Presente no imaginário brasileiro, Zé do Caixão deixa legado no cinema nacional

Mojica foi tudo no entretenimento: roteirista, diretor, apresentador de TV, produtor, dublador, ator e personagem. Artista. Autodidata, aprendeu filmes dentro do cinema, direto dos bastidores

Nosso Charles Chaplin não faz comédia, faz terror, faz trash. José Mojica Marins não "apenas" criou filmes, ele viveu o próprio cinema por anos ao criar para si o personagem Zé do Caixão. Assim como Chaplin muitas vezes era confundido com o Carlitos, é impossível separar o José do Zé.

Mojica foi tudo no entretenimento: roteirista, diretor, apresentador de TV, produtor, dublador, ator e personagem. Artista. Autodidata, aprendeu filmes dentro do cinema, direto dos bastidores. Seu pai trabalhou em uma sala de cinema, permitindo que o filho acompanhasse as exibições desde a sala de projeção. Uma das brincadeiras era usar as sombras da projeção para contar suas primeiras histórias, que começaram a deixar de ser brincadeira quando ganhou uma câmera V-8.

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Dos filmes que Mojica assistia, se atraiu pelo trash, pelo escatológico e, amadoramente, começou a produzir os seus próprios. Assim seguiu, fazendo pequenos filmes, exibindo-os em festivais ou organizando os próprios quando não havia onde mostrar suas criações; uma marca de sua carreira, pois se não dispunha de algo, ia lá e assumia. Assim nasceu o Zé do Caixão para o filme "À Meia Noite Levarei Sua Alma" (1963) que, na falta de um ator disposto a se submeter ao Zé, trouxe pra si esse protagonismo e poucas vezes o largou desde então.

A ideia do Zé do Caixão veio de um sonho, onde um vulto de um coveiro o puxava para o próprio túmulo. Levou isso para o filme, escrevendo a história de um coveiro obcecado em gerar o filho perfeito, missão que continuou no filme "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" (1967) e se conclui (ou não) apenas em 2008 com "Encarnação do Demônio".

Seus filmes foram distribuídos na Europa e nos Estados Unidos. Como um bom cinema underground, teve várias obras e produções perdidas. Foi censurado diversas vezes, lançando depois vários desses trechos em "Delírios de um Anormal" na década de 70, fácil de encontrar no Youtube com legendas em inglês, o que representa bem essa internacionalização do cineasta.

Sua carreira seguiu visitando vários gêneros, se mantendo estranha sempre que possível e sendo uma das grandes inspirações até hoje para quem se propõe ao cinema marginal no Brasil. Fez inclusive pornochanchada, deixando sua marca em tão importante movimento do cinema brasileiro.

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Na TV, apresentando o saudoso Cine Trash, demonstrou seu repertório cinematográfico nos guiando por filmes de terror e horror. Antes dos intervalos, jogava maldições em quem ousasse mudar de canal. “Você!”, gritava apontando para a câmera, “Você! Se colocar a mão no controle remoto, todos os seus dedos irão virar minhocas comedoras de olhos. Não mude de canal”, e então os comerciais começavam.

Não se engane, o trash não é fácil quando se quer ser assim. Mas para Mojica, o trash era além de produzir algo, era estilo de vida. Uma vida dedicada à arte, ao cinema e à sua criatura, o Zé do Caixão.


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