Denizard Macêdo, "o inesquecível intelectual", nascia há 100 anos

Historiador Licínio Nunes de Miranda homenageia o centenário de nascimento de José Denizard Macêdo de Alcântara

10:53 | Set. 01, 2021

Por: Vida&Arte
JOSÉ Denizard Macêdo de Alcântara completaria cem anos nesta quarta-feira, 1º de setembro (foto: fotos Arquivo pessoal )

Hoje, José Denizard Macêdo de Alcântara completaria cem anos. O historiador Raimundo Girão o chamou de “inesquecível intelectual”, detentor de “uma lúcida inteligência, que se forrou de legítima cultura, nos domínios da História, da Economia e dos estudos filosóficos.” O escritor Gustavo Barroso o considerou um “dedicado cultor da história cearense”. Nascido no Crato, Denizard estudou no Liceu do Ceará, fez o curso de Ciências Econômicas e, posteriormente, doutorado na mesma área. Sua formação intelectual se baseou nos ensinamentos de grandes pensadores antigos, estrangeiros e nacionais.

Na adolescência, Denizard militou nas hostes integralistas, atraído pela “preservação e intransigente defesa da cultura nacional, das tradições brasileiras e do nosso passado.” Se opôs a ideários autoritários e estatizantes (ainda que defendidos por aliados), e a radicalismos políticos de direita e de esquerda, particularmente ao que classificara como “chauvinista... xenófobo, etnocêntrico e... a loucura racista de Hitler.” Considerou como fundamentais os valores cristãos católicos e os da civilização ocidental, com um tempero mestiço tipicamente brasileiro. Foi, acima de tudo, um católico convicto, e um ardoroso defensor da monarquia, a qual definiu como “única forma de governo inteligente e adequada pra ser aceita por um bom brasileiro”.

Durante o regime militar, foi contrário aos movimentos comunistas, mas também aos métodos utilizados para enfrentá-los. A seu respeito, o escritor Mozart Soriano Aderaldo disse que “discordava do erro, mas tolerava o que errava, que combatia as ideias por ele reputadas como errôneas, mas que respeitava o adversário.” Denizard protegeu estudantes de esquerda, alertando-os do perigo iminente de sequestros e de tortura. “Apesar de ser um homem de direita”, relembrou o líder estudantil João de Paula Monteiro, “ele teve essa atitude cavalheiresca”. Esta independência, fiel a seus princípios, custou a Denizard posições de prestígio e poder. Ainda assim, por mérito e esforço próprios, foi vereador em Fortaleza, vice-reitor da UFC, secretário de cultura do Ceará, membro do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, para citar alguns exemplos.

Contudo, foi no magistério que Denizard se realizou, sendo professor em numerosas instituições de ensino, nas quais educou, e não doutrinou, várias gerações de cearenses. Fez isto em conjunto com a criação dos filhos e dos sobrinhos órfãos, sendo também esposo dedicado à Eliana Porto Sampaio, até falecer de infarto em 11 de novembro de 1983. O escritor Cláudio Martins o definiu como um “amigo incomum, esbanjador de talento, soldado de corajosas e arriscadas batalhas, ideólogo sem tergiversação mínima, senhor dos caminhos retilíneos, pai exemplar, cidadão de raras virtudes cívicas”.

Texto escrito pelo historiador Licínio Nunes de Miranda

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