Símbolo de amor conturbado de Frida Kahlo leiloado com valor recorde
Retrato da relação entre a artista mexicana e Diego Rivera, quadro "Diego y yo" é vendido por 34,9 milhões de dólares – valor mais alto já arrecadado por uma obra latino-americana.Seus autorretratos são lendários. Frida Kahlo olha profundamente nos olhos de quem a vê, seu cabelo geralmente está preso em coques com flores, ela usa trajes mexicanos bordados à mão em cores brilhantes e acessórios atraentes. Destacam-se as sobrancelhas que se unem no centro da testa e um toque de bigode – ambos atributos que contradizem ideais convencionais de beleza. Mas a pintora mexicana, que viveu entre 1907 e 1954, nunca ligou para convenções. Frida Kahlo nasceu filha de um imigrante alemão e de uma mexicana de origem indígena e espanhola, adoeceu com poliomielite aos 6 anos e ficou tão gravemente ferida em um acidente de ônibus aos 18 que teve que usar um espartilho de aço por toda a vida. Presa à cama após o acidente, Frida começou a pintar como passatempo – o início de uma carreira sem precedentes que a tornou a artista mais famosa do México. Seu carisma e sua vida agitada também a tornaram uma figura cultuada. Seu compromisso com a igualdade de gênero e a valorização da cultura indígena são considerados sem paralelos. Agora, um dos últimos autorretratos de Frida foi a leilão – e arrecadou um valor recorde. Símbolo de um grande e conturbado amor, a obra "Diego y yo" (Diego e eu) traz o rosto do artista Diego Rivera, parceiro de vida de Frida, como um terceiro olho na testa da pintora, que chora. Nesta terça-feira (16/11), a pintura a óleo medindo 29,8 por 22,4 centímetros foi vendida na Sotheby's em Nova York por 34,9 milhões de dólares. Foi o valor mais alto já arrecadado em um leilão por um quadro latino-americano. O recorde anterior era justamente de Diego Rivera, uma pintura leiloada em 2018 por 8,6 milhões de euros. Uma história de amor conturbada "Diego y yo" diz muito sobre a relação com esse homem que ela absolutamente amava – mas que foi também marcada por muito sofrimento: "Sofri dois acidentes graves na minha vida. Um em que um ônibus me arremessou no chão, o outro acidente foi Diego." A famosa frase de Frida é um indicativo da história de amor incomum que conectou o famoso pintor, 21 anos mais velho que ela, à mulher que, como uma artista ainda desconhecida, apresentou a ele algumas de suas primeiras obras em 1928. Para Frida, foi amor à primeira vista e, embora os dois se traíssem repetidamente com outros parceiros – o caso de Diego com a irmã dela, Cristina, foi o mais difícil para a artista –, eles nunca se separaram. Após a morte de Frida em 1954, aos 47 anos, Diego confessou: "Percebi que a parte mais maravilhosa da minha vida tinha sido meu amor por Frida." Ele morreu três anos depois. "Diego y yo", finalizado em 1949, é um dos últimos autorretratos da mexicana. Seu cabelo está enrolado em volta do pescoço como grilhões, enquanto lágrimas escorrem por seu rosto. A pintura foi feita durante o caso de Diego com uma amiga íntima dela, a atriz María Félix. O sofrimento da mulher traída se reflete em cada pincelada. Obras de Frida só se valorizam Em 1990, a obra já havia sido vendida – também na Sotheby's – por modestos 1,4 milhão de dólares. Parece relativamente pouco, mas à época foi a primeira obra de um artista latino-americano a arrecadar mais de 1 milhão de dólares em leilão. Desde então, os preços das pinturas de Frida Kahlo aumentaram continuamente. A obra "El tiempo vuela" (O tempo voa), de 1929, foi vendida por 4,6 milhões de dólares em 2000, e "Dos desnudos en el bosque" (Dois nus na floresta) atingiu 8 milhões de dólares em 2016. Antes do leilão, "Diego y yo" fazia parte de uma coleção milionária de arte que precisou ser desfeita justamente por conta de um divórcio. O magnata do mercado imobiliário Harry Macklowe e sua esposa Linda Macklowe se separaram em 2016 após 57 anos de casamento e, em meio a uma disputa legal por seus bens, tiveram que vender valiosas pinturas de seu enorme acervo de arte moderna, incluindo, além de Frida Kahlo, também Andy Warhol, Mark Rothko e Jackson Pollock. Segundo o jornal americano New York Times, o comprador de "Diego y yo" teria sido o empresário Eduardo Costantini, fundador e presidente do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires – a possibilidade de o icônico autorretrato ir parar nas paredes de um museu e não na casa de um colecionador de arte deve agradar os fãs de Frida Kahlo. Autor: Suzanne Cords
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