Mestra da Cultura do Ceará, Maria Cândido morre aos 82 anos

Ao longo de sua vida, Maria Cândido foi reconhecido pelo trabalho em barro, que hoje é exposto em vários países

Mestra da Cultura do Ceará, Maria de Lourdes Cândido morreu na manhã desta quinta-feira, 11 de março. A artesã de Juazeiro do Norte se tornou conhecida pelas suas criações em barro. Ela faleceu devido a um câncer no ovário, que já enfrentava há 1 ano. A Secretaria de Cultura do Estado do Ceará lançou uma nota de pesar em seu site, agradecendo o legado deixado pela Mestra.

Ao longo da vida, Maria Cândido passou por inúmeras feiras, salões e exposições. Seus trabalhos foram expostos permanentemente para venda na Central de Artesanato do Ceará (Ceart), em Fortaleza. Atualmente, as peças feitas por ela estão espalhadas em coleções públicas e particulares no Brasil, Estados Unidos e diversos países da Europa.

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“Me mostra uma luz meu Deus, meu pai, que eu preciso ajudar João a criar nossos filhos”. Esse foi o apelo de Maria de Lourdes Cândido, em 1968, para conseguir vestir, alimentar e educar as quatro crianças que corriam pela casa e a que estava para nascer. Enquanto o Ato Institucional Número Cinco tinha sido decretado no Brasil, a família morava em um sítio e contava minuciosamente os gastos para viver.

Aos sábados, Maria caminhava com seus filhos em direção ao Centro de Juazeiro para fazer as compras. Até que uma vez, as meninas ficaram encantadas por um conjunto de panelas de barro. Como o dinheiro era contado, não tinha como comprar, mas a família morava perto de um barreiro onde o gado bebia água e foi assim que Maria começou a produzir as peças.

“Colhi aquele barro. Eu vi as coisinhas feitas no armazém e fui inventar. Fiz os brinquedinhos para eles: panelinha, pote, pratinhos, cadeira, fogão. As coisas de miudezas. Fazia para eles brincarem pois assim tinha mais liberdade para cuidar da roça e da luta de casa”, explicou Maria de Lourdes Cândido, em entrevista dada ao OPOVO em 2017.

Logo, todos ao redor se encantaram pelas peças feitas por Maria, que passou a vender e ter encomendas de toda a Região do Cariri. Em 2004, a artesã recebeu o título de “Mestra da Cultura” em reconhecimento a seu trabalho artístico com o barro cozido. Foi casada com João Cândido, com quem teve onze filhos. O conhecimento foi repassado para a família inteira, incluindo noras e genros.

A neta de Maria, Daiane Cândido, aprendeu com 10 anos a molhar as mãos e modelar. “Era divertido, gostoso. Ela sabia ensinar cada detalhe com calma, com amor. Era lindo ver ela trabalhando, você sentia amor no que ela fazia”, comenta a neta. Para ela, o maior legado deixado pela avó é de sempre batalhar, fazer tudo com amor e ter fé.

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