Dica de leitura para a quarentena, confira a resenha do livro "Pequeno Manual Antirracista"

Leitura essencial para quem deseja desconstruir preconceitos e compreender um pouco a história do racismo no Brasil e suas vertentes, "Pequeno Manual Antirracista" é uma dica de leitura para os dias de isolamento social
Autor Lígia Grillo
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Você se considera antirracista? No livro “Pequeno manual antirracista”, Djamila Ribeiro propõe questionamentos que envolvem a sociedade e o racismo nela intrínsecos. De acordo com dados da Pesquisa Datafolha de 1995, a mais recente publicada sobre o assunto, a cada 23 minutos um negro morre no Brasil. Após os países da África, o Brasil é o local que mais tem negros em sua população, que soma cerca de 56%. Além disto, em pesquisa de campo, o Datafolha registrou que 89% das pessoas afirmam que existe racismo no Brasil, mas que 90% se identifica como não racista. Como diz a escritora e ativista norte-americana Angela Davies: não basta não ser racista, é necessário levantar a bandeira do antirracismo.

No começo do livro, Djamila escreve sobre a nossa história corrompida. Será que pode-se mesmo dizer que o Brasil foi "descoberto" pelos europeus? Como assim "descoberto", se já havia povos que viviam no País? Como foi o início da perseguição aos negros e a escravidão? Será mesmo que a escravidão terminou? É com estes questionamentos a escritora introduz o começo do livro e o conceito do racismo estrutural, no qual diz que, mesmo que você não se considere racista no pensamento, desenvolve discursos e atitudes que são racistas, em ações ações pertencentes à sociedade de forma estrutural

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Djamila, ao decorrer do livro, também questiona o porquê de o negro ser considerado diferente. A cor da pele não interfere no intelecto e nem em habilidades físicas, então, porque a sociedade age como se tal especificidade acontecesse? Além disto, ela também conta um pouco da sua própria história. Como mulher negra, muitas vezes, as pessoas não a aceitavam dentro da universidade, como mãe, mulher, negra e filósofa. “Você tem cara de que dança samba”, essa e outras frases relacionadas ao estereótipo da mulher negra foram ditas a ela, como se aquele não fosse o lugar dela. A autora também ressalta a importância urgente de a  população branca reconhecer seus privilégios. 

Djamila finaliza o livro enaltecendo autores negros que, na maioria das vezes, não recebem o mesmo destaque e reconhecimento que autores brancos. Quem melhor para falar sobre racismo e suas vertentes se não aqueles que sentem na pele a dificuldade de enfrentar diariamente a desigualdade racial da sociedade? 

Sua fala é racista?

Djamila ressalta a importância de se auto-perceber racista em falas e ações. É um exercício diário. Você sabia que muitos termos comumente usados em nossas falas no dia a dia têm origem racista? Conheça alguns deles:

Criado Mudo: a origem do nome veio de da época da escravidão, quando os negros eram chamados de criados e alguns passavam dia e noite imóveis ao lado da cama do “senhor” com um copo de água. Na época, eles tinham que ficar calados, mudos, porque alguns “senhores” achavam incômodo o fato de eles falarem. Muitos chegavam até a perder a língua;

Lista Negra: usar negro para descrever algo que é ruim tem peso negativo, tornando-o pejorativo.
Inveja branca: a ideia do branco como algo positivo é impregnada nessa expressão.
Denegrir: segundo o dicionário Aurélio, a palavra denegrir é definida por "tornar negro, escurecer". Substitua por difamar;

Mulata: a palavra vem de mula, um ser híbrido originado pela reprodução de burro com égua. Correspondia ao filho do homem branco com a mulher negra. Esqueça palavras como mulato, moreno (pele) e pardo. Se refira como negro já que dentro da população negra existem diversos tons de pele.
Não sou tuas negas: associa a mulher negra como objeto, como um ser que deve servir outro, ou que "faz tudo";

Mercado negro: o termo refere-se ao mercado paralelo, ilegal.

A coisa tá preta: você já ouviu alguém dizer isso quando as coisas começam a ficar ruins, certo? E novamente traz a imagem do negro como desagradável.

Cabelo ruim: não existe cabelo ruim. Existem cabelos afro, liso, crespo, cacheado, ondulado;

Tem um pé na cozinha: a expressão se refere à negra escravizada, que vivia para servir a família branca;

Da cor do pecado: normalmente usada como elogio, refere-se a uma pele branca queimada do sol. É uma objetificação do corpo negro. Não é um pecado ter a pele negra;

Meia tigela: os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje é usado para se referir a algo sem valor e medíocre.

Sobre a autora

Djamila Taís Ribeiro dos Santos nasceu em Santos, São Paulo, no dia 1 de agosto de 1980. É filósofa, feminista, escritora e acadêmica brasileira. É também pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Tornou-se conhecida no país por seu ativismo na internet, atualmente é colunista do jornal Folha de São Paulo. Em 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo. Djamila Ribeiro tornou-se o nome mais conhecido quando se fala em ativismo negro no Brasil e tem outras publicações como “O que é lugar de fala?” (2017) e “Quem tem medo do feminismo negro?” (2018).

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Racismo racismo estrutural Djamila Ribeiro conscientização

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