Artista cearense distribui outdoors em Fortaleza questionando a memória travesti

Em cinco locais de Fortaleza é possível encontrar as indagações da artista visual Sy Gomes

20:26 | Dez. 08, 2020

Por: Isabella von Haydin
Me vejam de longe - Outdoor travesti na avenida Washington Soares (foto: Muriel Cruz @mumutante / Divulgação)

Em setembro de 2019, Sy Gomes, 21 anos, cursava na Universidade Federal do Ceará (UFC) a disciplina de performance, na época ministrada pela professora Andréia Pires, mestre em Artes pelo Programa de Pós Graduação em Artes UFC. A cadeira faz parte do Instituto de Cultura e Arte (ICA) e a levou a refletir sobre seus processos enquanto artista visual até chegar no tema memória travesti. Hoje, Sy é responsável pelo projeto "Me vejam de longe - Outdoor travesti" que preenche a Cidade com as vozes silenciadas pela violência.

Em Fortaleza, cinco outdoors foram colocados em locais estratégicos, como vias de grande circulação e em zonas de prostituição urbana, áreas que apresentam maior vulnerabilidade social à população transgênero. Cada uma dessas telas a céu aberto porta uma frase. São elas: “Procura-sy travestis vivas no estado do Ceará”, “Procura-sy homem trans que abra as portas de um novo mundo”, “Procura-sy travesti viva que com sementes crie um jardim” e “A cada travesti viva, cria-sy um novo mundo”.

A jovem contou com o apoio da artista Ella Monstra para realizar a diagramação. Em entrevista para O POVO, Sy lembra que o projeto surgiu com suas perguntas a respeito de como a memória se constitui. “Também sou historiadora e comecei a me perguntar porque os homens brancos são tão lembrados pelo estado. Eles nomeiam ruas, prédios, estátuas, praças... Já nomearam até cidades e rios“. Sy ainda relata que gostaria de ser lembrada pelo que é efêmero e urbano. “Isso que se esvazia em poucos segundos porque, na minha cabeça, a minha vida também tinha essa velocidade, essa efemeridade. Assim comecei fazendo lambes, depois panfletos e agora outdoors“, reflete ela.

Sy também comenta sobre o uso da palavra “travesti”, que simboliza o gênero com o qual se identifica e com frequência é usado de forma pejorativa. “Se trata de um gênero totalmente brasileiro e causa um estranhamento positivo no sentido de ensinar que é legítimo se identificar assim”, compartilha a artista.

O projeto é um alerta sobre o número de pessoas da letra T (de acordo com a sigla LGBTQIA+) que são assassinadas anualmente no Brasil, país líder no ranking da ONG Transgender Europe (TGEu), que monitora vidas trans no mundo. (Colaborou Luiza Ester/ Especial para O POVO)

Onde encontrar as artes do projeto "Me vejam de longe - Outdoor travesti", exposto na cidade até o dia 22 de dezembro:
- avenida Washington Soares, 447
- rua dr. José Lourenço, 224
- avenida Godofredo Maciel, 23
- avenida Bernardo Manuel, 627
- avenida Visconde do Rio Branco, 473.