Com Lady Gaga, 'Casa Gucci' faz retrato envolvente e irônico do status quo

Recontando o relacionamento entre Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, "Casa Gucci" é retrato grandiloquente e irônico sobre riqueza, traição e ambição

14:27 | Nov. 25, 2021

Por: João Gabriel Tréz
'Casa Gucci' tem direção de Ridley Scott e roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna (foto: Divulgação)

A performance empreendida em contextos pautados no status social existe tanto para convencer os outros quanto para convencer a si, uma espécie de verniz no qual se agarrar parece ser a única opção. Aparências cumprem importante papel no longa "Casa Gucci", que reconta o relacionamento entre Maurizio Gucci, herdeiro da grife italiana, e Patrizia Reggiani, marcado por ambição, traição e tragédia. Dirigida por Ridley Scott, a produção assume as estruturas e ferramentas do universo que narra para construir um retrato estilizado, melodramático, envolvente e acentuadamente irônico sobre ele próprio. Com Lady Gaga e Adam Driver nos papéis principais, o filme chega nesta quinta, 25, aos cinemas.

Grife familiar fundada em 1921, a Gucci é apresentada na trama — que compreende o período dos anos 1970 aos 1990 — como uma marca tradicional a ponto de se tornar ultrapassada, mas cujo nome ainda inspira fascínio. Uma das fascinadas é Patrizia, que trabalha na empresa de caminhões do padrasto e conhece Maurizio numa festa na qual consegue entrar através de um amigo.

Os dois engrenam uma conversa e, quando se apresentam propriamente, ela cria interesse acentuado ao ouvir o sobrenome do rapaz. A noite não se estende além da festa, mas Patrizia não desiste de se aproximar de Maurizio e, eventualmente, consegue conquistá-lo.

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O começo do romance é retratado com tons quase fabulares, um idílio amoroso interrompido apenas pela contrariedade ao relacionamento por parte do pai dele, Rodolfo Gucci (Jeremy Irons), que avalia Patrizia como meramente interesseira. Isso leva a um distanciamento entre o progenitor e Maurizio, que passa a morar de favor com a família da noiva e, até, a trabalhar como limpador de caminhões.

É curioso notar como o filme estrutura o início da relação do casal, que passa ao largo das disputas escusas por poder e dinheiro que marcam-na mais tarde na narrativa. Maurizio é apresentado como um jovem tímido, pouco interessado no peso do nome ou mesmo em se aproximar da empresa, enquanto Patrizia soa deslumbrada com o novo universo que se abre, sim, mas até mesmo também ingênua.

A frivolidade e o mundano passam a moldar a narrativa quando os jogos de poder da Gucci — não somente enquanto império da moda, mas especialmente enquanto família — se alastram até o casal. Na prática, porém, o alastramento é mútuo, uma vez que Patrizia se vê a um passo da chance de frequentar verdadeiramente um circuito outrora distante e que Maurizio, antes reticente, é tomado pela sedução do poder e das consequentes regalias.

Quando o casal começa a se envolver, a grife é comandada pelos irmãos Rodolfo e Aldo Gucci (Al Pacino), homens rodeados por riquezas, mas impactados por questões familiares próprias e pelo implacável envelhecimento. Enquanto Rodolfo cortou relações com Maurizio, Aldo precisa lidar com o filho Paolo (Jared Leto), um estilista que sonha em assinar uma coleção pela marca, mas é tolhido pelo pai.

Um tensionamento geracional se estabelece entre os Gucci, uma vez que os sócios-proprietários prezam pela tradição da marca e Paolo sonha em novos ares. Neste contexto, Patrizia vê uma brecha para Maurizio entrar de fato na estrutura da empresa.

Apesar da mulher ser, no imaginário popular e na cobertura de mídia, vista como a causadora da derrocada da família Gucci, é interessante que o longa estabeleça um olhar que não necessariamente a exime das próprias responsabilidades — Patrizia é retratada como ambiciosa e manipuladora, o que traz os melhores momentos de Gaga na obra —, mas a equipara aos outros envolvidos.

Afinal, os Gucci só travam entre si uma série de acusações, trapaças e chantagens porque têm histórico e estofo para tanto, como nos esquemas de sonegação de impostos ou no prazer pessoal de ostentar luxos desmedidos.

Tropeços econômicos e intrigas familiares se sucedem na trama, dando um bem-vindo ar quase novelesco à obra. Em "Casa Gucci" é concedido ao espectador comum algo como um acesso privilegiado aos "bastidores" do poderio econômico, social e simbólico, "revelados" com requinte e afetação.

Há quem torça o nariz por achar "brega" ou "forçado", mas a opção por contar essa história tão intrincada pelo viés da artificialidade é acertada. Pelos suntuosos cenários, excessivos figurinos, irreais perucas e macarrônicos sotaques que misturam inglês e italiano, a produção potencializa o teatro das aparências que norteia não só os Gucci, mas seus semelhantes.

Trailer de Casa Gucci

Casa Gucci

Quando: estreia nos cinemas nesta quinta, 25

Sessões Iguatemi: às 14h30, 17h40 e 20h50 (leg); às 13h40 e 21h30 (dub)

Sessões RioMar Fortaleza: às 14h, 15h, 17h30, 18h30, 21 horas e 22 horas (leg)

Sessões RioMar Kennedy: às 21 horas (leg); às 14 horas e 17h30 (dub)

Sessões Via Sul: às 20h30 (dub)

Sessões Shopping Parangaba: às 15h20, 18h30 e 21h40 (dub)

Sessões North Shopping: às 20h30 (leg); às 14h10 e 17h20 (dub)

Sessões North Shopping Jóquei: às 18h20 (dub)

*horários divulgados pelos shoppings

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