Quino, criador da "Mafalda", morre aos 88 anos; confira homenagens

Considerado um dos mais importantes cartunistas da América Latina, Quino deixou um legado extenso por meio de suas criações

Em 1964, o mundo conhecia pela primeira vez uma personagem que se tornaria símbolo para diversas gerações: Mafalda. A menina de apenas seis anos, com sua aparência inocente, era uma questionadora. Não queria apenas entender os problemas ao seu redor, mas também sentia que precisava resolvê-los. Entre a Guerra Fria, a Guerra do Vietnã, o movimento hippie e os regimes ditatoriais da América Latina, seu universo tinha que ser mudado. O criador dessa história, Joaquín Salvador Lavado Tejón - ou Quino - morreu nesta quarta-feira, 30, aos 88 anos, e deixou um importante legado para a sociedade.

A informação sobre o falecimento foi confirmada por seu editor, Daniel Divinsky, por meio do Twitter nesta quarta-feira, 30. A causa de morte ainda não foi confirmada. "Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo o lamentarão", escreveu Divinsky.

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Nascido em 1932, em Mendonza, na Argentina, Quino utilizou sua arte para questionar. Política, desigualdades sociais, relações de gênero e a violência eram apenas alguns dos temas que abordavam de forma recorrente. “Com sua morte, o mundo está de luto pela perda de seu melhor cartunista. Ao meu ver, foi o mais talentoso, criativo, detalhista e sútil de todos”, afirma o chargista Clayton Rebouças, do O POVO.

Durante os nove anos que trabalhou nas tirinhas de Mafalda, entre 1964 e 1973, consagrou a personagem ao lado de outros nomes conhecidos, como o Charlie Brown. Após esse período, as histórias da menina curiosa cessaram, com retorno apenas em datas especiais. Mas, cinco décadas depois, as tirinhas continuam repercutindo. “A presença dela era constante no meu tempo de escola nas páginas dos livros de português. É uma personagem incrível”, diz Jeanni Cordeiro Barros, pesquisadora licenciada em Artes Visuais.

“Dentro da minha pesquisa, embora o foco seja as artistas mulheres do Ceará, passo também pela sexualização das personagens femininas. A Mafalda fugia completamente disso e trazia um discurso muito importante em tirinhas curtas. É uma pena o falecimento, mas o legado dele será eterno”, contempla a profissional.

As tirinhas da Mafalda faziam fortes críticas à realidade da época. Até hoje, continuam atuais
Foto: Reprodução
As tirinhas da Mafalda faziam fortes críticas à realidade da época. Até hoje, continuam atuais

Depois de 1973, permaneceu criando conteúdo de humor. Contribuiu com charges, tirinhas e outros desenhos para publicação em jornais. E nunca perdeu o senso crítico que permeava as narrativas da sua mais famosa personagem. “Ainda temos muito o que nos debruçar sobre seu trabalho, que teve importância fundamental em uma época muito difícil em nosso continente. Não hesito em dizer que a obra de Quino fica como um patrimônio da humanidade”, indica o ilustrador Rafael Limaverde.

O artista ainda recorda como conheceu o profissional argentino. “Conheci ele antes da Mafalda. Eu era um aspirante a cartunista e me deparei com um livro seu de cartuns intitulado ‘Quinoterapia’, que é uma seleção de cartuns sobre medicina e psicoterapia. É sensível, cômico e crítico”, lembra. Segundo Rafael, o homem foi uma influência fundamental para seguir sua carreira. “É professor que se foi, mas que estará por uma eternidade nos fazendo rir e questionar”, finaliza.

Joaquín Salvador Lavado Tejón foi um mestre para as próximas gerações de sua profissão. O quadrinista Daniel Brandão, por exemplo, revela o impacto que esse legado teve em sua trajetória. “Ele me ensinou que as tiras não precisam ser sempre engraçadas, bobas ou infantis. Pode-se falar de tudo nas tiras, inclusive sobre questões sociais e econômicas”, comenta.

A importância de Quino na vida de Daniel Brandão é tão grande que, quando sua filha nasceu, as pessoas que faziam visitas ganhavam tiradas da Mafalda de presente. “O que eu e minha esposa queríamos era registrar que desejávamos para a nossa filha o mundo que ele idealizava e tentava transformar com seu trabalho”, explica. O artista externaliza o que todos sabem: “Quino é imortal!

Colaborou João Gabriel Tréz

Nas redes sociais

Após o editor, Daniel Divinsky, confirmar a morte de Quino em seu perfil no Twitter, pessoas estão prestando homenagens ao ilustrador e quadrinista. Até o momento de produção desta matéria, o termo “Mafalda” contava com mais de 110 mil tweets, enquanto “Quino” tinha aproximadamente 160 mil.

Sidney Gusman, editor da Mauricio de Sousa Produções, afirmou: “Os quadrinhos perderam mais um gigante”. Outros ilustradores também demonstraram a relevância que o artista teve em suas trajetórias, como Laerte e André Dahmer.

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