Unesco retira porto de Liverpool da lista de Patrimônio Mundial
Durante dois dias de debates, alguns delegados argumentaram que os planos urbanísticos, os quais incluem a construção de prédios altos, "vão danificar irreversivelmente" o patrimônio do histórico porto
17:18 | Jul. 21, 2021
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) retirou nesta quarta-feira, 21, o porto de Liverpool de sua lista de Patrimônio Mundial, alegando um excessivo desenvolvimento urbanístico do local histórico, uma decisão considerada "decepcionante" pelo governo britânico, determinado a estimular a economia de cidades industriais do norte da Inglaterra.
Porto de partida para a América de milhões de emigrantes britânicos e irlandeses e de escravos africanos, esta cidade de rico patrimônio musical também é o berço dos Beatles, com uma história que forjou o que a Unesco havia denominado de "caráter distintivo e espírito único" de Liverpool.
Incluída na lista de Patrimônio da Humanidade desde 2004, esta histórica orla marítima no noroeste da Inglaterra, emblemática da era industrial, também estava classificada desde 2012 como patrimônio em perigo.
A retirada foi decidida por pequena margem em uma votação de um comitê presidido pela China: cinco delegados votaram contra a retirada e 13 a favor, apenas um a mais do que a maioria de dois terços necessária para remover um local da lista mundial
Liverpool se tornou o terceiro lugar desclassificado pelo organismo cultural da ONU, depois do santuário de órix da Arábia - um tipo de antílope - em Omã em 2007 e do vale de Elba na Alemanha em 2009, devido à prospecção de petróleo em um caso e a construção de uma ponte no outro.
Durante dois dias de debates, alguns delegados argumentaram que os planos urbanísticos, os quais incluem a construção de prédios altos, "vão danificar irreversivelmente" o patrimônio do histórico porto. O Conselho Internacional de Monumentos, que assessora a Unesco na lista do patrimônio, disse ter solicitado ao governo britânico, "em repetidas ocasiões", que apresentasse garantias mais sólidas sobre o futuro da cidade.
O plano de construção de um novo estádio do clube de futebol Everton foi aprovado pelo Executivo sem qualquer consulta pública e "é o exemplo mais recente de um grande projeto que é completamente contrário" aos objetivos da Unesco, destacou.
"Estamos extremamente decepcionados com esta decisão e acreditamos que Liverpool continua merecendo seu 'status' de Patrimônio da Humanidade, dado o importante papel que seu porto desempenhou na história e a cidade em geral", afirmou um porta-voz do governo conservador britânico.
O primeiro-ministro Boris Johnson chegou ao poder em 2019 prometendo acabar com as enormes disparidades entre a rica Londres e as cidades desindustrializadas do norte da Inglaterra. E entre seus planos, adiados pela pandemia, está a construção de infraestruturas que permitam o desenvolvimento econômico destas zonas.
Em um vídeo divulgado no Twitter, a prefeita trabalhista da cidade, Joanne Anderson, considerou que é "difícil entender como a Unesco pode preferir que tenhamos docas vazias ao invés do estádio do Everton", ao mesmo tempo que anunciou a intenção de recorrer da decisão.
O presidente da região de Liverpool, Steve Rotheram, denunciou a desclassificação como "uma decisão tomada do outro lado do mundo por pessoas que parecem não entender o renascimento" que a cidade experimentou nos últimos anos. "É uma decisão retrógrada que não reflete a realidade no local", criticou.
Vários países apoiaram o Reino Unido, concordando em que seria um passo "radical" em meio à pandemia do coronavírus. Também pediram que a concessão de mais tempo para uma Câmara Municipal que foi eleita em maio. Entre os países que se opuseram à retirada de Liverpool, está a Austrália, cuja Grande Barreira de Corais também está ameaçada de exclusão nas deliberações da Unesco deste ano.
Também votaram contra Brasil, Hungria e Nigéria, para os quais qualquer medida deveria ser adiada por um ano, de modo a dar mais tempo às autoridades do Reino Unido e de Liverpool. Já a Noruega liderou os países críticos, defendendo que, embora esteja "dolorosamente consciente" dos conflitos entre o desenvolvimento e a conservação do patrimônio, é possível alcançar um "delicado equilíbrio, algo que não existe" na cidade inglesa.