Livro de Magela Lima aborda as influências do "teatro do Nordeste" na produção nacional

O livro "Os nordestes e o teatro brasileiro", escrito por Magela Lima, é a tese de seu doutorado em Artes Cênicas, feita na Universidade Federal da Bahia (UFBA)

16:43 | Mai. 20, 2020

Por: Clara Menezes
Magela Lima é jornalista, doutor em Artes Cênicas e ex-secretário da Cultura de Fortaleza (foto: Divulgação)

Na década de 1940, uma geração de jovens nordestinos se mobilizou para levar aos palcos os temas populares da região. Inspirados nos elementos da própria cultura, da fala à estética, dramaturgos como Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho integrariam o que foi chamado de “teatro do Nordeste” por Paschoal Carlos Magno.

O principal marco para o início do movimento foi quando, em 1946, o acadêmico de direito, Hermilo Borba Filho se tornou diretor do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), precursor do Teatro Popular do Nordeste (TPN). Ele propôs diversas mudanças na produção, como a distribuição de ingressos gratuitos, o incentivo de novos autores e cordelistas, entre outras. São características estabelecidas há quase seis décadas que até hoje definem e estruturam parte da criação regional.

Esse movimento é o ponto de partida da pesquisa do jornalista e professor universitário Magela Lima. Em seu livro “Os nordestes e o teatro brasileiro”, lançado esse mês, analisa como o Nordeste conseguiu demarcar um espaço na produção nacional de artes cênicas. A obra foi sua tese de doutorado em Artes Cênicas, realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Magela Lima, que foi editor do Vida&Arte e também já ocupou o cargo de secretário municipal de cultura durante a primeira gestão do prefeito Roberto Cláudio (PDT), defende que a linguagem criada no “teatro do Nordeste” ainda existe. “É um teatro popular, com temas populares, de traço regionalista, que vai ter um diálogo estético com essas manifestações cênicas da tradição popular, como o Bumba meu boi e o pastoril”, explica.

Essa forma de expressão artística culminou em uma das mais importantes peças criadas no grupo: “O Auto da Compadecida”, escrito por Ariano Suassuna. Antes concentrado apenas no Nordeste, o movimento obteve destaque nacional após o espetáculo ganhar diversos prêmios no Rio de Janeiro. “A ida ao Rio é o marco da nacionalização do 'teatro do nordeste'. A partir dali, tornou-se brasileiro”, afirma. Depois desse momento, a obra passa a ser interpretada também por outras companhias.

A A fama que Ariano Suassuna ganhou mostra que os movimentos de arte de outras regiões, além da Sudeste, são importantes. “Existe uma lógica nova de criação. Quem são esses artistas? Quais são as referências deles? Tem um teatro absolutamente potente sendo feito”, diz.

A produção cultural, porém, não é homogênea. Por isso, o pesquisador optou por colocar “Nordeste” no plural. “Não dá para a gente imaginar que o Nordeste tenha um sentido único. Nem o ‘teatro do nordeste’ tem uma única possibilidade, existe uma imensidão”, informa.

No livro, compreende-se como uma manifestação artística tão regional se tornou referência para todo o país até os dias atuais. A linguagem, idealizada por Hermilo Borba Filho e divulgada nas peças da época, ganha uma valorização que existe ainda hoje.

Os nordestes e o teatro brasileiro

Quanto: R$ 52,90, o livro físico, e R$ 25,50, em formato Kindle
Onde: na Paco Livros ou na Amazon