"Cancelada": Viih Tube lança livro sobre comportamento na internet

Viih Tube, atriz, roteirista e influenciadora digital, lança o livro "Cancelada - O que a internet não mostra" (2021) e repercute saúde mental e ataques no mundo on-line e off-line

14:00 | Set. 18, 2021

Por: Luiza Ester
A atriz, roteirista e influenciadora digital Viih Tube lança o livro livro Cancelada - O que a internet não mostra (2021) pela editora Agir, com reflexões sobre comportamento na internet (foto: Divulgação)

A paulista Vitória Moraes, ainda menina, já se cobrava muito. Queria ser boa aluna, boa filha… Orgulhar família e amigos. Quando tinha apenas 11 anos, após a conturbada separação dos pais, foi diagnosticada com síndrome do pânico. Aos 12, imersa às tantas questões do início da adolescência, ligou uma câmera e decidiu falar sobre diversos assuntos na internet — mais precisamente na plataforma de vídeos YouTube. Logo alcançou a identificação de uma rede de seguidores, tornando-se Viih Tube. À época, tudo parecia mágico e divertido. Com o tempo, aquele espaço virtual saudável e receptivo não era mais o mesmo.

Ao passo que ia descobrindo uma carreira artística — Viih escreveu livro, criou websérie e protagonizou filme —, ela se viu imersa em algo que se convencionou chamar de “cultura do cancelamento”. Uma maneira contemporânea de ostracismo, em que haters (termo em inglês para “odiadores”) costumam atacar pessoas a partir de uma atitude considerada questionável ou até mesmo sem critério. Enquanto a admiração dos fãs expandia para as demais mídias sociais, os discursos de ódio e conteúdos falsos passaram a integrar com cada vez mais frequência a trajetória de Viih. Os comentários em massa tomavam o rumo não só do universo on-line, mas também do off-line.

Em “Cancelada - O que a internet não mostra” (2021), Viih Tube reflete sobre as várias experiências de cancelamento que abalaram sua saúde mental e poderiam ter cessado, inclusive, sua vida. Com lançamento em novembro pela editora Agir, o livro está em pré-venda. A obra mescla elementos autobiográficos a considerações sobre anonimato nas redes, positividade tóxica, discurso de ódio, rejeição, amadurecimento, relacionamentos e equilíbrio emocional.

Aos 21 anos, a artista e influenciadora digital tem quase 20 milhões de seguidores no Instagram e mais de 11 milhões de inscritos em seu canal no YouTube. Neste mês de setembro, mês da prevenção ao suicídio, ela tem usado seu engajamento para dialogar sobre o assunto.

“Eu vivo um momento de autoconhecimento muito bom, sinto que a minha cabeça tá mais estruturada para muita coisa”, conta ao O POVO. Para Viih, o livro é um desabafo muito pessoal: “No fim, virou quase uma saída de autoajuda, do tanto que eu desabafei e contei sobre a minha história. Eu sei que muita gente vai se identificar”. Com tom intimista, a obra tem como referência os próprios diários da artista. Viih revisitou seus desabafos do passado e, por meio dos escritos, lembrou como pensava e sentia em outro tempo.

“Eu tinha muito medo, já fui muito presa e reprimida. Esse momento é de libertação. O livro tem a minha essência, tem meu jeitinho de pensar e de falar. É muito especial para mim tudo o que eu conto ali... Coisas que talvez nem minha mãe saiba, porque eu sempre guardei sozinha. Eu peguei tudo que estava aqui guardadinho e joguei no livro”, revela. Entre suas inspirações na literatura, a autora cita Isabela Freitas, conhecida pelos títulos “Não se apega, não” (2014), “Não se iluda, não” (2015) e outros.

A obra foi escrita após sua participação no 21º Big Brother Brasil (BBB), reality show da Rede Globo. Constantemente chamada pelo público de “falsa”, Viih foi a 13ª eliminada da edição, com 96,69% dos votos. Contudo, este não é o ponto central de “Cancelada”. Ela já pretendia escrever a obra antes mesmo do programa. A ideia nasceu como um filme, mas acabou tomando forma na literatura. “Eu fui escrevendo e sentindo que parecia um livro, vi que dava para dividir as minhas ideias em capítulos. Ficou como eu imaginei… mas quem sabe um dia não vira um filme, né!?”, almeja.

O livro explora sua passagem pelo BBB como um ato de coragem, depois de tantos episódios difíceis em sua vida pública. “Eu passei por muita coisa, fui agredida, entre outras situações, como tentativa de suicídio”, relata. Viih chegou a ter seu endereço vazado. Criada em Sorocaba, município localizado no interior do Estado de São Paulo, a artista chegou a receber em sua casa bilhetes com diversos tipos de ameaças.

“Graças a Deus eu consegui me manter no lugar. Eu sinto que eu sou muito calejada com a internet, já leio críticas sem dor e sem levar muito a sério, sabe!? Não me importa, porque eu sei quem eu sou, o coração que eu tenho. Eu sei que, quando eu erro, eu posso mudar, melhorar. Não preciso mais que fiquem jogando na minha cara as minhas inseguranças. Não me dói mais, mas porque eu tive uma bagagem muito pesada para chegar a esse ponto”, analisa.

Canceladores

Viih Tube alerta para comentários ofensivos tanto na internet quanto fora das redes. “Tem jovens que se matam realmente, porque não aguentam. As pessoas não têm mais cautela para o que vão falar, não pensam se vão magoar o outro. Até coisas bestas, sabe!? Do tipo, ‘ai você tá meio feinha hoje’, ‘nossa você tá meio inchada, tá com uma cara estranha’. Eu fico pensando... Por que? Será que faz a pessoa se sentir melhor ou é só para você colocar para fora o que você pensou, sem necessidade alguma?”, exemplifica.

Para Viih, os chamados “haters” sempre existiram e o ato de cancelar não é de agora. “Sempre estiveram aqui, só não tinha o nome de cancelamento”, expõe. Ela também avalia como a dinâmica do cancelamento funciona: “Às vezes você sabe que errou, pede desculpa, tenta procurar uma mudança… Mas o verdadeiro hater não está nem aí. O que ele quer mesmo é que você suma e que você morra com isso”.

No livro, a autora tenta mostrar como esse comportamento é danoso e está por toda parte. Muitas vezes, pode vir até de um familiar. “Muitos dos canceladores são puro ódio. Já outros, são boas pessoas no dia a dia, tentam acertar como mãe, como namorado, com o trabalho, com a escola, com os estudos... Tentam ser a melhor versão de si, mas quando está na internet fala um monte de coisa que não percebe se está errando. É o tipo do cancelamento em que o cancelador não se enxerga como cancelador. Isso é muito perigoso, porque a gente conhece e a gente pode alertar”, recomenda.

De acordo com Viih, cada pessoa tem responsabilidade na cultura do cancelamento. Ela convida a repensar sobre as próprias atitudes nos espaços virtuais e concretos. “Nós somos culpados de alguma forma. Temos que tomar mais cuidado com o que a gente faz na internet, com o que a gente manda para a amiga, resposta ou comenta num site de fofoca. Às vezes a gente também acha que é só o outro ou o amigo do amigo”, observa.

Seguir sonhando

Viih celebra o movimento de campanhas de conscientização sobre saúde mental na internet e o debate sobre temas relacionados, como a empatia. Ao mesmo tempo que há vários “canceladores”, existem pessoas que “tentam entender o que está acontecendo”. Durante sua trajetória no mundo on-line, a artista passou por diferentes fases. No agora, Viih pretende conversar abertamente sobre como se sente — exatamente como fazia quando começou na internet. Esse é o lema da sua “nova era” no YouTube.

Ela adquiriu responsabilidade bem cedo. Queria ajudar seus pais quando ainda era muito nova. Desde então, já realizou diversos sonhos. Se encontrou no audiovisual e nas novas mídias. “Tudo que eu faço é com o coração, com amor… Eu amo roteirizar. Amo escrever como um hobby, uma diversão. Nunca fiz como uma profissão, mas automaticamente tudo que eu faço acaba virando trabalho”, destaca.

Além de investir nos estudos de escrita e roteiro, Viih pretende aprimorar a carreira de atriz: “Sempre foi um sonho e eu gosto muito de estudar. Claro que tem um processo, porque eu vivo da internet hoje, é meu ganha pão. Eu preciso conseguir conciliar, mas já tem projetos muito legais pela frente comigo atuando. Acho que as pessoas vão amar. Estou me esforçando e me dedicando muito”.

No domingo, 19, reportagem do Vida&Arte no O POVO + sobre detox digital na era da informação traz relato de Viih Tube sobre a importância de tirar um tempo para si e reconectar consigo.

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