Mano Brown recebe convidados famosos em seu novo podcast no Spotify
O rapper e compositor brasileiro Mano Brown, do Racionais MC’s, estreia o podcast "Mano a Mano" nesta quinta-feira, 26, no Spotify
19:15 | Ago. 24, 2021
Mano Brown decidiu estudar temas diferentes quando a pandemia começou no ano passado. Leu sobre teologia, arqueologia, ciências sociais, diáspora africana e muitos outros assuntos relacionados à África. Começou, então, a conversar sobre esses novos conhecimentos entre amigos, que o incentivaram a fazer um podcast. Foi assim que surgiu o “Mano a Mano”, conteúdo exclusivo do Spotify, que estreia nesta quinta-feira, 26 de agosto.
Com episódios semanais, totalizando 16, o objetivo é dialogar com personalidades famosas - sejam elas odiadas ou amadas pelos brasileiros. Por isso, há a cantora Karol Conká, o médico Drauzio Varella, o pastor Henrique Vieira, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e o político Fernando Holiday. Outros nomes ainda não foram divulgados, mas o rapper e compositor afirma que também conversou com ídolos que admira.
“Meus amigos falam que sou um contador de histórias nato. Dou exemplos, busco ideias do passado, comparo com o presente, jogo pro futuro… Isso é do compositor. Todo letrista tem isso. Então, a gente investiu nesse lado meu. Eu sempre coloquei em forma de música, de batida. Mas as pessoas disseram que eu estava cheio de coisa para falar”, contou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 24.
Ele, que nunca teve experiência como apresentador, passou a ver entrevistas para se habituar ao formato. “Ao fazer, você entende como é difícil para um jornalista, para um repórter, para a pessoa que veicula a notícia, tirar do entrevistado a verdade. É uma ciência, não é simples”, explica.
No programa, os espectadores poderão escutar várias opiniões distintas sobre temáticas como política, religião e cultura. Mas o artista ressalta que, em determinados momentos, também mostra sua visão. “Há temas que você não tem como se acovardar e não falar. Eu tenho meu jeito de pensar, mas eu não estou fechado a entendimentos novos. Não sou um cara com pensamentos concretizados, consumados, a gente está sempre em transformação e aprendendo”.
Quando questionado sobre a decisão de convidar a também rapper Karol Conká, sua resposta foi clara: ela lhe interessava. Depois que a participante saiu do Big Brother Brasil com 99,17% de rejeição, Mano Brown, que não assistiu ao reality, queria ouvir sua história. “Entrevistei a Karol Conká em um momento delicado para ela e até para mim. Imagina a pessoa que teve tanta rejeição? As pessoas não querem ouvi-la”.
Ele comenta que conhecidos ficaram surpresos com sua decisão. “Uma rejeição de 99% me interessa muito (...). Ela também é uma mulher negra. Não é uma mulher fácil, tem opinião forte e atitudes inesperadas. Em alguns momentos, eu a comparava com minha mãe. Isso fez o diálogo flluir melhor”, pontua.
Sobre Fernando Holiday, filiado ao Partido Novo e ex-coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), indica: “Eu discordo do que ele pensa, mas eu quero ouvir um cara que ninguém quer ouvir… Ele é uma inteligência negra emergente, embora esteja equivocado o lado político dele”.
“O Fernando Holiday, como os outros que votam em partidos de direita, estão nas ruas, praticando o que pensam. Não é deixando de falar com ele que eles vão deixar de existir. A gente vai ter que dialogar com eles. Quem votou no Bolsonaro está aí. Talvez o Bolsonaro tenha decepcionado alguns, mas eles continuam pensando daquela forma. Não é uma massa que pode ser desprezada”, ressalta.
Ele espera que, antes de entreter, o podcast seja útil para os ouvintes. Porém, não dá direcionamentos sobre o que o público deve focar, pois acredita que cada experiência é uma visão única. “Numa época que imagem e som andam juntos, a palavra ganha mais força quando só tem áudio. Quando, por exemplo, você faz um videoclipe, que é meu trabalho, você pega uma música que tem mil interpretações, interpreta da sua maneira e faz um clipe. Sem o clipe, continua a ter mil interpretações”, defende.
Entretanto, o rapper comenta que todos vão descobrir que ele é um homem comum. “Sou o cara mais comum do mundo. Sou um brasileiro médio, de mentalidade mediana, mas estou aprendendo. Sou filho de mulher negra com um cara branco desconhecido. Sou um produto tipicamente brasileiro, fruto da escravidão. Sou a cara da massa brasileira”, afirma.
Panorama da carreira
Aos 51 anos, Mano Brown tem uma trajetória extensa: rapper do Racionais MC’s desde o início da vida adulta, influenciou uma geração de brasileiros e abriu espaço para novos artistas negros se destacarem no rap. Com dezenas de músicas que abordam suas experiências pessoais e as desigualdades do Brasil, seu objetivo atual é continuar sendo útil nos diálogos que propõe.
“A gente vai aprendendo novas maneiras com o decorrer do tempo. O que era relevante na década de 1990 não é relevante hoje. O que era relevante nos anos 1960, com os Beatles, Elvis Presley, Jimi Hendrix, Guerra do Vietnã, movimento hippie, não era relevante em 1980. Agora, há uma população jovem que quer viver o hoje”, comenta.
Segundo ele, a juventude negra atual quer chegar ainda mais longe do que a geração dele. “A minha geração lutava por direitos básicos, educação, comer, ler, escrever, ter uma roupa pra vestir… Eu andava quilômetros pra pegar um ônibus. Isso não cabe pra ‘molecada’ de hoje, é uma nova perspectiva”, diz.
“‘Matuê, Djonga, Orochi... Tem que quebrar esse preconceito, falar o nome desses caras que tão balançando, Hungria, Rincon, Rael, Kayblack, Caverinha, Kyan... Toda essa inteligência emergente. Eles que são o ouro, o diamante. Eles falam com os jovens”, afirma.
Avalia, porém, que ainda há pessoas que não querem ver o negro rico, principalmente, no Brasil. “Dizem: ‘ah, esse moleque está rico’, ‘bom é o fulano que está pobre até hoje’. Bom é ver o preto bem, isso é que é o ouro. Esse movimento que está vindo agora, de uns anos pra cá, é ouro. O Emicida, cara, está dando aula em Portugal, tem que exaltar”, cita.
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