Qual a melhor série da atualidade? E por que é Better Call Saul

A quinta temporada de Better Call Saul terminou na última terça, 21. O crítico de cinema PH Santos explica a seguir por que vale a pena assistir cada minuto da série de Vince Gilligan

19:32 | Abr. 25, 2020

Por: PH Santos
O Ator Bob Odenkirk estrela a série como Saul Goodman (foto: Divulgação)

Vince Gilligan é o criador de “Breaking Bad”, um dos seriados mais aclamados por público e crítica de todos os tempos. Depois criou “Better Call Saul”, que descende de “Breaking Bad” a partir de um personagem só, o advogado Saul Goodman. Apesar de começo cambaleante, finalmente a partir da terceira temporada tudo começou a ir bem. A história correu e temos aqui um belíssimo microcosmo da série-mãe.

“Better Call Saul” está na quinta temporada, todas no Netflix, e a sexta já foi confirmada como a última. Ou seja, temos um bom passatempo para os fãs de “Breaking Bad” nas duas temporadas iniciais e depois um desvio grande nas pretensões para, aí sim, assumir sua carreira-solo, mas sem perder a conexão necessária com as origens justificando sua existência.

A dificuldade em criar conflitos a partir de personagens cujos finais já são conhecidos é gigante. Mesmo assim, modulando a tensão e trabalhando muito bem a calmaria, “Better Call Saul” prende o espectador episódio a episódio. Flashbacks pontuais nos convidam a entrar mais ainda na vida de cada personagem. Para abrilhantar os vários núcleos, temos personagens conhecidos, e queridos, sendo explorados como nunca haviam sido antes.

Saul Goodman, alter-ego de Jimmy McGill, vivido plenamente bem por um Bob Odenkirk merecedor de muitos prêmios por esse trabalho, às vezes assume a retaguarda para que personagens como Kim, Mike, Nacho, Gus Fring, etc., brilhem. O equilíbrio entre protagonismo proposto e protagonismo conquistado parece um balé da narrativa que nos conduz calmamente sem deixar espaços em branco por muito tempo. Cansado de um núcleo? Tudo bem, no episódio seguinte, a história te puxa pra outro. Sem cerimônias. O meio faroeste-noir-moderno (sim, estou criando isso agora), mantém a curiosidade em um nível constante. Nem lá em cima, nem lá embaixo. Constante.

“Better Call Saul” é daqueles contadores de história que fazem de casos simples os melhores, como McGill vendendo celular, por exemplo. Todo o estilo cinematográfico visto a partir da TV, concede ao seriado um clima de respeito, de seriedade, mesmo que muitas vezes o texto seja extremamente irônico e, por isso, cômico.

Vince Gilligan poderá visitar várias histórias em sua carreira, mas esse universo que compreende “Breaking Bad”, “Better Call Saul” e o filme “El Camino” é sua Capela Sistina. Ele demonstra entender cada detalhe como se cada cantinho do roteiro guardasse algo que a gente só vai conseguir acessar se ele deixar. Manter uma sequência de dez minutos quase sem diálogos e com ações sem pé nem cabeça, que vai fazer sentido dois ou três episódios depois, é arrojado e só pode nascer de quem tem total domínio de onde quer chegar. “Better Call Saul” tem disso e muito mais. Tem planos que, se estivessem no cinema, tranquilamente receberia indicação ao Oscar de Fotografia, afirmo sem pudor nem eufemismo.

O domínio de Gilligan é tamanho que, em um determinado episódio, Kim e Jimmy vão visitar uma casa. Eles se deslumbram com aquilo, mas não concluem a compra. Em toda a temporada (eu disse, toda a temporada), pequenos comentários que fizeram na visita à casa são revisitados em metáforas e alegorias que propiciam o andar da narrativa: o senhor que não quer ter sua casa desapropriada, o escovar de dentes entre o casal e o passado de Kim, que é visitado 5 temporadas depois como nunca havia sido. Em nenhum momento a série para pra explicar isso. Em nenhum momento há sequer o convite. Simplesmente está lá. É nosso. Aproveitemos.

Aproveitemos Better Call Saul. Vale cada minuto.