"Museu do Abuso": Karine Alexandrino apresenta narrativa autobiográfica em exposição virtual

A instalação virtual "Museu do Abuso", de Karine Alexandrino e com curadoria de Regis Amora, ganha lançamento na próxima sexta-feira, 26 de março, às 19 horas

15:44 | Mar. 18, 2021

Por: Clara Menezes
'Museu do Abuso' será lançado na próxima sexta-feira, 26 de março (foto: Karine Alexandrino)

“Gostar de estar vivo dói”, escreveu Clarice Lispector, em “A Legião Estrangeira” (1964). A escritora brasileira não foi a única a evidenciar os sofrimentos da existência humana. O tema é universal: artistas de épocas e linguagens distintas expressam as aflições de sobreviverem em um mundo que somente parece piorar. Como exteriorizar as angústias provocadas pelos relacionamentos humanos? Como externalizar as inquietudes com um cenário sociopolítico cada vez mais abusivo?

Esses são questionamentos que rendem possibilidades infinitas, mas Karine Alexandrino encontrou uma forma de expressar seus próprios sentimentos e atenuar - em partes - suas inquietudes. Assim surgiu a instalação virtual “Museu do Abuso”, que será lançada na próxima sexta-feira, 26 de março, às 19 horas.

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“O abuso sempre foi algo recorrente em meus textos, nas minhas conversas com meus amigos, colegas, parceiros de trabalho e na minha vida pessoal. Até porque o próprio mundo sempre foi abusivo, a vida é abusiva. A gente só não usava essa palavra como utilizamos hoje”, indica a cantora, compositora e artista visual.

Suas experiências íntimas se tornaram inspirações para seus processos criativos. Na trajetória dela, a diferença entre os universos profissional e particular é difusa, talvez até imperceptível. Ela revela seus traumas e suas sensações mais profundas, que resultaram neste trabalho artístico.

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A exposição estreia com a divulgação do videoarte “Só tenho tristeza e um coração atropelado”, que compõe as obras do museu. Este conteúdo terá audiodescrição como forma de acessibilidade e também estará disponível no portal.

“Todos nós carregamos uma dor, já nascemos com ela. Na medida que o tempo passa, acumulamos mais dores. Às vezes, não temos tempo de analisar isso. Mas não existe cura: existe entendimento. Quando entendemos o que acontece, passamos a sofrer menos. Por isso, assumo que tenho um ‘coração atropelado”, explica o nome do vídeo.

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No site, será possível navegar por quatro salas diferentes, que constroem uma narrativa sobre as reflexões de Karine Alexandrino. O ambiente virtual recupera parte das características formais de um espaço expositivo físico.

O processo de construção da instalação começou a partir das várias divagações que costuma ter com o artista Régis Amora. Por meio dessas conversas, ele propôs organizar o material para a realização da iniciativa.

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“‘Museu do Abuso’ apresenta um recorte dos últimos cinco anos de idas e vindas de Karine e sua convivência com violências diárias advindas dos mais diferentes (e próximos) vetores. O trabalho é como um ajuste de contas da artista com traumas, violências e questões que atravessam o feminino”, conta o também curador.

Sua maior preocupação durante o projeto curatorial foi a de amplificar os conceitos propostos por Karine Alexandrino e adotar um posicionamento sensível. “As questões estéticas e conceitos que o público poderá ver são nosso gesto político, nosso manifesto estético”, comenta.

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De acordo com ele, foi necessário realizar um trabalho minucioso para recuperar algumas imagens. “É um acervo pessoal dela. A maior parte das obras foi construída inconscientemente, sem câmera fotográfica, sem intenção de ser uma fotografia para uma exposição. E é aí que está: a narrativa pessoal também é performativa em alguns aspectos", revela.

A artista costuma utilizar suas experiências de vida para abordar aquilo que só pode ser compreendido pela arte. “A trajetória artística da Karine se confunde com sua trajetória pessoal. Ela tem uma obra que costura perturbação, histeria, deboche, desamores. Isso está nas músicas, nos textos nas fotografias”, explica Régis Amora.

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Apoiado pela Secretaria Estadual de Cultura do Ceará (Secult-CE), através da Lei Aldir Blanc, o projeto surge de vivências íntimas, mas dialoga com sentimentos universais que perduram há séculos entre as pessoas. “O abuso está nas relações interpessoais, na questão do poder, da dominação. Está no sistema mundial. Está na família, nos relacionamentos amorosos. É uma questão profunda e antiga, que está na história do mundo e da humanidade”, ressalta Alexandrino.

Museu do Abuso

Quando: sexta-feira, 26 de março, às 19 horas
Onde: estreia no canal do Youtube de Karine Alexandrino; exposição estará disponível no site

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