Pianista Nelson Freire morre aos 77 anos

O músico mineiro estava em sua casa, no Rio de Janeiro, quando faleceu aos 77 anos durante a madrugada de segunda-feira, 1º de novembro

Nelson Freire, considerado um dos maiores pianistas de sua geração, morreu aos 77 anos, durante a madrugada de segunda-feira, 1º de novembro. Ele estava em sua casa, no Rio de Janeiro, mas a causa da morte não foi confirmada até o momento de fechamento desta matéria. As informações foram divulgadas pela AFP.

O músico, que nasceu na cidade de Boa Esperança, em Minas Gerais, era um talento precoce: desde os três anos já tocava o instrumento e constumava impressionar os familiares. Na idade em que as pessoas ainda estão aprendendo a escrever, aos 5, decidiu se apresentar pela primeira vez ao público geral com uma composição de Mozart (1756 - 1799). Incentivado pela família, começou a ter aulas de piano que lhe projetaram para sua carreira posterior.

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Sob orientação das pianistas Nise Obino e Lúcia Branco, tornou-se, no início da adolescência, um dos vencedores do Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro. Depois disso, conquistou o primeiro lugar no Concurso Internacional Vianna da Motta, em Lisboa.

Passou por vários lugares no exterior para realizar apresentações, como Japão, Israel, Estados Unidos, além de países da América do Sul e da Europa. Aos 24 anos, estreou na Orquestra Filarmônica de Nova York. Além disso, também foi o único brasileiro a ser incluído na coletânea “Great Pianists of the 20th Century”, que conta com gravações de 72 pianistas do mundo. A coletânea foi lançada em 1999 pela gravadora Philips.

Considerado pela revista estadunidense “Time” como “um dos pianistas mais emocionantes de todos os tempos”, destacou-se por suas interpretações de Chopin e por apresentar um repertório romântico. Ainda trabalhou com regentes renomados, como Pierre Boulez, André Previn, Eugen Jochin, Lorin Maazel e outros.

Em 2019, havia quebrado o braço direito ao cair enquanto passeava no Rio de Janeiro. Por causa disso, precisou passar por cirurgia e ficou distante dos palcos. Seu retorno estava previsto para o ano passado, mas, com a pandemia, voltaria aos espetáculos depois do período de distanciamento social. Há dois meses, porém, tinha cancelado uma participação como jurado do Concurso Chopin, de Varsóvia.

Homenagens

Nelson Freire deixou um importante legado para a música clássica. E, com o anúncio de sua morte, várias pessoas prestaram suas homenagens nas redes sociais. O Instituto Fryderyk Chopin, responsável por pesquisar e disseminar a obra de Chopin, escreveu: "Um grande artista de extraordinária modéstia, totalmente dedicado à música. Ele nos presenteou com muitas interpretações cuja beleza e brilho muito especial são inigualáveis. Um homem excepcional cuja arte e vida nunca deixam de inspirar. Ele permanecerá conosco para sempre - em reminiscências, memórias de momentos mágicos, experiências artísticas, gravações fenomenais".

Rodrigo Toffolo, maestro da Orquestra Ouro Preto, também publicou em seu perfil no Instagram. “Quando a arte perde, todos nós perdemos. Quando a arte sofre, todos nós sofremos. Nelson nos fazia mais brasileiros, mais humanos, mais mineiros. Não tocou apenas piano, tocou nossas almas e nossos corações. Sua arte fica para todo o sempre - que sorte a nossa! Ainda que soframos sua perda, seu legado ficará para sempre e faz da música, a quem ele devotou toda sua vida, ainda maior - que sorte a dela”.

A Orquestra Sinfônica Brasileira, responsável por uma das primeiras premiações que Nelson Freire recebeu em sua carreira, prestou homenagens ao pianista nas redes sociais e agradeceu por ele ter feito parte de sua história. “Para nós, é uma honra que sua trajetória tenha começado junto à Orquestra Sinfônica Brasileira. Em 1956, ele venceu, pela primeira vez, o Concurso Jovens Solistas da OSB, dando início a uma brilhante carreira que nos encheria de orgulho e encantaria plateias do mundo todo. Neste dia triste, exaltamos esse ícone da música e agradecemos por cada oportunidade que tivemos de ouvi-lo”.

Já a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo foi outra instituição cultural que relembrou a relação do músico com o espaço. “Parceiro e amigo, de sorriso simpático e poucas palavras, mas de convivência fácil, Nelson sempre abrilhantou nossos concertos na Sala São Paulo e em turnês pelo mundo. Sua inspiração ficará eternamente registrada nos corações dos músicos, colaboradores e do público da Osesp”, escreveu.

Ainda como forma de homenagear Nelson Freire, o Instituto Piano Brasileiro divulgou uma playlist colaborativa no Youtube para reunir os trabalhos do pianista. O objetivo é disponibilizar gravações comerciais e não-comerciais em ordem cronológica para auxiliar na pesquisa. "Queremos, com isso, prestar uma homenagem a sua memória, compilando este legado incrível que deixou, para auxiliar pianistas, estudantes de piano, professores e pesquisadores a conhecerem sua carreira", disse em postagem no Facebook.

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