Filme espanhol 'Alcarràs' leva Urso de Ouro em um Festival de Berlim

A edição de 2022 foi marcada pelo protagonismo feminino e por questões sobre a realização de um evento presencial quando a pandemia ainda assusta o mundo

O filme espanhol "Alcarràs", da cineasta Carla Simón, ganhou o Urso de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Berlim nesta quarta-feira, 16, enquanto o mexicano "Manto de Gemas" levou o Prêmio do Júri, em uma edição com clara predominância feminina. "Alcarrás" foi rodado com atores amadores, todos agricultores da região onde a história se passa, na província de Lérida. Esta é a segunda vez que Simón, de 35 anos, é premiada na Berlinale.

Filmado em plena temporada de colheita de frutas em Alcarràs, uma cidade catalã, o filme narra a história dos Solé, que se ocupam há três gerações das terras de uma família abastada, os Pinyol. O herdeiro dos Pinyol quer arrancar os pessegueiros para instalar painéis solares, o que deixa os Solé, e em especial o patriarca da família, Quimet, diante do dilema de se adaptar ou ir embora.

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"Acho que já me considero filha deste lugar. Talvez devesse vir morar aqui porque cada vez que venho, algo maravilhoso acontece", disse, emocionada, Simón ao receber o prêmio. A produtora, María Zamora, mal conseguia conter as lágrimas ao lado dela.

"Gostaria de dedicar este prêmio às pequenas famílias de agricultores que cultivam a terra a cada dia, para que esta comida chegue ao nosso prato", declarou a diretora catalã.

Simón ganhou em 2017 o prêmio de melhor primeiro filme em Berlim com "Verão 1993", novamente rodado em um ambiente rural, com tons autobiográficos.

Seu cinema é quase documental, com uma especial sensibilidade para retratar cenas familiares e, em particular, a visão das crianças. "Não me canso de trabalhar com crianças. É natural para mim, talvez porque vivi uma infância vulnerável. Gosto de conversar com elas e poder dirigi-las. E elas contribuem com os adultos: obrigam-os a serem mais espontâneos", comentou Simón em entrevista à AFP no lançamento do filme.

A 72ª Berlinale, que este ano voltou a ser presencial após uma edição on-line no ano passado, foi dominada pelas mulheres. O mexicano "Manto de gemas", primeiro longa-metragem de Natalia López Gallardo, levou o Prêmio do Júri.

O prêmio à melhor direção ficou com a francesa Claire Denis por "Avec amour et acharnement", enquanto o da melhor atuação ficou com a germano-turca Meltem Kaptan pelo papel da mãe de um preso do campo de prisioneiros de Guantánamo em "Rabiye Kurnaz vs George W. Bush".

Já o troféu de melhor interpretação coadjuvante (não há distinção de gênero) foi para uma atriz nascida na Alemanha, mas de raízes indonésias, pelo drama romântico "Nana", ambientado no país.

O único homem a receber um dos principais prêmios, o Grande Prêmio do Júri, foi o sul-coreano Hong Sangsoo por "So-Seol-Ga-Ui Yeong-Hwa".

O filme brasileiro "Manhã de domingo" levou o Urso de Prata como melhor curta-metragem. O diretor Bruno Ribeiro homenageou sua mãe, que morreu de covid-19, durante o discurso
O filme brasileiro "Manhã de domingo" levou o Urso de Prata como melhor curta-metragem. O diretor Bruno Ribeiro homenageou sua mãe, que morreu de covid-19, durante o discurso (Foto: Stefanie LOOS / AFP)

Nos últimos três grandes festivais de cinema europeus, Cannes, Veneza e Berlim, as mulheres dominaram os prêmios de melhor direção. "Somos metade da humanidade e devemos contar metade das histórias", declarou Simón na coletiva de imprensa após a premiação.

Violência no México

"Manto de Gemas" é o primeiro longa-metragem de López Gallardo, que já dirigiu e atuou em curtas-metragens. Filmado no estado mexicano de Morelos, conta como três mulheres enfrentam decisões transcendentais: quando devemos parar de procurar os desaparecidos? Como evitar que as crianças caiam no crime organizado?

É uma obra de tom documental, em que não há trilha sonora, os diálogos são escassos, a luz é natural o tempo todo, e o enquadramento é sóbrio e cru. Os personagens - em sua maioria atores locais - falam quase em sussurros, com eufemismos tão comuns em um México tomado pela violência que explode em raios de grande impacto visual.

López Gallardo opta por não explicar uma história precisa, mas seus fragmentos. Isabel (Nailea Norvind), recém-divorciada, quer ajudar Maria, que está à procura de sua irmã desaparecida, mesmo que isso possa colocar em risco sua própria vida. Nesse caminho, ela cruza com uma policial que luta para evitar que seu filho caia nas garras do tráfico de drogas.

"Para mim foi muito difícil colocar palavras na boca de Maria, ou da policial. Depositei toda a minha confiança na linguagem cinematográfica", explicou a diretora. (AFP)

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