Setembro Amarelo: 62,5% da população LGBTQIA+ já pensou em suicídio

Preconceito leva pessoas da comunidade a sofrer com doenças emocionais, segundo psicólogo; índice de atentados contra a própria vida é seis vezes maior entre pessoas LGBTQIA+ que na população geral

06:05 | Set. 24, 2021

Por: Ana Flávia Marques
Preconceito leva ao adoecimento mental da população LGBTQIA+ (foto: Fabio Lima)

Em meio ao Setembro Amarelo, campanha brasileira de prevenção ao suicídio, pesquisas revelam o impacto que o preconceito traz para a saúde mental da população LGBTQIA+. Além das dificuldades da vida cotidiana, a comunidade é afetada pela discriminação.

Uma pesquisa realizada pela revista científica americana Pediatrics revela que 62,5% do desse público já pensou em suicídio e tem seis vezes mais chances de tirar a própria vida em comparação com a população geral. O risco de suicídio aumenta em 20% quando vivem em ambientes hostis à sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Para o diretor artístico Ale Monteiro, gay e ativista pela causa, a busca pela inclusão e a exposição a situações traumáticas são alguns dos fatores que afetam a saúde mental dos LGBTQIA+. “Você nasce diferente, com gostos únicos, e na sua casa, escola, igreja, dizem que não pode usar isso, não pode falar assim, não pode andar desse jeito e vão tirando tudo de você, até que não sobra nada. Crescer numa sociedade homofóbica faz com que tenhamos cada vez mais medo”, afirma.

“É muito frustrante porque você é chamado de gay, viadinho e boiola, chutam ou empurram você, e depois de tudo isso, seus pais é que são chamados. Como se o erro estivesse em você. Quem é levado para psicólogo é você. A estrutura homofóbica está tão enraizada que o sujeito LGBTQIA+ é violentado todos os dias. Essa prática tem sido invisibilizada por anos”, desabafa.

Ale também alerta para os ataques nas redes sociais e como as pessoas se aproveitam do anonimato para fazer comentários homofóbicos, relembrando o caso da morte de Lucas Santos, filho da cantora de forró Walkyria Santos. “Perdi um amigo recentemente, que era muito bem sucedido. Ninguém sequer imaginava que ele estava pedindo ajuda ou socorro internamente. A depressão e o suicídio são muito silenciosos".

"Eu vejo que os ataques virtuais nada mais são do que o reflexo do que acontece diariamente. Recebo comentários absurdos durante o dia. Não é todo mundo que está preparado para lidar com ódio coletivo. Ser um gay assumido hoje significa psicólogo, análise, terapias e psiquiatra. Não porque sejamos loucos, mas para aprender a lidar com a loucura alheia. Quase um paradoxo, mas é isso: a pessoa sã tem que ser medicada para lidar com uma sociedade doente”, destaca.

O psicólogo Paulo Roberto Abreu acredita que esse público tende a sofrer com problemas emocionais. "Por conta do preconceito estrutural o sujeito LGBTQIA+ é mais vulnerável ao sofrimento psíquico. Consequentemente, mais exposto ao adoecimento metal. Psicopatologias como depressão, síndrome do pânico, crises de ansiedade são alguns exemplos de doenças decorrentes do sofrimento e angustia que alguns LGBTQIA+ enfrentam", pontua.

O psicólogo desenvolveu um projeto que auxilia essa comunidade a cuidar da saúde mental. "Ter uma boa rede de apoio é fundamental. O Projeto Ser - LGBTQIA+ nasceu com o objetivo de facilitar o acesso deste público a psicoterapia. Cuidar da saúde mental é fundamental, e o setembro amarelo vem reforçar essa importância, que deve ser lembrada o ano todo", destaca.

Ale também fala sobre a importância da família para lidar com esse cenário. “Gosto de pensar na família como o primeiro pilar. Não tenho nenhuma memória onde minha mãe não tenha me protegido. Uma vez, reclamei que chutavam minha mochila de carrinho e ela, no dia seguinte, depois de muito chorar, me colocou em uma luta. Não pra eu sair batendo nas pessoas, mas para ganhar autoconfiança de que saberia me defender”, relembra. “O apoio para uma criança plural é sempre a base familiar. O número de suicídios aumenta todos os dias e os pais têm que tomar muito cuidado e estar sempre atentos aos gritos mudos de socorro”, afirma.

Confira iniciativas de psicoterapias gratuitas no Ceará

- Psicólogos Voluntários do Ceará

Agendamentos pelo Instagram (@psicólogosvoluntariosceara) ou pelo e-mail (psicologosvoluntariosceara@gmail.com).

- Escuta Terapêutica do Projeto Carmens

Agendamentos pelo Instagram (@carmens_comunidade) ou pelo e-mail (carmenscomunidade@gmail.com).

- Conexão Afetiva

Público Alvo: profissionais e colaboradores da área da Saúde, profissionais de segurança, pacientes com Covid e familiares de pacientes com Covid.

Agendamentos pelo Instagram (@plantaopsi_) ou pelo site.

- Plantão Coronavírus

Iniciativa do Governo do Ceará. É possível ser atendido pelo WhatsApp (85 98439-0647) ou pelo telefone (0800 275 1475)

- Centro de Atenção Psicossocial (Caps)

É possível ainda receber atendimento psicológico gratuito por meio dos Caps, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Veja lista de endereços e contatos em Fortaleza:

Regional I

CAPS GERAL

-Centro de Atenção Psicossocial Nise da Silveira – Rua Soares Balcão, 1494- São Gerardo. Telefones: 3105.1119 / 3452.1960

CAPS AD

-Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Dr. Airton Monte – 24hs
Av. Monsenhor Hélio Campos, 138 – Cristo Redentor (Dentro do CSU e UAPS Virgílio Távora). Telefones: 3433.9513

Regional II

CAPS GERAL

-Caps Geral Dr. Nilson de Moura Fé 24hs – Rua Pinto Madeira, 1550 – Aldeota. Telefones: 3105.2632 / 3105.2638

CAPS AD
– Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – Dr. José Glauco Bezerra Lobo. Rua Giselda Cysne, s/n – Cidade 2000 (próximo ao Posto de Saúde Rigoberto Romero)

– Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas – Centro – Rua Dona Leopoldina, 08 – Telefone: 3223-63-88

CAPS INFANTIL
– Dr. Marcus Vinicius Ponte de Sousa Infanto Juvenil – Rua Giselda Cysne, 87 – Cidade 2000- próximo ao Posto de Saúde Rigoberto Romero. Telefone: 3249-50-03

Regional III

CAPS GERAL
Prof. Gerardo da Frota Pinto -Rua Francisco Pedro, 1269 – Rodolfo Teófilo. Telefones: 3433.2568 / 3105.3451

CAPS AD
– Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Caps AD – Rua Frei Marcelino, 1191– Rodolfo Teófilo. Tele3105.3420 / 3105.3722

Regional IV

CAPS GERAL
– Centro de Atenção Psicossocial – Av. Borges de Melo, 201 – Jardim América. Telefones: 3131.1690 / 3494.2765

CAPS AD
– Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – Caps AD – Alto da Coruja -Rua Betel, 1826, Itaperi. Telefones: 3493.5538

Regional V

CAPS GERAL
-Centro de Atenção Psicossocial Bom Jardim Caps II -Rua Bom Jesus, 940 – Bom Jardim. Telefones: 3245.7956 / 3105.2030

CAPS AD
-Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas -Rua Antônio Nery S/N-Granja Portugal – Telefones: 3105.1023 / 3488.5717

Regional VI

CAPS GERAL
– Centro de Atenção Psicossocial – Rua Carlota Rodrigues, 81 – Messejana. Telefones: 3488.3312 / 3276.2051

CAPS AD
– Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – Casa Da Liberdade – Rua Salvador Correia de Sá, 1296- Sapiranga. Telefones: 3273.5226 / 3278.7008

CAPS INFANTIL
– Centro de Atenção Psicossocial Infantil Maria Ileuda Verçosa – Capsi – Rua Virgilio Paes, 2.500- Cidade dos Funcionários. Telefones: 3105.1510 / 3105.1326

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