Aclamado com vaia cearense, francês caminha por uma fita nas alturas
Com direito a palmas e vaias cearenses, o francês Nathan Paulin percorreu a distância entre dois prédios por uma fita nas alturas, no Centro de Fortaleza, nesta quinta-feira, 9. O POVO acompanhou o momento
20:29 | Dez. 09, 2021
Quem passava pelo entorno da Praça do Ferreira e da Praça dos Leões, no Centro de Fortaleza, nesta quinta-feira, 9, pôde ver um homem nas alturas, atravessando a distância entre dois prédios por uma fita de poucos centímetros de largura. Vestido com uma calça jeans e uma blusa listrada de tecido leve, ele caminhava e fazia acrobacias diversas sob o pôr do sol da Terra da Luz.
O momento chamou a atenção de dezenas de fortalezenses e transeuntes, que mantinham seus pescoços curvados para vê-lo, a uma altura de 50 metros, percorrendo uma distância de 250 metros. Muitos, munidos de celulares, gravavam vídeos ou capturavam fotografias. Nas imagens, um pontinho que se equilibrava na corda bamba, com o azul do céu da Capital cearense ao fundo. “Ô bicho véi doido!”, “Esse aí é corajoso, viu!?”, “Olha, mãe, o Homem-Aranha!” — exclamavam na Praça do Ferreira.
Era 17 horas quando a travessia começou. O “homem equilibrista” se chama Nathan Paulin e é francês. Ele praticava o highline, uma vertente do slackline — esporte em que alguém percorre uma fita flexível esticada entre dois pontos fixos —, mas em alturas elevadas. A performance acompanhava uma montagem sonora de Rachid Ouramdane e Jean-Baptiste Julien, com interferências dos testemunhos de Nathan em suas aventuras mundo afora. O som se confundia com as vozes da dupla sertaneja Bruno e Marrone tocando, ao mesmo tempo, numa caixinha de som pela Praça do Ferreira.
Aquele local é historicamente palco de situações inusitadas em Fortaleza. Há quase 80 anos, foi ali que um jornalista do O POVO registrou a vaia ao sol após dois dias intensos de chuva na Cidade. Era 30 de janeiro de 1942 quando ele passava pelo Centro a caminho da redação e ouviu um estridente “iêêêêêêii!”. O nome do repórter desapareceu, mas a vaia segue firme e forte, entranhada na identidade cearense. Aliás, foi com palmas e a própria “vaia cearense”, após cerca de 40 minutos de travessia, que o francês Nathan foi aclamado pelo público.
Acostumado a ver momentos singulares na Praça do Ferreira, o pipoqueiro José de Castro Maria, 64, comentou: “Sempre tem alguém fazendo alguma brincadeira por aqui, né!?”. Toda noite, há 18 anos, ele vende pipoca por Fortaleza. Ainda assim, a performance conseguiu surpreender seu José. “Foi a primeira vez que vi um negócio desse”. Ele também elogiou o francês Nathan: “Ele é um homem de coragem!”. E, rindo, completou: “Mas quem segurou ele ali foi Deus”.
Essa travessia integra o projeto “Le Traceurs”, trabalho coreográfico do também francês Rachid Ouramdane, e fez parte da abertura da XIII Bienal Internacional de Dança do Ceará. O evento acontece até 19 de dezembro, na capital cearense e nos municípios de Itapipoca, Paracuru e Trairi.
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A esteticista Aline Vasconcelos, 37, já sabia da programação. Antecipadamente, planejou assistir a performance francesa com o filho Bruno, de 9 anos de idade. Quando soube da performance, logo disse: “Filho, olha que massa! Se tu souber, vai vir um cara que é francês, ele vai andar de um prédio para outro prédio lá nas alturas. Cara, que massa! Igual ao Homem-Aranha”.
Nesta quinta-feira, Aline saiu do trabalho no bairro Jacarecanga e foi até a Praça do Ferreira. “Eu gosto muito de incentivar ele a ver as programações culturais que Fortaleza oferece. Gosto que ele veja a arte, acho muito legal levar ele pra essas coisas. Digo: ‘Filho, tu tem 9 anos de idade. Eu tenho 37, quando que a mamãe viu isso!? Nunca! É uma coisa única, uma arte única. A gente veio super empolgado. Foi um rebuliço pra eu sair do trabalho, pra vir, mas estamos aqui”. Bruno aprovou.
XIII Bienal Internacional de Dança do Ceará
Quando: até 19 de dezembro
Onde: Fortaleza, Itapipoca, Paracuru e Trairi.
Mais info: www.bienaldedanca.com
Ingressos gratuitos disponíveis na plataforma Sympla
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