Projeto arrecada recursos para CD com músicas inéditas de Belchior

O projeto, idealizado pelo professor universitário José Gomes Neto, realizará a produção do CD "Belchior Canta Cruz e Sousa", que conta com oito canções inéditas do artista cearense

O cantor Belchior (1946 -2017) e o professor universitário José Gomes Neto eram amigos de longa data. O cearense costumava passar vários períodos na casa do também escritor e produtor cultural no interior de Santa Catarina. Ele escrevia músicas, desenhava e pensava em novos projetos enquanto estreitava ainda mais sua relação com a região Sul do País. Um desses trabalhos foi o evento “Uma Turnê Catarina”, realizada em 2005 e financiada pelo próprio governo de Santa Catarina.

A iniciativa, dirigida e produzida por José Gomes, rendeu algumas músicas inéditas de Belchior. Na época, o artista musicalizou oito sonetos de Cruz e Sousa (1861 - 1898), um poeta que foi chamado de “Dante Negro” e se tornou um dos precursores do simbolismo no Brasil.

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Esses conteúdos haviam sido gravados em um CD, com o objetivo de auxiliar os instrumentistas que acompanhariam o músico nos shows. Enquanto Belchior ainda estava vivo, os dois tinham a intenção de regravar as músicas para lançar oficialmente, mas o tempo não permitiu que o projeto seguisse em frente.

Anos se passaram, e o disco permaneceu na casa do professor. Agora, uma nova tecnologia possibilita o isolamento da voz e dos sons do teclado, que estavam misturados em um mesmo canal de transmissão.

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A partir disso, José Gomes iniciou o projeto de financiamento coletivo “Belchior Canta Cruz e Sousa” para produzir o CD de oito faixas em alta qualidade. A meta é arrecadar R$ 88.270 até o fim de julho.

Os apoiadores podem escolher várias opções de recompensas. Com R$ 49, por exemplo, é possível ter o disco em casa. Já com R$ 88, a pessoa recebe o CD e um bottom. Ainda há outros conteúdos, como o livro “Cruz e Sousa - Travessias”, de autoria de Celestino Sachet e José Gomes Neto, e a obra “Cancioneiro Belchior”, também de José Gomes.

Após o isolamento da voz e do teclado, o trabalho será comandado pelo maestro, compositor e baixista da banda Radar, João Mourão. Ele trabalhou com o cearense por anos e adicionará outros instrumentos à trilha sonora.

“João sabe perfeitamente como fazer com que esse CD tenha todas as características da obra do Belchior. Quero que tenha o corpo do Belchior. Então eu disse a ele: ‘imagina o Belchior ao seu lado, olhando para você e botando defeito’. A ideia é que, se o Belchior estivesse vivo, ele teria aprovado como o CD sairá”, explica José Gomes Neto.

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Os sonetos selecionados de Cruz e Sousa foram escolhidos a partir de um trabalho em conjunto do professor e do artista. “Quando pensamos na gravação dos sonetos, tínhamos os mesmos exemplares do poeta. Então ficou decidido que eu faria uma seleção de 15 obras e ele faria uma de 15 também. Belchior selecionou 18 e coincidiu que as obras que eu escolhi estavam na seleção dele”, lembra.

Segundo o produtor, o amigo deixou em vida uma produção vasta em âmbitos diferentes das artes. “Na medida que o tempo passa, as obras vão se afirmando no universo em que foram construídas. O Belchior deixou uma obra muito rica, em inúmeros suportes literários, poéticos e musicais. O nome dele está cada dia mais sólido, como representante de um dos melhores fazeres artísticos que o Brasil teve e tem”, avalia.

Como forma de incentivar a manutenção da memória do Belchior, a Universidade Estadual do Ceará (Uece) também entrou como uma das apoiadoras do projeto. A mobilização começou com Claudene Aragão, diretora da Editora Uece (EdUECE) e fã do artista, quando teve conhecimento sobre o financiamento.

“Pedi uma reunião com o reitor Hidelbrando Soares e o José Gomes. Ficou decidido que usaríamos todos os canais de comunicação nas mídias da universidade para divulgar o financiamento coletivo”, explica. Além disso, a instituição de ensino também viabilizará um diálogo com o Governo do Estado Ceará para propor a distribuição do CD nas escolas cearenses.

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A professora conheceu Belchior na infância. “É a trilha sonora da minha vida”, pondera. Durante os anos, já teve alguns contatos com o artista. “Tive a oportunidade de homenageá-lo quando trabalhei na Bienal do Livro do Ceará em 2004. Ele que fez o show de encerramento’, recorda.

Ela acredita que preservar a memória do cantor é importante não somente para os cearenses, mas para todo o Brasil. “Além de compositor e cantor, foi artista plástico e um apaixonado por literatura e por filosofia”, diz.

“É curioso porque, depois da morte dele, uma legião de pessoas passou a reverenciá-lo. Em tempos sombrios como esse, tornou-se uma referência de resistência com suas ideias, como ‘ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro’. Tornou-se um hino das novas gerações”, afirma.

Para ela, a obra de Belchior é tão extensa que, mesmo após décadas sendo sua fã, ainda conhece novas versões do artista. “Ele tem uma obra extensa que extrapola os títulos mais conhecidos. Descobrimos muitas obras que não estão ali na playlist convencional. A obra dele é riquíssima em referências intertextuais”, comenta.

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Além disso, a Universidade Estadual do Ceará ainda pretende realizar uma série de eventos que abordem a importância do cantor e suas muitas facetas. As iniciativas devem acontecer no próximo semestre, mas ainda não foram estabelecidas as datas.

Meia década depois de sua morte, Belchior permanece na memória dos brasileiros. E, se depender de fãs e pessoas próximas, seu legado continuará pelas próximas gerações. José Gomes, por exemplo, tem a intenção de manter um diálogo com os filhos do amigo para a criação de uma fundação, que seria responsável por propagar sua obra.

Belchior Canta Cruz e Sousa

Onde: no site Benfeitoria
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