Bob Marley eterno: 40 anos sem o rei do reggae

O legado de Bob Marley, um dos maiores nomes da música, continua pulsante. Considerado "rei do reggae", o artista jamaicano morreu há 40 anos
Autor Luiza Ester
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Bob Marley segue inspirando sons e reflexões. Talvez, mais do que nunca. Neste momento tão difícil, com a incerteza de uma pandemia e os constantes embates políticos no mundo, seus ideais parecem cada vez mais enérgicos. Urgentes. Inadiáveis. Quarenta anos após a morte do "rei do reggae", o planeta passa por intensas transformações. A narrativa do agora caminha na corda bamba, entre o caos, o medo e a esperança. Mas o que esse cantor, compositor e guitarrista jamaicano possivelmente nos diria? A música de Bob Marley indica que a vida deve ser a eterna procura por amor, conexão com a natureza, liberdade, paz e luta por direitos humanos.

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O 40º aniversário da morte de Bob Marley acontece amanhã, 11. Em 1981, aos 36 anos, o ícone do reggae morreu por complicações de um câncer, nos Estados Unidos. Sua música segue reverberando simbolismos, especialmente nestes tempos árduos da vida na Terra, mas não só por isso. Bob Marley é um dos artistas póstumos mais presentes no meio digital. No Instagram (@bobmarley), 5,9 milhões de seguidores — até a publicação desta matéria — acompanham seu legado.

A família Marley leva sua mensagem para novos públicos. Na série "Bob Marley Sessions", lançada dia 30 de abril, artistas contemporâneos de todo o mundo apresentam performances. Da família de Bob, Julian Marley (filho) e Skip Marley (neto) são nomes envolvidos. Os episódios ficam disponíveis a cada semana, no canal "Bob Marley" no YouTube. No embalo, a Paramount Pictures prepara um longa-metragem sobre a vida de Bob. Ziggy Marley, também filho do músico, será um dos produtores da obra. A direção ficará por conta de Reinaldo Marcus Green.

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Robert Nesta Marley nasceu em 6 de fevereiro de 1945, no vilarejo de Nine Mile, em Saint Ann, na Jamaica. Filho de mãe camponesa negra e militar inglês branco, quando criança foi apresentado à música pela família materna. Daí vem também a espiritualidade da cultura africana. Ele viu seu pai poucas vezes durante a vida. Na adolescência, muda-se para Trenchtown, uma favela da capital Kingston.

Bob saiu da escola, mas sua mãe o obrigou a trabalhar como soldador. Aos 16 anos, ele grava sua primeira canção, "Judge Not" (1962). Com Peter Tosh e Bunny Wailer, forma "The Wailers". O grupo tinha bastante influência do gênero ska. Na década de 1970, no entanto, Tosh e Wailer seguem carreira solo. Surge "Bob Marley & The Wailers".

Até sua carreira solo, Bob esteve cercado por grandes músicos. Vivendo entre Jamaica, Inglaterra e Estados Unidos, o artista teve onze filhos (reconhecidos) e sofreu atentado. Em suas músicas, fala sobre liberdade, amar e sermos amados, "vai ficar tudo bem" e "levante, resista: lute pelos seus direitos!".

Num período de movimentação política na Jamaica, ele pediu por justiça social e paz. Em 1978, ganhou a "Medalha da Paz" das Nações Unidas para o Terceiro Mundo. Adepto da religião Rastafari a maior parte de sua vida, que tem como um dos lemas a união da negritude, Bob levou para sua arte a mensagem da divindade Jah. A maconha, para o artista, fazia parte dessa conexão divina.

Para Maria Juliana Linhares, etnomusicóloga, musicista e professora do curso de Música da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bob Marley se destaca por ter posto a Jamaica na pauta da cultura urbana no mundo e o reggae como gênero conhecido em todo planeta. "Bob traz um gênero das ruas, das periferias e do subúrbio de Kingstown. Algo muito regional, que se transformou numa referência pop. Ele acabou trazendo o reggae para os holofotes no mundo inteiro. Teve a oportunidade de representar seu povo e sua história", reflete.

Is This Love
Ao O POVO, a banda Nossa Praia, expoente da cena local no reggae, divide histórias de vida e ofício que se relacionam com o legado de Bob Marley. O quarteto lança novo single, "Tente ser (dub)", ainda neste mês.
"A primeira vez que ouvi Bob Marley foi aos dez anos, por meio de Gilberto Gil. Meu pai tinha o CD 'Kaya N'Gan Daya', de versões das músicas do álbum 'Kaya'. Comecei a ouvir e entender o reggae nas canções do Bob. Logo cedo, quis descobrir porque ele estava acima de outros nomes desse estilo musical e creio que cheguei numa conclusão. Além da sinceridade em suas letras, mensagens positivas, amor pelo trabalho e pelas pessoas, a sua banda 'The Waillers' era mestre no que fazia. Foi observando, não só a voz, como todo o instrumental, que decidi me tornar músico, para um dia fazer parte de um conjunto que me lembre esse sentimento".
— João Emannuel, baixista

"Minha primeira lembrança de Bob Marley é ouvindo 'No woman, No cry' em uma barraca de praia. Lembro de perguntar para meu pai quem estava cantando aquela música. Logo depois, eu já estava pesquisando. Ouvir o Bob é totalmente sensorial... O groove da banda, o timbre da voz, a força da letra. Já um pouco mais velho, descobri que, além de ser o rei da música, Bob também era o rei em buscar a união e a paz".
— Thyago Moura, voz

"Mesmo antes de gostar de Bob Marley, eu já escutava o rei do reggae! Em casa, tenho a influência do meu pai, amante do reggae... Vindo de família baiana, né!? Toda minha família gosta muito de Bob. Comigo não seria diferente. Passei muitos dias em frente ao som, brincando com encartes de vários discos. Agora mais velho, estudante de bateria e baterista, é inegável a influência do som dele na minha carreira musical. Bob consegue protestar, amar e muito mais em suas letras. Bob é de uma sensibilidade única e consegue atingir qualquer público. Como ele mesmo falava, 'quando a música bate, nós não sentimos dor'. E é muito isso! Bob faz muita falta pro cenário político musical do mundo! Que suas canções continuem passando de pai pra filhos. Como baterista, sempre tentei levar para a Nossa Praia uma sonoridade que tem muito a ver com os The Wailers, o timbre da bateria, a técnica de tocar o reggae, o famoso one drop beat. Bob é muita referência pra banda e nos ajuda muito ainda"
— Rafael Santana, baterista

"Bob Marley transcende os limites de gênero musical através de suas composições de cunho social. Não seria apenas um ritmo originário da Jamaica que o tornaria tão especial. As músicas dele transmitiam mensagens de união, paz e amor de uma forma universal! Era como se, em meio a todo caos em que o mundo estivesse vivendo, ele fizesse questão de lembrar que são conceitos simples que fazem o ser humano caminhar de forma harmônica, sem a necessidade de conflitos. Como músico, me aprofundei no estudo da sonoridade de Bob Marley por meio do baterista da Nossa Praia, o Rafael Santana. É empolgante ir aos ensaios ouvindo e comentando as apresentações de Bob. Ao assistir o documentário "Who Shot The Sheriff", uma frase de Bob relatada por um de seus amigos me inspirou muito. Dizia: 'A música precisa ser tocada, ela não pode parar! Quando uma música está tocando você não sente dor'. Esse é o meu sentimento sempre que toco"
— Heitor Nunes, guitarrista

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