Cinemateca Brasileira, que será assumida por Regina Duarte, enfrenta situação delicada

Equipamento reúne a memória audiovisual do país e vem sofrendo com más condições técnicas e falta de orçamento. Abaixo-assinado pede "socorro"

“Cinemateca Brasileira pede socorro” é o título direto e urgente do abaixo-assinado lançado em favor do equipamento federal no último dia 15. Sofrendo com problemas estruturais, organizacionais e de orçamento, o espaço de salvaguarda do acervo da história do audiovisual brasileiro enfrenta situação limite. Com o anúncio na manhã desta quarta, 20, que Regina Duarte deixaria a Secretaria Especial da Cultura para assumir o equipamento, a pergunta que se impõe é: se nos dois meses enquanto secretária a atriz não demonstrou muita presença, o que esperar da gestão de Regina em um equipamento que pede socorro?

A carta aberta afirma que, além de não ter recebido em 2020 nenhuma parcela do orçamento anual destinado a ela - no valor de R$ 12 milhões -, a Cinemateca vem passando por processo de enfraquecimento institucional e, ainda, está com acervo em perigo por conta não somente de sucessivos incêndios ocorridos em sua estrutura nos últimos anos, mas também uma enchente ocorrida em fevereiro deste ano. O texto ressalta que ela “tem sob sua guarda o maior acervo audiovisual da América do Sul”. São um milhão de documentos e 250 mil rolos sob os cuidados da instituição.

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Diretor da Cinemateca Brasileira entre 2002 e 2013, Carlos Magalhães explica que a instituição “é responsável pela guarda, preservação e difusão da memória do audiovisual brasileiro”. "Ela tem características bastante técnicas, inclusive, porque ela tem uma ação de preservação desse patrimônio, que é constituído por diversas mídias diferentes", ressalta. O ex-gestor aponta, ainda, a que o acervo sob responsabilidade da Cinemateca “deve ter um uso social, então ela tem que desenvolver ações de promoção e divulgação desse acervo. É uma instituição que tem obrigação de se relacionar com a formulação de pensamento e crítica que deve permear também a produção cultural de um País”, afirma.

É um cenário bem diferente do visto pelo secretário da Cultura do Ceará Fabiano Piúba em visita que fez à instituição no ano passado. “Ela já estava completamente isolada e sem atividades. Em vez daquela Cinemateca que conheci antes, de ter uma programação cultural intensa e uma área técnica de preservação e restauro muito ativa, parecia um cemitério”, lembra o titular da Secult. É por isso que Fabiano demonstra preocupação com a Cinemateca “considerando a ausência e a incapacidade de gestão que a Regina Duarte apresentou em relação ao período em que esteve como secretaria especial”, aponta.

“Como cidadão, lamento o que está acontecendo com a cultura de um modo geral e como ela está sendo tratada no Brasil. essa atitude é mais uma demonstração explícita de descaso com a cultura e com a população brasileira”, avalia Carlos. “As declarações da titular da secretaria da Cultura que saiu já eram um desastre. Torço para que aconteça um milagre e ela se transforme, mas como está difícil, parece que esse desastre vai simplesmente mudar de lugar”, avança o ex-gestor.

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“O que está acontecendo com a Cinemateca Brasileira é uma tragédia. É uma instituição de grande importância na preservação da memória audiovisual brasileira. Os atuais gestores estão mantendo com muita dificuldade, inclusive fazendo apelos, ou seja, uma situação muito difícil”, ressalta o diretor cearense Rosemberg Cariry. Para o cineasta, “o que está se fazendo com a cultura no Brasil atualmente é um crime, é a destruição de uma nação”. Questionado sobre o cenário futuro da nova gestão da Cinemateca, Rosemberg é taxativo: “Não espero nada dessa senhora”.

O abaixo-assinado

O abaixo-assinado informa, ainda, que o contrato com a Organização Social que administra o equipamento, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), foi encerrado pelo Governo Federal e que a indefinição de vínculos da Secretaria Especial da Cultura, ligada aos ministérios da Cidadania e do Turismo, “dificulta a atuação do governo com a urgência necessária para impedir a falência da Cinemateca”. “Se a indiferença com o futuro do patrimônio audiovisual brasileiro persistir, as consequências serão ainda mais graves. Sem os cuidados dos técnicos e as condições de conservação todo o acervo se deteriorará de modo irreversível. Nesse caso, quando chegar o socorro de Brasília, as imagens do nosso passado terão se tornado espectros de nossa falência como nação”, afirma o texto. Veja aqui o abaixo-assinado.

A carta é assinada coletivamente por nomes como Lygia Fagundes Telles (ex-presidente do Conselho da Cinemateca Brasileira), Ismail Xavier (ex-presidente do Conselho da Cinemateca), Walter Salles (ex-membro do Conselho da Cinemateca) e instituições como Associação Brasileira de Preservação (ABPA), Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE), Cinemateca do Museu de Arte Moderna – Rio de Janeiro, Cineteca Nacional de Chile e Cinemateca Portuguesa.

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