Unesco retira porto de Liverpool da lista de Patrimônio Mundial
Durante dois dias de debates, alguns delegados argumentaram que os planos urbanísticos, os quais incluem a construção de prédios altos, "vão danificar irreversivelmente" o patrimônio do histórico portoA Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) retirou nesta quarta-feira, 21, o porto de Liverpool de sua lista de Patrimônio Mundial, alegando um excessivo desenvolvimento urbanístico do local histórico, uma decisão considerada "decepcionante" pelo governo britânico, determinado a estimular a economia de cidades industriais do norte da Inglaterra.
Porto de partida para a América de milhões de emigrantes britânicos e irlandeses e de escravos africanos, esta cidade de rico patrimônio musical também é o berço dos Beatles, com uma história que forjou o que a Unesco havia denominado de "caráter distintivo e espírito único" de Liverpool.
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Incluída na lista de Patrimônio da Humanidade desde 2004, esta histórica orla marítima no noroeste da Inglaterra, emblemática da era industrial, também estava classificada desde 2012 como patrimônio em perigo.
A retirada foi decidida por pequena margem em uma votação de um comitê presidido pela China: cinco delegados votaram contra a retirada e 13 a favor, apenas um a mais do que a maioria de dois terços necessária para remover um local da lista mundial
Liverpool se tornou o terceiro lugar desclassificado pelo organismo cultural da ONU, depois do santuário de órix da Arábia - um tipo de antílope - em Omã em 2007 e do vale de Elba na Alemanha em 2009, devido à prospecção de petróleo em um caso e a construção de uma ponte no outro.
Durante dois dias de debates, alguns delegados argumentaram que os planos urbanísticos, os quais incluem a construção de prédios altos, "vão danificar irreversivelmente" o patrimônio do histórico porto. O Conselho Internacional de Monumentos, que assessora a Unesco na lista do patrimônio, disse ter solicitado ao governo britânico, "em repetidas ocasiões", que apresentasse garantias mais sólidas sobre o futuro da cidade.
O plano de construção de um novo estádio do clube de futebol Everton foi aprovado pelo Executivo sem qualquer consulta pública e "é o exemplo mais recente de um grande projeto que é completamente contrário" aos objetivos da Unesco, destacou.
"Estamos extremamente decepcionados com esta decisão e acreditamos que Liverpool continua merecendo seu 'status' de Patrimônio da Humanidade, dado o importante papel que seu porto desempenhou na história e a cidade em geral", afirmou um porta-voz do governo conservador britânico.
O primeiro-ministro Boris Johnson chegou ao poder em 2019 prometendo acabar com as enormes disparidades entre a rica Londres e as cidades desindustrializadas do norte da Inglaterra. E entre seus planos, adiados pela pandemia, está a construção de infraestruturas que permitam o desenvolvimento econômico destas zonas.
Em um vídeo divulgado no Twitter, a prefeita trabalhista da cidade, Joanne Anderson, considerou que é "difícil entender como a Unesco pode preferir que tenhamos docas vazias ao invés do estádio do Everton", ao mesmo tempo que anunciou a intenção de recorrer da decisão.
O presidente da região de Liverpool, Steve Rotheram, denunciou a desclassificação como "uma decisão tomada do outro lado do mundo por pessoas que parecem não entender o renascimento" que a cidade experimentou nos últimos anos. "É uma decisão retrógrada que não reflete a realidade no local", criticou.
Vários países apoiaram o Reino Unido, concordando em que seria um passo "radical" em meio à pandemia do coronavírus. Também pediram que a concessão de mais tempo para uma Câmara Municipal que foi eleita em maio. Entre os países que se opuseram à retirada de Liverpool, está a Austrália, cuja Grande Barreira de Corais também está ameaçada de exclusão nas deliberações da Unesco deste ano.
Também votaram contra Brasil, Hungria e Nigéria, para os quais qualquer medida deveria ser adiada por um ano, de modo a dar mais tempo às autoridades do Reino Unido e de Liverpool. Já a Noruega liderou os países críticos, defendendo que, embora esteja "dolorosamente consciente" dos conflitos entre o desenvolvimento e a conservação do patrimônio, é possível alcançar um "delicado equilíbrio, algo que não existe" na cidade inglesa.
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