil anos para trás de absoluta riqueza, autoentendimento e domínio do corpo e do tempo”, afirma.

Ele fala de afrofuturismo, mas explicita que não sabe muito sobre o assunto e que ainda deve pesquisar mais profundamente para avaliar possíveis convidados. “Sempre achei que a África era primeiro sobre religião, mas descobri que não. Tem religião também, mas a principal característica dos filhos de Cam, que são os negros, é a busca pela tecnologia. As primeiras tecnologias foram criadas pelas mãos negras”, defende.

O futuro do Brasil

A primeira temporada de "Mano a Mano" refletiu sobre caminhos possíveis para o Brasil. E, durante a coletiva, Mano Brown afirma que a educação deve ser o principal projeto dos políticos. "Quando você começa a estudar e você passa a saber, você já não é aquilo que era antes, você vira uma coisa nova. Eu acredito no estudo. Se Brasil tiver um projeto para o jovem, de escola e faculdade... Mas não temos, nós temos um projeto de gado, tem a casa grande, o pasto e as ovelhas", opina.

"Não tem um projeto para o povo do Brasil. Por enquanto, o Brasil é jovem, mas ele não investe no jovem, então não se pode querer um futuro melhor. O projeto do Brasil é a escola. Se o Lula ganhar (as eleições presidenciais) e não for para cima disso, vai ser imperdoável", defende.

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