Ana Cañas lança EP com releituras da obra de Belchior
Essa é a primeira parte de um álbum que será lançado por Ana Canãs com mais interpretações da obra de Belchior. O trabalho vem acompanhado pelo videoclipe de "Alucinação", com participação da atriz Maria Casadevall
“Amar e mudar as coisas” não parecem ser desejos restritos apenas aos versos de Belchior na música “Alucinação”. O cantor e compositor cearense deixou em suas músicas mensagens que repercutem e servem de legado até hoje, e não em vão continuam sendo transmitidas mesmo quatro anos após seu falecimento. Como exemplo, há o lançamento nesta sexta-feira, 9, do EP da cantora e compositora paulista Ana Cañas com interpretações de quatro de suas músicas, em releituras marcadas por intensidades, suavidades e sentidos. O trabalho vem acompanhado pelo videoclipe de “Alucinação”, com participação da atriz Maria Casadevall.
Intitulado “Ana Cañas Canta Belchior - EP 1”, o trabalho presta homenagem ao artista sobralense e coloca a voz de Cañas nas músicas “Alucinação”, “Velha Roupa Colorida”, “Galos, Noites e Quintais” e “Na Hora do Almoço”. Esse é o primeiro álbum da cantora desde “Todxs” (2018), indicado ao Grammy Latino. A primeira parte do álbum - dividido em EPs - tem produção de Fabá Jimenez e de Ana.
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O EP é o primeiro disco em que Ana se dedica somente ao lado intérprete, remontando ao início de sua trajetória musical, quando se destacou como intérprete de composições de jazz e da Música Popular Brasileira (MPB) nas noites de São Paulo.
Em sua carreira como artista, Ana Cañas chegou a ter músicas em trilhas novelas, como a faixa “Esconderijo” na telenovela “Viver a Vida”, e grandes parcerias, como com Nando Reis na música “Pra Você Guardei o Amor”. Sua obra autoral recebe influências da música brasileira, do jazz, do rock e do pop.
Foi ainda na adolescência que a cantora paulistana se deparou pela primeira vez com a obra de Belchior - a partir de gravações da cantora Elis Regina. O mergulho no trabalho do artista cearense, porém, vem de um tempo mais recente, há cerca de cinco anos.
Ana Cañas chegou a participar de um tributo a Belchior com as cantoras Taciana Barros e Karina Buhr em que interpretou cinco músicas. A ligação com o cearense não parou por aí: em seus shows, ela destinava alguns instantes para, com sua voz, reverberar ainda mais as "poéticas belchioranas" atreladas a questionamentos políticos e humanos.
“Eu sempre incluía ‘Alucinação’, ‘Velha Roupa Colorida’... São músicas que trazem as temáticas dessas dicotomias humanas, políticas. De certa forma são músicas que atravessam esses lugares do alicerce humano, do que nos traduz”, comenta Ana Cañas em entrevista ao Vida&Arte.
Com a pandemia, a compositora se viu em uma situação “muito complicada”, pois não podia realizar shows presenciais. Assim, recorreu ao movimento de lives no YouTube, e decidiu homenagear um compositor. O escolhido, evidentemente, foi Belchior, apontando como motivos a “atualidade” de suas letras.
Transmitida há exatamente um ano, em 9 de julho de 2020, a live “Ana Cañas Canta Belchior” reuniu mais de meio milhão de espectadores que, encantados pelas interpretações de Ana, pediram a gravação de um disco com canções do cearense.
Realizar esse projeto, porém, não foi algo fácil, pois Belchior “é um cara muito difícil de ser interpretado por conta de sua densidade e poética”, como afirma. Além disso, soma-se a extensão das letras ao “périplo enorme” no oceano de sua obra e as gravações famosas de outros artistas de músicas do cearense, como Elis Regina e Elba Ramalho.
“Quando eu estava de frente para o microfone para gravar algumas canções, eu fiquei um pouco nervosa. Foi algo bastante emocionante e desafiador para mim, porque eu tive que achar um lugar ou outro que não fosse o da Elis, mas que também trouxesse a emoção da letra”, relata Ana Cañas.
Ana Cañas e Maria Casadevall
O lançamento do EP é acompanhado pela estreia do videoclipe de “Alucinação”, gravado em parceria com Maria Casadevall. A atriz, presente na série da Netflix “Coisa Mais Linda”, divide potências cênicas com Ana Cañas no trabalho audiovisual dirigido por Ariela Bueno.
A escolha da cantora pela atriz, aliás, não poderia ser diferente: Casadevall também é “apaixonadíssima” pela obra de Belchior, acompanhou Cañas nos shows cantando a obra do cearense e a cantar junto “Alucinação” nos palcos. “Ela protagonizou momentos muito lindos e emocionantes nos meus shows, de cantar muito bem, inclusive”, acrescenta.
Seguindo inspiração no filme “Persona”, do diretor Ingmar Bergman, o videoclipe é em preto e branco e reúne duas mulheres, diversificando, assim, o que foi visto no clipe de “Coração Selvagem”, primeiro single do disco em homenagem a Belchior, quando a intérprete contracenou com o ator Lee Taylor.
Ana Cañas aponta para as trajetórias vividas por Maria Casadevall de questionamentos e reflexões de “fora da bolha”. “Como (Alucinação) é uma música que fala sobre o viés social, existencial, eu achava que tinha que ser uma atriz que também tivesse de alguma forma ligada a essas histórias de atravessamento social, de não estar apenas vivendo em sua própria bolha. Assim, a Maria foi a escolha mais urgente para fazer o clipe”.
Os vídeos das releituras de Ana Cañas não se encerram em “Alucinação”. Ela conta que será lançado um videoclipe para cada “bloco” do disco em homenagem ao cantor cearense.
Atravessar o “oceano” de poéticas e densidades da obra de Belchior foi um desafio para Ana Cañas. Nesse movimento, aliás, ela espera que outras pessoas também mergulhem: “Belchior é uma figura que eu tenho uma paixão pela vida e pela obra. É uma figura muito interessante. Quanto mais nós jogarmos luz sobre a obra dele, melhor. Não só eu como intérprete, mas também livros, séries, filmes, documentários, enfim, acho que tudo é válido quando se trata do Belchior e da imensidão da sua obra”.
Ana Cañas Canta Belchior - EP 1
Onde escutar: Spotify, YouTube, Deezer e Apple Music
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