Documentário do Globoplay aborda memórias do humorista Bussunda
O documentário "Meu Amigo Bussunda", com direção geral de Claudio Manoel, é dividido em quatro episódios e estreia nesta quinta-feira, 17 de junho, no Globoplay
21:18 | Jun. 15, 2021
Cláudio Besserman Viana (1962 - 2006) já nasceu Bussunda. Desde a infância, apostava com os amigos do acampamento judeu para ficar dias sem tomar banho. Fugia da escola para passar as tardes jogando sinuca em bares do Rio de Janeiro. Escapava das aulas de inglês e dormia em um banco da praia de Cobacabana.
Tirava notas baixíssimas no colégio e reprovava. Decidiu ingressar no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para - assim como já havia dito algumas vezes - não estudar. A figura esquisita e carismática que conquistou dezenas de amigos por onde passou na vida pessoal foi a mesma que cativou o público brasileiro como humorista.
Agora, o também escritor, cronista de esportes, editor e dublador ganhou um documentário sobre sua história. “Meu Amigo Bussunda”, com direção geral de Claudio Manoel e produzida pela Kromaki e Emoções Baratas, estreia nesta quinta-feira, 17 de junho, no Globoplay.
A obra audiovisual, dividida em quatro episódios e contada em ordem cronológica, registra vários momentos da vida do artista. Com imagens inéditas e entrevistas com pessoas próximas, o conteúdo perpassa do seu nascimento até sua trágica morte durante a cobertura da Copa do Mundo na Alemanha, em 2006.
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Os três primeiros capítulos, dirigidos e roteirizados também por Micael Langer, trazem memórias da trajetória de Bussunda na perspectiva daqueles que o conheceram.
“Minha visão entra toda no documentário. ‘Meu Amigo Bussunda’ é contado na primeira pessoa, embora não seja só a minha amizade que está ali. Tem vários amigos renomados, pessoas próximas. É uma jornada afetiva e emocional de revisitar lembranças e momentos”, explica Cláudio Manoel, que era amigo e parceiro de trabalho do humorista.
Ele foi uma dos nomes mais proeminentes do humor brasileiro entre os anos 1980 e 2000. Começou como redator do jornal humorístico “Casseta Popular”, fundado pelos estudantes universitários Beto Silva, Marcelo Madureira e Hélio de la Peña. Com críticas à política e ao comportamento da sociedade, as edições ganharam popularidade na capital carioca.
Antes as publicações competiam com o “Planeta Diário”, de Hubert Aranha, Reinaldo Figueiredo e Cláudio Paiva. Mas não demorou para os dois convergirem com o objetivo de criar o “Casseta & Planeta”.
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Unidos, os membros começaram um contrato com a Rede Globo ao assinarem os conteúdos da TV Pirata. Entretanto, obtiveram sucesso nacional quando foi criado o programa de televisão “Casseta & Planeta, Urgente!” na emissora.
“Bussunda fez parte de um dos mais importantes movimentos de renovação do humor, que até então ainda sofria muita influência do rádio. A diversificação do humor e até mesmo vertentes como o stand-up não existiriam no Brasil se o ‘Casseta & Planeta’ não tivesse ‘aberto as portas’ e começado, por exemplo, a se colocar no mesmo patamar que seu público”, aponta o diretor Micael Langer.
Segundo o também roteirista, o público receberá um pouco de alento em períodos tão difíceis. “A história de vida do Bussunda é um daqueles casos raros em que você viaja no tempo, se emociona, reflete, e tudo isso em meio a gargalhadas. Apesar de ser uma série biográfica, passeamos por uma época muito especial para o Rio de Janeiro, para o Brasil e para o humor brasileiro”, indica.
No último episódio, Langer assina o roteiro ao lado de Júlia Besserman, responsável pela direção da quarta parte do documentário. Ela, que é filha de Bussunda, foca em explicar o que os amigos definiram como “zen bussundismo”.
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“Era esse jeito de ser dele, mais calmo, de que tudo vai dar certo. Neste episódio, tem os quatro mandamentos, que são meio que as regrinhas para ser um ‘zen bussundista’. Era essa maneira dele de alcançar a felicidade (...). Acho que o jeito que ele alcançou a felicidade dele é um jeito que nós, brasileiros, podemos aprender um pouquinho”, comenta.
Ainda haverá uma discussão sobre a influência do humorista na atualidade e o “politicamente correto”. Júlia, que não assistia ao “Casseta & Planeta” desde a morte dele, revisitou as memórias para a produção da obra.
“Meu pai morreu quando eu tinha 12 anos. Tinha certas coisas que eu não entendia, certas discussões, quem afetava e porque afetava. Acho que hoje em dia não só eu entendo melhor, como a conversa e o humor mudaram. Revisitar hoje como adulta e com todas as mudanças que a gente passou não foi um processo fácil”, diz.
Apesar disso, ela observa com orgulho o trabalho do pai. “Eu tenho muito orgulho do trabalho do meu pai. (Assistir) foi algo agridoce. Tive momentos difíceis de ver coisas que não concordo e momentos legais de lembrar de algumas piadas que ele fazia. Lembrar da voz e dos trejeitos, isso é sempre bom”, pondera.
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De acordo com a roteirista, suas visões pessoal e profissional se mesclam na produção. “Como filha, é óbvio que quero falar do meu pai, mas o que o público quer ouvir do meu pai? Por que ainda é interessante falar sobre meu pai? Eu tive que, em alguns momentos, colocar o papel de filha de lado e tentar pensar assim: ‘se eu não fosse filha do Bussunda, o que eu gostaria de ouvir dele 15 anos depois da morte?’”.
A série, assim como várias outras produções feitas desde o ano passado, sofreu consequências da pandemia do coronavírus. Alguns planos precisaram ser repensados por causa das medidas de distanciamento social e pessoas também não participaram devido às restrições do isolamento.
“A gente tinha o plano de começar a filmar em agosto do ano passado e só conseguimos fazer isso em janeiro deste ano. Isso fez com que tudo fosse feito com mais pressa e estresse. Ao mesmo tempo, nunca abrimos mão dos caprichos, dos detalhes, de fazer um produto que nos orgulhasse e que fizesse o público rir e se emocionar”, pontua Cláudio Manoel.
O diretor estava presente no momento da morte de Bussunda e relembra sua relação durante a narrativa. “Entramos juntos na Casseta. Eu o incentivei a começar escrever, porque ele era engraçado e dava ideia, mas não botava a mão na massa. Moramos juntos. Foi padrinho do meu primeiro casamento. Celebrou meu segundo casamento como um falso pastor rabino. Ele sempre esteve presente na minha vida. Vi os procedimentos de tentar ressuscitá-lo”, recorda.
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Para Cláudio Manoel: “fazer essa série foi uma forma de voltar a conversar com Bussunda, de ter contato com ele, de estar próximo dele”.
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